Clóvis Rossi não entendeu nada
sobre o caso de Lula
O Antagonista
Clóvis Rossi, na sua coluna na Folha, resume os
fatos contra Lula, mas faz ponderações absurdas.
Ele escreve que “ninguém discute que há
uma escandalosa promiscuidade entre Lula, a Odebrecht e a OAS, entre outras
construtoras”.
E prossegue:
“Lula se transformou em caixeiro viajante a serviço
da Odebrecht, uma empresa que confessa ter adotado ‘práticas impróprias’.
“Só Lula não sabia dessas práticas? O
ex-presidente, no cargo ou depois de deixá-lo, nunca escondeu que ‘vendia’
empresas, produtos e serviços brasileiros em outros países, entre eles
principalmente a Odebrecht.
“Ou, posto de outro modo, a corrupção transformou-se,
com Lula, em produto de exportação, de que dá prova, por exemplo, o fato de que
todos os presidentes peruanos deste século receberam propinas da
Odebrecht. Um deles está até na cadeia.
“Não é só a Odebrecht: é escandalosa a
familiaridade com que Lula se referia, no depoimento a Moro, ao ‘Leo’, que vem
a ser Leo Pinheiro, presidente da OAS, que se deu ao trabalho de sair do seu
escritório para servir como corretor para vender (ou doar) um apartamento a
Lula.
Essa gestão também está comprovada e, mesmo que não
haja ilegalidade, é moralmente inaceitável quando todo o mundo sabe que
empresas como a OAS (e a Odebrecht) dependem de negócios com o poder público.”
Aí não dá.
Como, a esta altura da Lava Jato, Rossi pode
relativizar a ilegalidade nos negócios entre Lula e a OAS e a Odebrecht?
Ambas as empreiteiras — COM PROVAS DOCUMENTAIS —
confessaram que havia “contas de propina” para o PT das quais o dinheiro para
Lula era debitado. Triplex, reforma de sítio, apartamento em São Bernardo: nada
disso era “presente”, mas propina em troca de contratos com a Petrobras.
Em relação ao triplex, não se tratou de “venda” ou
“doação” de Leo Pinheiro. Tratou-se de pagamento de suborno na forma de um
apartamento, cuja titularidade foi mantida no nome da OAS, para esconder o
proprietário de fato: Lula. O nome disso é corrupção e lavagem de dinheiro.
Clóvis Rossi conclui:
“O elenco de detalhes desabonadores para o
ex-presidente poderia estender-se, mas já basta para voltar ao início deste
texto: o ideal seria que o eleitorado decidisse se são suficientes para não
votar em Lula ou se a maioria não se incomoda com eles. Demonstraria se o caso
Lava Jato foi suficientemente pedagógico para o eleitorado brasileiro ou se ele
prefere continuar sendo “mal educado” para usar o rótulo (correto) que
Washington Olivetto pespegou no Brasil, na sua entrevista deste domingo (21) à
Folha.”
Essa gente enlouqueceu? Desde quanto voto popular
substitui a Justiça? Desde quando cabe aos eleitores decidir se provas
criminais são suficientes ou não? Que história é essa de que uma eleição com a
participação de Lula serviria para medir o “efeito pedagógico” da Lava Jato
sobre o eleitorado? Que ela, a eleição com Lula, serviria para saber se os
brasileiros são ou não “mal educados”?
A Lava Jato não e uma espécie de “Escolinha do
Professor Moro”. É uma operação da PF em conjunto com o MPF, para investigar e
denunciar corruptos à Justiça — que já condenou Lula, apontado como o
Comandante Máximo do petrolão, em primeira instância, num dos processos abertos
contra o petista, e poderá vir a confirmar a condenação em segunda instância,
no próximo dia 24.
É disso que se trata: de julgar um cidadão que não
está, não, acima da lei. E que não pode obter imunidade por meio das urnas, uma
vez que as urnas não têm preponderância sobre a Justiça.
Lula está sendo julgado por crimes objetivos, não
por sua falta de moralidade. A falta de moralidade, no caso, é somente moldura.
Mal-educado é quem acredita no contrário, porque não entendeu — ou finge não
entender — absolutamente nada.
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