É preciso
resgatar a Embrapa
Empresa vê-se
perdida ante enorme pulverização de seus projetos de pesquisa, estando poucos
deles alinhados, de fato, com as novas necessidades dos produtores
agropecuários
O Estado de
S.Paulo
Não é de hoje
que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sofre com
desorientação, tanto do ponto de vista administrativo como estratégico. Uma das
únicas empresas estatais que dependem exclusivamente de recursos do Tesouro
Nacional para funcionar, a Embrapa vê-se perdida ante uma enorme pulverização
de seus projetos de pesquisa – mais de mil ora em desenvolvimento –, estando
poucos deles alinhados, de fato, com as novas necessidades dos produtores
agropecuários.
Além disso, uma
estatal com 10 mil servidores espalhados por 47 unidades, em quase todos os
Estados, e com orçamento anual de cerca de R$ 3,5 bilhões deveria zelar melhor
pelo emprego de seus recursos, sejam humanos ou financeiros, ao direcionar suas
linhas de pesquisa tendo como norte o interesse público.
Anestesiadas
por um passado de glórias – justificáveis, é importante frisar –, sucessivas
direções da empresa, desde a década de 1990, foram incapazes de reagir à altura
dos novos desafios que se lhes impuseram. Com a atual administração não parece
ser diferente.
A Embrapa, hoje, escora-se em uma suposta preponderância no
sucesso do agronegócio brasileiro para se esconder sob o manto da excelência de
outrora e pairar acima de qualquer escrutínio público, o que é absurdo,
evidentemente.
A responsabilidade
por esse estado de coisas recai em grande medida sobre o sr. Lula da Silva, que
quando ocupou a Presidência da República aparelhou a estatal – mais uma – a fim
de permitir a reorientação de seus projetos de pesquisa pautando-se por objetivos
estritamente político-ideológicos, desviando o bom rumo que a empresa vinha
trilhando para reposicioná-la na direção do agronegócio familiar.
Não por acaso,
nada menos que dois terços do quadro de pesquisadores da Embrapa foram trocados
por meio de concursos públicos realizados durante os governos lulopetistas.
Cabe indagar que critérios levaram à seleção de novos pesquisadores pouco
familiarizados com as reais necessidades da produção agropecuária.
Em um artigo
escrito para o Estado (ver Por favor, Embrapa: acorde!, publicado em 5/1/2018),
o sociólogo Zander Navarro, que foi um dos mais capacitados pesquisadores da
Embrapa, expôs de forma muito consistente as razões que o levam a crer que a
estatal está sob sérios dilemas administrativos e, ainda mais preocupantes,
morais.
Em um país que
se pretende democrático, as reflexões que o artigo de Zander Navarro suscita,
tanto sobre o futuro da Embrapa como o próprio papel do Estado na economia,
seriam recebidas com a devida atenção e provocariam um debate de alto nível
sobre a premente necessidade de resgate de uma de nossas mais importantes
empresas públicas.
Não foi o que ocorreu. A resposta ao artigo dada pela
direção da Embrapa foi a demissão sumária de seu autor, acusado de “ignorar
sistematicamente os códigos de ética e de conduta da Empresa”, como foi dito
por Maurício Antônio Lopes, presidente da empresa, em comunicado interno obtido
pelo Estadão/Broadcast.
O incidente não
é um simples caso de indisciplina funcional, facilmente resolvido com a demissão
do funcionário sedicioso. Antes de tudo, é uma questão de orientação
estratégica da empresa, que, como dito, perdeu o rumo sob os desígnios do
Partido dos Trabalhadores.
Fundada há
quase 45 anos, a Embrapa foi uma das grandes indutoras do desenvolvimento do
agronegócio no País, junto com os investimentos em pesquisa feitos também pelo
setor privado e por universidades.
Ao contrário destas, com as quais não se
confunde, a Embrapa deve se dedicar à pesquisa aplicada e não pode perder de
vista, em momento algum, o futuro do agronegócio no País.
Não são poucos
os estudos de respeitadas instituições que indicam que o Brasil será o
principal produtor de alimentos do mundo em duas ou três décadas. Com esta
enorme responsabilidade – e oportunidades comerciais para o País – vêm também
grandes desafios, como, por exemplo, o desenvolvimento de modelos de produção
cada vez mais eficientes e sustentáveis.
A Embrapa
precisa ser resgatada das armadilhas do lulopetismo para, novamente, estar à
altura dos desafiadores anos que estão por vir.
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