Péricles Capanema
Em 16 de julho, na reunião de abertura
do 23º Encontro do Foro de São Paulo (organização fundada por Fidel Castro e
Lula para coordenar ações de partidos esquerdistas da América Latina),
realizada em Managua, capital da Nicarágua, a senadora Gleisi Hoffmann,
presidente do PT, entre outras abominações, das quais algumas abaixo, apoiou
enfaticamente a farsa da Constituinte venezuelana: “O PT manifesta seu apoio e
solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro.
Temos a expectativa de que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma
consolidação cada vez maior da revolução bolivariana”. Foi adiante na mesma
direção: “Aproveitamos para manifestar nosso irrestrito apoio e solidariedade
aos companheiros do Partido Comunista Cubano. Este ano comemoramos o centenário
da Revolução Russa de 1917 e também o cinquentenário da queda em combate do
guerrilheiro heroico o comandante Ernesto Che Guevara”. De novo o PT manifesta,
em autenticidade reveladora, seus pendores tirânicos na imposição do programa
socialista, orgulhoso de se colocar na esteira do comunismo russo e do
comunismo cubano.
Em 30 de julho, o Conselho Eleitoral da
Venezuela (CNE) anunciou que 41,53% dos eleitores elegeram a nova Assembleia
Nacional Constituinte. Teriam comparecidos 8.089.320 eleitores, 41,53% do
total. A oposição afirma, houve fraude escandalosa. O comparecimento terá sido
de 12,4% do eleitorado. Leopoldo López e Antonio Ledezma, líderes da oposição,
voltaram a ser presos, provocando grandes reações internas e internacionais O
governo venezuelano, indiferente, com a medida deixava claro a intenção de
radicalizar no caminho encetado.
A Conferência Episcopal Venezuelana, em
sua conta do Twitter, imediatamente postou pungente súplica a Nossa Senhora de
Coromoto, padroeira da Venezuela: “Virgem Santíssima, Nossa Senhora de
Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do
comunismo e do socialismo”. Poucos dias antes, Dom Jorge Uroza,
cardeal-arcebispo de Caracas, advertiu, “o país está em ruínas e as pessoas
estão morrendo de fome”. Alertou ainda o Purpurado: “Falta comida, remédios,
temos a inflação mais alta do mundo, o povo rechaça o governo”.
No Exterior, a Rússia tomou clara
posição a favor de Nicolás Maduro: “Esperamos que aqueles membros da comunidade
internacional que querem rejeitar os resultados das eleições venezuelanas e
aumentar a pressão econômica sobre Caracas mostrem contenção e renunciem a
estes planos destrutivos”, advertiu comunicado do Ministério do Exterior da
Rússia. Cuba, Equador, Nicarágua na mesma direção de respaldo vergonhoso.
No Brasil, PT, PC do B, PSOL e PCB
aprovam a tirania bolivariana. José Dirceu foi cinicamente claro: “O massivo
comparecimento à eleição da Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo
presidente Nicolás Maduro, abre um caminho institucional e democrático para
resolver a crise venezuelana”. Ainda no Brasil, o PDT e Rede evitam se
posicionar por razões facilmente conjeturáveis; deixar público o que sente o
coração pode escandalizar e tirar votos. Por seu lado, até agora, a CNBB,
histórica companheira de viagem do PT, também não se posicionou. Entristece a
no mínimo lerdeza da CNBB em seguir o bom exemplo de sua irmã, a Conferência
Episcopal Venezuelana. Tomara não caminhe, como é o deprimente hábito, nos
passos do PT acolitando uma ditadura assassina, que esfomeia o povo, segundo
palavras do cardeal-arcebispo de Caracas.
O governo brasileiro age bem, não
reconhece a legitimidade da Constituinte. Diz nota do Itamaraty de 1º de agosto:
“O governo brasileiro repudia a recondução ao regime fechado de Leopoldo López
e Antonio Ledezma, ocorrida um dia após a votação para a escolha de uma
assembleia constituinte em franca violação da ordem constitucional venezuelana.
O Brasil solidariza-se com o sofrimento dos familiares de Antonio Ledezma e
Leopoldo López, em particular suas mulheres, Mitzi Capriles e Lilian Tintori. A
prisão de dois dos mais importantes opositores ao governo do presidente Nicolás
Maduro é mais uma demonstração da falta de respeito às liberdades individuais e
ao devido processo legal, pilares essenciais do regime democrático. O Brasil
insta o governo venezuelano a libertar imediatamente López e Ledezma”.
O Brasil agirá em sintonia com vários
países da América Latina na condenação às atitudes tirânicas do governo
venezuelano. Ótimo. Na mesma direção, agirá a Comunidade Europeia. De maior
importância, os Estados Unidos têm linguagem e ação mais contundente. O
presidente Donald Trump declarou pouco dias antes da votação para a
Constituinte: “Ontem, o povo venezuelano
mais uma vez deixou claro que apoia a democracia, liberdade e a lei. Ainda
assim suas ações fortes e corajosas continuam sendo ignoradas por um líder ruim
que sonha em se tornar um ditador. Os Estados Unidos não ficarão parados
enquanto a Venezuela desmorona. Se o regime de Maduro impuser sua Assembleia
Constituinte em 30 de julho, os EUA irão tomar ações econômicas fortes e
rápidas". Já foram decretadas sanções duras. Outras virão. Condenações e
sanções de países de regime democrático e de organizações internacionais de
relevo estão prometidas, certamente acontecerão com efeitos benéficos.
Visto isso, o que
faz aqui o título do artigo? Tudo, embora à primeira vista possa parecer o
contrário. As por ora medidas tomadas pelos grandes do mundo em defesa do
pequenino aos olhos dos potentados, esfomeado e tiranizado povo venezuelano são
insuficientes. Gritantemente insuficientes.
Pilatos diante da
turba enfurecida, reconheceu a inocência de Nosso Senhor, aliás solar. É juízo
de um espírito que via com retidão e justeza. Representava ali o maior poder da
Terra, falava em nome da justiça e nada fez de eficaz para defender o Justo, a
seus olhos pobre um desvalido galileu. Omitiu-se, passou à História como
exemplo repugnante de oportunista covarde. Ninguém levou a sério o “a vós
pertence toda a responsabilidade”. Pertencia a ele. “Pilatos,
vendo que nada aproveitava, mas que cada vez era maior o tumulto, tomando água,
lavou as mãos diante do povo, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste justo; a
vós pertence toda a responsabilidade” (Mt, 27, 24-25).
Se os grandes da Terra
lavarem as mãos na bacia de Pilatos, o homem que reconheceu a inocência de
Cristo, o injustiçado povo venezuelano, como Cristo, objeto da compaixão inerte
de tantos, subirá o Calvário e à vista de todos será crucificado no Gólgota pelos
modernos carrascos da legítima esperança popular. Minha súplica aqui é, cada um
dos grandes que agora falam, possa também proclamar com verdade: “não lavo as
mãos na bacia de Pilatos”. Para isso, reverente repito a oração postada no site
da Conferência Episcopal Venezuelana: ““Virgem Santíssima, Nossa Senhora de
Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do
comunismo e do socialismo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário