OS ECOLOGISTAS NÃO DEIXAM
Jacinto Flecha
Continuo firmemente determinado a comprovar a importância do ambientalismo
de ponta para a preservação da natureza. Minha visão esverdeada do
universo é de ponta (e também tem pontas...), bem adequada
para atazanar certos ambientalistas retrógrados, aboletados em rendosas
atividades da ONGosfera manifestante. Vou apresentar hoje algumas novidades
inventivas elogiáveis, para as quais faltou espaço na última crônica (Ambientalismo
de ponta).
Uma bem concebida
chaminé energética está em fase experimental no deserto da Austrália,
aproveitando sua abundância solar. Baseia-se no mesmo princípio da chaminé, que
coleta o ar aquecido de um forno ou fogão e o leva com a fumaça para cima, onde
a temperatura é mais baixa. No centro de uma enorme tenda de plástico (340
hectares, equivalente à área do Central Park, em Nova York),
ergue-se uma altíssima chaminé (cerca de um quilômetro de altura). O sol incide
sobre a tenda, aquecendo o ar que está abaixo dela. O ar aquecido flui
velozmente para o centro da tenda e sobe pela chaminé. Na passagem da tenda
para a chaminé há turbinas, que giram acionadas pelo ar e produzem energia para
uma cidade de tamanho médio.
Os jornais noticiaram que uma pesquisa brasileira identificou na saliva do
carrapato uma substância provavelmente útil para a cura do câncer. Quando se
confirmarem os resultados, minha comemoração será com foguetes ecológicos. Os
ambientalistas não precisam prantear a chacina dos carrapatos (inocentes
vítimas do egoísmo de cancerosos...), pois a substância será produzida por
engenharia genética. E a única função conhecida da carrapatolândia, que é sugar
o sangue dos animais, prosseguirá sem obstáculos. Os ambientalistas adeptos de
métodos terapêuticos ultrapassados, como a sangria, poderão servir-se deles.
São ótimos para isso.
Li há vários anos
sobre a descoberta de uma substância capaz de absorver água em volume 900 vezes
maior que o seu próprio volume. Veja que maravilha seria espalhar essa
substância em todo o deserto do Saara, transformando-o em grande oásis
verdejante sombreado por elegantes palmeiras. Daria até para espalhar doses
maiores da substância em amplos vales do deserto, a fim de absorver mais água e
transformá-los em oceanos ou lagos piscosos circundados por praias.
Ambientalistas retrógrados não deixarão de protestar contra essa novidade, pois
os eficientes camelos se tornariam espécie desnecessária, condenada à extinção.
Lamento informar que nunca mais encontrei qualquer referência à tal substância
hidrófila, e não sei que fim levou o projeto. Mas não se discute que ele merece
um prêmio, se tiver êxito.
A partir do momento
em que começaram a escassear as fontes de combustíveis fósseis como o petróleo,
começou também uma corrida tecnológica em busca de fontes alternativas. Várias
frentes de pesquisa foram abertas, e hoje se aproveitam resíduos que eram antes
motivo de transtorno na atividade principal. O vinhoto e o bagaço de cana
estavam nessa categoria, e hoje ajudam a reduzir o custo de produção do açúcar
e álcool. Grande parte do mérito dessa mudança se deve ao nosso País. Ainda não
sei como será o protesto dos ambientalistas, mas é só esperar.
Numa linha telefônica tradicional (analógica), dois fios de cobre são
necessários para a comunicação de pessoas situadas nas suas extremidades, sendo
um para ida e outro para volta. Uma única fibra ótica pode transmitir ao mesmo
tempo cem mil comunicações como essa. Sem a invenção de fibras óticas, satélites
artificiais, WiFi, celulares, calcule quanto cobre as atuais comunicações
consumiriam. Talvez não bastasse todo o cobre existente nas minas. Você está
vendo a importância do ambientalismo de ponta? E a falta de sinceridade dos
ambientalistas, que não aplaudem esses progressos e façanhas?
Ainda não chegaram
ao Brasil as chamadas rodas de Copenhague, lançadas recentemente na
Dinamarca. Elas substituem a roda traseira da bicicleta comum, e têm um
dispositivo complexo cujo motor elétrico, movido por uma bateria, multiplica
por até dez a força que o ciclista aplica no pedal. Quando os pedais estão
parados, girando para trás ou numa descida, ganha-se energia que é acumulada na
bateria. Assim se recupera na descida quase toda a energia gasta na subida. A
expectativa é de grande aceitação para esse veículo pequeno, barato e “verde”
(embora vermelho por fora, ao contrário da melancia ambientalista...). Os
médicos estão receptivos à tal roda, que consome calorias dos clientes. Os
ambientalistas ainda não se manifestaram, mas é certo que vão tentar descobrir
algum esconderijo de gás estufante nas tais bicicletas. Se não acharem nada,
também não espere elogios deles aos inventores.
Eis aí mais alguns
exemplos do elogiável ambientalismo de ponta. Espero não ter
deixado dúvida sobre a eficiência da tecnologia de ponta para eliminar a
poluição, além de tornar o mundo até mais verde do que quando foi criado. Se
fossem sinceros os objetivos oficiais dos ambientalistas (fica
aí a insinuação de prováveis objetivos não oficiais), eles deveriam incentivar
os inventores a criar essas tecnologias verdes de ponta. Uma
boa ideia seria instituir um prêmio econobel anual, como
recompensa pela invenção que preservar mais clorofila. Assim os ambientalistas
ajudariam a resolver os problemas que criticam, e ganhariam credenciais
autorizando-os a prosseguir suas manifestações reivindicantes. Também se
livrariam do rótulo de desmancha-prazeres, sintetizado nesta frase sibilina: A
fé move montanhas... mas os ecologistas não deixam.
Faz muita falta um prêmio
econobel.
(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim.
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