quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

OS ECOLOGISTAS NÃO DEIXAM



OS ECOLOGISTAS NÃO DEIXAM

Jacinto Flecha

         Continuo firmemente determinado a comprovar a importância do ambientalismo de ponta para a preservação da natureza. Minha visão esverdeada do universo é de ponta (e também tem pontas...), bem adequada para atazanar certos ambientalistas retrógrados, aboletados em rendosas atividades da ONGosfera manifestante. Vou apresentar hoje algumas novidades inventivas elogiáveis, para as quais faltou espaço na última crônica (Ambientalismo de ponta).

Uma bem concebida chaminé energética está em fase experimental no deserto da Austrália, aproveitando sua abundância solar. Baseia-se no mesmo princípio da chaminé, que coleta o ar aquecido de um forno ou fogão e o leva com a fumaça para cima, onde a temperatura é mais baixa. No centro de uma enorme tenda de plástico (340 hectares, equivalente à área do Central Park, em Nova York), ergue-se uma altíssima chaminé (cerca de um quilômetro de altura). O sol incide sobre a tenda, aquecendo o ar que está abaixo dela. O ar aquecido flui velozmente para o centro da tenda e sobe pela chaminé. Na passagem da tenda para a chaminé há turbinas, que giram acionadas pelo ar e produzem energia para uma cidade de tamanho médio.

         Os jornais noticiaram que uma pesquisa brasileira identificou na saliva do carrapato uma substância provavelmente útil para a cura do câncer. Quando se confirmarem os resultados, minha comemoração será com foguetes ecológicos. Os ambientalistas não precisam prantear a chacina dos carrapatos (inocentes vítimas do egoísmo de cancerosos...), pois a substância será produzida por engenharia genética. E a única função conhecida da carrapatolândia, que é sugar o sangue dos animais, prosseguirá sem obstáculos. Os ambientalistas adeptos de métodos terapêuticos ultrapassados, como a sangria, poderão servir-se deles. São ótimos para isso.

Li há vários anos sobre a descoberta de uma substância capaz de absorver água em volume 900 vezes maior que o seu próprio volume. Veja que maravilha seria espalhar essa substância em todo o deserto do Saara, transformando-o em grande oásis verdejante sombreado por elegantes palmeiras. Daria até para espalhar doses maiores da substância em amplos vales do deserto, a fim de absorver mais água e transformá-los em oceanos ou lagos piscosos circundados por praias. Ambientalistas retrógrados não deixarão de protestar contra essa novidade, pois os eficientes camelos se tornariam espécie desnecessária, condenada à extinção. Lamento informar que nunca mais encontrei qualquer referência à tal substância hidrófila, e não sei que fim levou o projeto. Mas não se discute que ele merece um prêmio, se tiver êxito.

A partir do momento em que começaram a escassear as fontes de combustíveis fósseis como o petróleo, começou também uma corrida tecnológica em busca de fontes alternativas. Várias frentes de pesquisa foram abertas, e hoje se aproveitam resíduos que eram antes motivo de transtorno na atividade principal. O vinhoto e o bagaço de cana estavam nessa categoria, e hoje ajudam a reduzir o custo de produção do açúcar e álcool. Grande parte do mérito dessa mudança se deve ao nosso País. Ainda não sei como será o protesto dos ambientalistas, mas é só esperar.

         Numa linha telefônica tradicional (analógica), dois fios de cobre são necessários para a comunicação de pessoas situadas nas suas extremidades, sendo um para ida e outro para volta. Uma única fibra ótica pode transmitir ao mesmo tempo cem mil comunicações como essa. Sem a invenção de fibras óticas, satélites artificiais, WiFi, celulares, calcule quanto cobre as atuais comunicações consumiriam. Talvez não bastasse todo o cobre existente nas minas. Você está vendo a importância do ambientalismo de ponta? E a falta de sinceridade dos ambientalistas, que não aplaudem esses progressos e façanhas?

Ainda não chegaram ao Brasil as chamadas rodas de Copenhague, lançadas recentemente na Dinamarca. Elas substituem a roda traseira da bicicleta comum, e têm um dispositivo complexo cujo motor elétrico, movido por uma bateria, multiplica por até dez a força que o ciclista aplica no pedal. Quando os pedais estão parados, girando para trás ou numa descida, ganha-se energia que é acumulada na bateria. Assim se recupera na descida quase toda a energia gasta na subida. A expectativa é de grande aceitação para esse veículo pequeno, barato e “verde” (embora vermelho por fora, ao contrário da melancia ambientalista...). Os médicos estão receptivos à tal roda, que consome calorias dos clientes. Os ambientalistas ainda não se manifestaram, mas é certo que vão tentar descobrir algum esconderijo de gás estufante nas tais bicicletas. Se não acharem nada, também não espere elogios deles aos inventores.

Eis aí mais alguns exemplos do elogiável ambientalismo de ponta. Espero não ter deixado dúvida sobre a eficiência da tecnologia de ponta para eliminar a poluição, além de tornar o mundo até mais verde do que quando foi criado. Se fossem sinceros os objetivos oficiais dos ambientalistas (fica aí a insinuação de prováveis objetivos não oficiais), eles deveriam incentivar os inventores a criar essas tecnologias verdes de ponta. Uma boa ideia seria instituir um prêmio econobel anual, como recompensa pela invenção que preservar mais clorofila. Assim os ambientalistas ajudariam a resolver os problemas que criticam, e ganhariam credenciais autorizando-os a prosseguir suas manifestações reivindicantes. Também se livrariam do rótulo de desmancha-prazeres, sintetizado nesta frase sibilina: A fé move montanhas... mas os ecologistas não deixam.

Faz muita falta um prêmio econobel.


(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim.

Nenhum comentário: