sexta-feira, 1 de maio de 2015

“Volume morto”, eleições e safra agrícola


Helio Brambilla

O grande Bossuet falava para um dos públicos mais seletos que a humanidade jamais conhecera, a corte de Luiz XIV, o Rei Sol. Suas prédicas eram sempre enriquecidas e iluminadas pela luz do que se costuma chamar de teologia da história.
Via e julgava ele os acontecimentos segundo os desígnios de Deus. Sobre Nabucodonosor, rei da Babilônia, que invadiu Israel fazendo prisioneiro o povo eleito, sabiamente comentou que este foi o “açoite divino’ para com aqueles que renegaram os ensinamentos do verdadeiro Deus para seguir deuses pagãos.
Para o orador sacro francês, tudo o que se p assa no universo obedece a leis bem traçadas pelo Criador, pois Deus não apenas criou, mas Ele é o senhor do mundo criado, Brasil incluído… Assim, a falta d’água que assola o nosso centro-leste, com maior gravidade para o Estado de São Paulo, não pode ter sido alheia aos desígnios de Deus.
A imprensa vinha tratando ad nauseam do tal ‘volume morto’ dos mananciais que fornecem água para a cidade de São Paulo e, muitas pessoas, não sem certo terrorismo psicológico, previam que em breve as bombas estariam tragando o lodo do fundo das represas.
Da realidade à metáfora, antes mesmo da eventual utilização do lodo do tal “volume morto”, a lama veio à tona nas eleições presidenciais de 2014. Com efeito, os analistas confirmaram ter se tratado da campanha mais suja e repleta de ‘baixarias’ dos 125 anos de república. Na verdade, não era e não é para esperar coisa muito diferente.
Se o fétido e o pútrido emergiram, não é menos verdade que a presidente reeleita esteja navegando no ‘volume morto’ da crise econômico-político-social que vem castigando o país. Basta vermos a “lição das ruas” com as manifestações monumentais ocorridas no dia 15 de março em todo o Brasil.

Apenas para relembrar, além do minúsculo PIB, a Petrobrás se encontra semi-falida e saqueada. A maior empresa brasileira perdeu parte substancial de seu valor de mercado e, além disto, a sua dívida ultrapassa os 300 bilhões de reais. Cabe ressaltar que a dívida interna do país já ultrapassou os dois trilhões e duzentos bilhões de reais. Por sua vez, a inflação não dá sinais de arrefecimento e a balança comercial ‘balanceia’.
Sem considerar o lodo ideológico representado pela insistência do governo na criação dos ‘conselhos populares ‘ cujo significado não passa de ‘sovietes’, experiência comunista já vivida na antiga URSS, os especialistas julgam que para os próximos anos mais sombras e trevas envolverão o Brasil.
Mas nem tudo parece perdido. Se é verdade que tal volume de lama veio à tona, é também verdade que em sentido oposto permanece e se aprimora o ‘volume vivo’ de águas cristalinas que continuam o seu curso rumo ao mar da História. Um deles é o agronegócio.
Distante desse caos, muitas vezes induzido, o agropecuarista continua sua faina ao vencer as dificuldades inerentes ao seu trabalho, provendo os seus familiares, os funcionários e suas famílias, fornecendo alimento saudável e barato aos brasileiros, e exportando o excedente para alimentar mais de um bilhão de pessoas mundo a fora.
A título de recordação, enumeraremos alguns de seus seguidos e importantes sucessos: – atingiremos em breve produção recorde de 200 milhões de toneladas de grãos; já ultrapassamos na safra de 2013 os US$ 100 bilhões de exportações/anual; o saldo delas já ultrapassa US$ 500 bilhões na última década; possuímos o maior rebanho do mundo com mais de 210 milhões de cabeças de gado; somos os maiores exportadores de carne do planeta; de cada 10 xícaras de café tomadas no mundo, quatro são de origem brasileira; de cada 10 copos de suco de laranja tomados no mundo, oito são brasileiros; somos com folga o maior produtor de açúcar do mundo, com 40% das exportações mundiais.
Qual é a contrapartida de Brasília diante desse sucesso? – Apregoa-se que nunca tivemos nesse país tanto volume de crédito para a agricultura… Contudo, o governo faz sempre questão de ressaltar a existência de dois campos distintos em nosso meio rural, a agricultura empresarial e a familiar.
Elas existem de fato. Enquanto o pequeno produtor rural agregado ao agronegócio se encontra em muito boa situação, os ditos trabalhadores atrelados aos movimentos sociais não produzem coisa alguma, vivem em favelas rurais e só não morrem de fome em razão das cestas básicas do governo federal, provenientes do agronegócio.
Quase ou tão importante que o crédito rural é o seguro agrícola, pois o proprietário está sujeito às intempéries, mas ele não deseja o modelo de seguro estatista, mas que sejam desonerados dos altos tributos e, assim, paulatinamente a totalidade da safra seja assegurada, como nos EUA e na Europa, pela iniciativa privada.
Entre os altos riscos de nossos agricultores, a insegurança jurídica é que lhes traz maiores danos, além das contínuas ameaças de invasões por parte do “exército do Stédile”, MST, das acusações de trabalho escravo, de degradação do meio ambiente, de o proprietário rural não passar de um intruso em terras de índios ou de quilombolas. Sempre o penalizado, o vilão da história é o produtor rural: “O primeiro a apanhar e o último a falar”… quando o deixam falar.
Por causa da seca e, sobretudo, pela má gestão, o déficit do setor elétrico chega 100 bilhões de reais e poderia ser possantemente auxiliado pelo agronegócio. Só a cogeração de energia a partir do bagaço de cana poderia gerar mais que Itaipu, justamente no tempo menos chuvoso. No momento, as hidrelétricas estão com volume de água de apenas 27% de sua capacidade.
O setor canavieiro só não produz toda a energia possível porque o governo vinha oferecendo, até há pouco tempo, menos de 200 reais o KW/h. Com a crise atual passou a pagar às termoelétricas 800 reais o KW/h e, quando movidas a diesel, o valor já ultrapassa os 1000 reais o KW/hora.
Outro dado preocupante quanto aos combustíveis é que a Petrobrás sempre foi uma empresa rentável. Depois de ter sido ‘aparelhada’ pelo governo para se tornar instrumento político, para segurar a inflação, por exemplo, a defasagem dos preços vem gerando déficit enorme em suas contas, sem contar a roubalheira.
Com o desajuste dos preços dos combustíveis foi estabelecido um “tabelamento branco” do etanol que ficou com um preço muito defasado levando à ruína financeira quase um terço das usinas sucroalcooleiras, além de fazer com que cerca de um milhão de funcionários fossem dispensados. De exportador de etanol, o país importou em 2014 mais de 600 milhões de litros de álcool dos Estados Unidos.
O setor canavieiro também sofreu muito com a seca do sudeste que o levou a diminuição de 50 milhões de toneladas de cana colhida, o equivalente a toda safra do nordeste brasileiro. Para não me alongar, citamos de passagem o que todos os leitores já sabem, isto é, a total falência de nossa estrutura básica.
Portos com filas gigantescas de caminhões, navios esperando até 60 dias para cargas e descargas, estradas em péssimas condições, ferrovias já várias vezes inauguradas e que ainda não transportam nada… e ainda mais, tem os seus dormentes e trilhos roubados. As hidrovias não saem do papel.
Apesar de todas as más políticas do governo, o agronegócio vem prosperando graças à força propulsora dos nossos valorosos produtores rurais que diuturnamente, com chuva ou sem ela, continuam a cultivar este país continente.
Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, miraculosamente encontrada nas águas cristalinas do Rio Paraíba, não permita que perdure a seca que compromete os nossos mananciais, e, sobretudo, livre o Brasil do lodo moral no qual se acha atolado.
Invoquemos a Ela para que nos mande chuva e que os seus filhos tenham a sua sede aplacada e colheitas abundantes; para que do Oiapoque ao Chuí os brasileiros recebam uma chuva de graças num país sempre irmanado; para que nunca seja dividido por ideologias malsãs, importadas à revelia de nosso povo ordeiro e cristão.




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