Mexeram no
queijo mineiro. E ele está muito melhor
No último fim de semana o 1º Encontro do Queijo
Minas Artesanal reuniu em Belo Horizonte produtores de sete regiões queijeiras
do estado, chefs de cozinha, negociantes e conferencistas. O evento atraiu 15
mil pessoas
Patrícia Ferraz
De Belo
Horizonte
Minas Gerais cultiva a tradição
queijeira há quase 200 anos, mas até quatro anos atrás, com uma ou outra
exceção, os queijos mineiros artesanais feitos com leite cru eram basicamente
frescos, ou de meia cura, vendidos a preços camaradas. Apesar de pequenas
particularidades nas sete regiões produtoras, os queijos eram todos parecidos,
não havia preocupação com a identidade local.
No alto, queijo do Serro; No centro,
Canastra, Triângulo e Araxá. Embaixo, Cerrado, Campo das Vertentes e Serra do
Salitre Foto: Daniel Teixeira|Estadão
Em muitos casos, a produção se
destinava apenas ao consumo familiar e era mais negócio vender o leite que o
queijo. “O produtor vendia o leite para receber o dinheiro imediatamente, não
compensava esperar o queijo ficar pronto”, conta Priscilla Lins, gerente de
Agronegócio do Sebrae de Minas Gerais.
A situação começou a mudar na
Serra da Canastra quando os produtores foram estimulados a amadurecer seus
queijos para conferir maior complexidade e valorizar o produto.
Com apoio do Sebrae (que repetiu
método de trabalho que havia dado certo com o Café do Cerrado mineiro), os
queijeiros da Canastra formaram uma associação para gerir a produção local e
garantir a elaboração tradicional e padrões – como por exemplo fazer o queijo
apenas com leite de produção própria. Em 2012 conseguiram o selo de IP,
Indicação de Procedência, conferido pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial que atesta a origem do produto. As queijarias ganharam salas de cura
e foi criado um Centro de Maturação na região.
O queijo da Canastra atravessou
as fronteiras, contrabandeado em malas e sacolas, já que a comercialização de
laticínios de leite cru não é permitida fora da região produtora – com a
criação de um novo selo, o Sisbi, a fiscalização foi transferida para os
Estados e os queijos já podem ser vendidos pelo País.
Em quatro anos, o preço do queijo
da Canastra subiu de R$ 7 a R$ 70 e os produtores que já ficaram conhecidos,
como Zé Mário, Onésio e Ivair não estão dando conta da demanda. O sucesso da
Canastra estimulou as outras regiões mineiras – Serro, Salitre, Araxá, Cerrado,
Campos das Vertentes e Vale do Jequitinhonha.
Como bônus, os produtores estão
vendo seus filhos voltarem para casa, arregaçando as mangas para produzir
queijos como faziam seus avós e bisavós. De acordo com as previsões do Sebrae,
a próxima região queijeira a despontar em Minas será Araxá – os produtores já
estão se organizando.
‘O queijo
apaixona a gente’
Durante o último fim de semana,
um evento reuniu na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, os produtores de
queijo de diferentes regiões de Minas (muitos não puderam estar lá porque não
tinham com quem deixar a queijaria), chefs de cozinha, compradores de queijos
de diversas regiões do País e um público de 15 mil pessoas. Ao som de Milton
Nascimento e outros músicos mineiros, a festa foi promovida pelo Sebrae e pela
Federação dos Agricultores de Minas Gerais. Foram montados sete estandes, cada
um dedicado a uma região queijeira e os próprios produtores locais vendiam seus
queijos – muitos acabaram nas primeiras horas.
Sete chefs foram convidados para
preparar pratos com os queijos à vista dos clientes. Flávio Trombino, do
Xapuri, serviu o lobozó, típico da Canastra; Eduardo Maya fez linguiças
recheadas com queijo do Triângulo e serviu como sanduíche. Juntos, o queijo do
Cerrado e a carne de sol rechearam abóbora de Guilherme Melo, do Hermengarda. O
queijo do Salitre foi transformado em pão de queijo recheado de costelinha de
porco. Do Serro veio o recheio da polpeta suína, e o Campo das Vertentes
forneceu o ingrediente para a fonduta com nhoque de batata com ragu de galinha
caipira.
Wellington Vieira estava animado
com o movimento. Ex-produtor de leite, ele resolveu apostar na produção de
queijo em 2013. “Comecei porque precisava agregar valor depois de fazer um
investimento na ordenha, mas o queijo apaixona a gente”, disse. Ivair Oliveira,
da Canastra, passou a maturar seus queijos recentemente: “Faz um ano e sete
meses que deixei de lavar o mofo, antes eu fazia o queijo tradicional amarelo,
mas o queijo com mofo tem muito mais sabor e outra textura”, afirma.
Fonte: OESP
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