Presidente cobra 'mais responsabilidade' na
divulgação dos números
BRASÍLIA - O presidente Jair
Bolsonaro (PSL) questionou novamente nesta segunda-feira, 22, a divulgação de
dados do monitoramento de desmatamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe).
Segundo ele, os números são "exagerados" e é
necessário ter "mais responsabilidade" em torná-los públicos. Ele
sugeriu que os dados sejam embargados antes de serem divulgados para ele
"não ser pego de calças curtas".
“Pode divulgar os dados, mas tem de
passar para as autoridades, até para não ser surpreendido. Eu não posso ser
surpreendido por uma informação tão importante como essa daí. Eu não posso ser
pego de calças curtas. As informações têm de chegar ao nosso conhecimento de
modo que a gente possa tomar decisões precisas em cima dessas informações e não
ser surpreendido”, afirmou ao ser questionado sobre se ele pretende não mais
apresentar os dados.
Bolsonaro vem questionando desde
sexta-feira números que mostram que o desmatamento da Amazônia disparou nos
últimos meses. Em junho, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a alta
foi de cerca de 90% de acordo com alertas de desmatamento feitos pelo sistema
Deter, do Inpe. Em julho, até sábado, a alta já era de 111% em relação a julho
do ano passado. Em café da manhã com a imprensa estrangeira, ele falou que os
números eram mentirosos e que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estaria
"a serviço de alguma ONG".
"Quando o Inpe detecta um número
qualquer, tem de subir esses dados para o ministro Marcos Pontes, da Ciência e
Tecnologia, antes passando pelo Ibama, antes de divulgar. Não pode ir na ponta
da linha alguém simplesmente divulgar esses dados. Porque pode haver algum
equívoco. Pode. E nesse caso, como divulgou, há um enorme estrago para o
Brasil. A questão ambiental, o mundo todo leva em conta", disse nesta
segunda-feira, referindo-se ao Mercosul e a acordos bilaterais.
"O chefe do Inpe será ouvido
pelos ministros, para conversar com ele para que isso não continue
acontecendo", disse. "É o mesmo que um cabo passar uma notícia sem
passar pelo capitão, coronel ou brigadeiro. Não está certo isso aí."
Bolsonaro questionou a interpretação
dos dados. "Quando você pega os dados, a pessoa conduz para aquele
lado", afirmou. "São (informações) exageradas, em sendo exageradas,
você pode adjetivar da maneira que você achar melhor", respondeu quando
questionado se mantinha a visão de que os números são mentirosos.
Mais cedo, nesta segunda, o ministro
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, manifestou-se
e disse que compartilha a "estranheza" de Bolsonaro quanto à variação
dos dados e pediu um "relatório técnico completo”"sobre os últimos
dois anos de análises. Também afirmou que vai cobrar um posicionamento de
Ricardo Galvão.
"Com relação aos dados de
desmatamento produzidos pelo Inpe, organização pelo qual tenho grande apreço,
entendo e compartilho a estranheza expressa pelo nosso presidente Bolsonaro
quanto à variação porcentual dos últimos resultados na série histórica”,
escreveu o ministro, em nota divulgada pela pasta.
Na última sexta-feira, Bolsonaro, em
café da manhã com jornalistas estrangeiros, disse que os dados que mostram
aumento da perda da floresta em junho e neste início de julho são mentirosos.
Ele também insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, esteja "a
serviço de alguma ONG (organização não governamental)".
Bruno Moura e Rebeca Ramos, especiais para o Estado
22 de julho de 2019 |
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