Na Monarquia, a
esperança
Ronaldo Ausone Lupinacci*
Não
sou pessimista, mas penso que o atual terremoto político e econômico está
apenas começando. É duro ver a realidade tal como ela é. Contudo, se não a
examinarmos objetivamente não desvendaremos os caminhos para modificá-la.
Ora,
creio ser incontroverso, ao menos para os espíritos sensatos, decorrer a atual
crise, em grande parte, de nossas decrépitas, corruptas, e esclerosadas
instituições políticas republicanas, viciadas desde o nascedouro pelas
concepções errôneas que as edificaram, e, pelos interesses que as sustentaram.
Embora,
de si mesma, a forma republicana seja em teoria legítima, e, possa na prática ser,
também, a mais indicada conforme os tempos, lugares, circunstâncias e povos, as
repúblicas fabricadas em série no mundo ocidental nos últimos três séculos
surgiram infectadas pelo vírus revolucionário que se espalhou a partir da
França em 1789.
Os
principais erros doutrinários que conspurcaram o ambiente ideológico e social –
e, pois, o político – consistiram no igualitarismo e no liberalismo
relativista, falsos valores metafísicos portadores do ódio à monarquia e à
aristocracia, e, à aversão aos princípios morais perenes da civilização cristã.
Mas,
a já longa duração das repúblicas, ao lado da detração dirigida à monarquia
mediante propaganda mentirosa espalhada mundo afora ao longo de várias
gerações, fez com que muitas pessoas reputem inviável o retorno ao regime
monárquico.
Admito
que tal mudança seja difícil nos países que, desde as respectivas
independências, nasceram sob a forma republicana, como é o caso dos Estados
Unidos, e de todas as nações da América espanhola, por exemplo, porque nunca
tiveram reis, salvo os distantes monarcas ingleses e espanhóis.
Mas,
não no Brasil, que afora a longa tradição política portuguesa, viveu no regime
monárquico até 1889, e, ademais, tem a família imperial legítima dos Orleans e
Bragança, descendentes diretos dos soberanos lusos.
Portanto,
sob este aspecto, de grande importância, aliás, inexiste dificuldade para o
retorno ao Império, nem tampouco controvérsias dinásticas. Há legítimo
sucessor, o Príncipe Imperial Dom Luiz de Orleans e Bragança, e, existem os
sucessores eventuais, seus irmãos Bertand e Antonio, além dos sobrinhos, em
caso de falecimentos.
Embora
o retorno ao regime monárquico ainda possa demorar algum tempo, isto é, até que
a opinião pública – depois de fustigada pela dolorosa linguagem dos fatos – se
convença da conveniência, e, mais, da necessidade da restauração, revela-se
oportuna a exposição de algumas ideias e algumas realidades aptas a despoluir
os espíritos.
Em
entrevista ao jornal Tribuna da Bahia,
o presidente da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Viana
Queiroz, comparando a caótica situação do Brasil atual com a da Espanha logo
após a morte do ditador Francisco Franco, disse que aquele país só se livrou
das convulsões que o sacudiam graças à existência do rei (Juan Carlos), sem o
qual não teria sido possível construir o Pacto de Moncloa.
Disse
Viana que “lá tinha um rei”, fator de aglutinação e de unidade nacional, e, que
nós não teríamos isso, enfrentando um desafio ainda maior.
Vê-se,
pois, que a Espanha, depois de um período republicano e de outro ditatorial de
transição, retornou à monarquia, a demonstrar que as vias da História comportam
vais e vens.
Por
outro lado, cabem um reparo, e, um comentário à fala de Luiz Viana: o reparo é
que nós temos, sim, um monarca legítimo que é o mencionado Dom Luiz; o
comentário é o de que se tivéssemos conservado a forma monárquica nunca
teríamos caído no precipício em que nos lançou a República.
Vejam
os leitores que alguns dos países mais civilizados, prósperos e estáveis
conservam até hoje suas monarquias como é o caso da Inglaterra, do Japão, da
Holanda, da Suécia, da própria Espanha, entre outros.
Importa
salientar, também, como seria a restauração monárquica no Brasil. Segundo a
orientação da Casa Imperial chefiada por Dom Luiz, e consenso unânime dos
monarquistas brasileiros, não será monarquia absoluta, e sim monarquia mista,
isto é a combinação da monarquia e da democracia, segundo o que vier a ser
estabelecido em futura Constituição, adaptada da Carta Magna de 1824 promulgada
por Dom Pedro I.
Neste
modelo entra o elemento sui generis
do Poder Moderador, exercido pelo Imperador, ao lado dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário. O Poder Executivo, embora atribuído ao Imperador, por
delegação será exercido pelo Governo, constituído pela maioria parlamentar.
O
Poder Legislativo terá feição bicameral, com Câmara dos Deputados e Senado
Federal, à semelhança do que vigora atualmente.
Completa
o quadro das instituições políticas da monarquia constitucional parlamentarista
o Conselho de Estado, composto por pessoas da mais alta competência e
representatividade social incumbidas de auxiliar o Imperador em suas decisões.
Conviveram,
assim, harmonicamente em tal regime e sistema, o elemento perene representado
pelo Imperador, ao lado do elemento mutante representado pelos eleitos para a
Câmara dos Deputados através do voto popular, e, pelo Governo formado pela
maioria parlamentar.
Este
mecanismo, acima delineado resumida e esquematicamente, funcionou muito bem
durante todo o Segundo Império, o período mais glorioso de nossa História.
O
leitor poderá encontrar informações bem mais pormenorizadas nos excelentes
livros publicados pelo historiador contemporâneo Armando Alexandre dos Santos,
que estudou toda essa matéria em profundidade¹.
Sobre
as vantagens das monarquias hereditárias em relação às repúblicas, também muito
esquematicamente importa acentuar o seguinte: a) preservação da unidade, porque
o monarca não tem vinculação político-partidária ou regional; b) a
independência do rei ou imperador, que não deve favores a quem quer que seja;
c) a continuidade nas metas de governo, porque subsistem muito além dos curtos
programas republicanos; c) a representatividade, porque o soberano representa
toda a Nação, encarada como família; d) maior extensão das liberdades públicas;
e) maior capacidade de sustentar medidas impopulares quando necessárias, como
aconteceu durante a Guerra do Paraguai; f) menor custo principalmente se
comparada às repúblicas compulsivamente perdulárias e corruptas como sempre foi
a nossa.
Os
monarquistas brasileiros, depois de um século de silêncio imposto pela
República de nulidades triunfantes (segundo a expressão do republicano
arrependido Ruy Barbosa), recuperaram a liberdade de manifestação com a
Constituição de 1988, e, de lá para cá o movimento monarquista composto por
inúmeras entidades fiéis à Família Imperial vem crescendo, e, encontrando
grande receptividade principalmente junto ao chamado “povão”.
Chegará
o dia em que o clamor nacional, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, trará a
restauração do Império. É questão de tempo.
*
O autor é advogado e pecuarista.
¹https://ihgb.org.br/perfil/userprofile/AASantos.html .
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