Helio Brambilla
O grande Bossuet falava para um dos
públicos mais seletos que a humanidade jamais conhecera, a corte de Luiz XIV, o
Rei Sol. Suas prédicas eram sempre enriquecidas e iluminadas pela luz do que se
costuma chamar de teologia da história.
Via e julgava ele os acontecimentos
segundo os desígnios de Deus. Sobre Nabucodonosor, rei da
Babilônia, que invadiu Israel fazendo prisioneiro o povo eleito, sabiamente
comentou que este foi o “açoite divino’ para com aqueles que renegaram os
ensinamentos do verdadeiro Deus para seguir deuses pagãos.
Para o orador sacro francês, tudo o que
se p assa no universo obedece a leis bem traçadas pelo Criador, pois Deus não
apenas criou, mas Ele é o senhor do mundo criado, Brasil incluído… Assim, a
falta d’água que assola o nosso centro-leste, com maior gravidade para o Estado
de São Paulo, não pode ter sido alheia aos desígnios de Deus.
A imprensa vinha tratando ad
nauseam do tal ‘volume morto’ dos mananciais que fornecem água para a
cidade de São Paulo e, muitas pessoas, não sem certo terrorismo psicológico,
previam que em breve as bombas estariam tragando o lodo do fundo das represas.
Da realidade à metáfora, antes mesmo da
eventual utilização do lodo do tal “volume morto”, a lama
veio à tona nas eleições presidenciais de 2014. Com efeito, os analistas
confirmaram ter se tratado da campanha mais suja e repleta de ‘baixarias’ dos
125 anos de república. Na verdade, não era e não é para esperar coisa muito diferente.
Se o fétido e o pútrido emergiram, não
é menos verdade que a presidente reeleita esteja navegando no ‘volume morto’ da
crise econômico-político-social que vem castigando o país. Basta vermos a
“lição das ruas” com as manifestações monumentais ocorridas no dia 15 de março
em todo o Brasil.
Apenas para relembrar, além do
minúsculo PIB, a Petrobrás se encontra semi-falida e saqueada. A maior empresa
brasileira perdeu parte substancial de seu valor de mercado e, além disto, a
sua dívida ultrapassa os 300 bilhões de reais. Cabe ressaltar que a dívida
interna do país já ultrapassou os dois trilhões e duzentos bilhões de reais.
Por sua vez, a inflação não dá sinais de arrefecimento e a balança comercial
‘balanceia’.
Sem considerar o lodo ideológico
representado pela insistência do governo na criação dos ‘conselhos populares ‘
cujo significado não passa de ‘sovietes’, experiência comunista já vivida na
antiga URSS, os especialistas julgam que para os próximos anos mais sombras e
trevas envolverão o Brasil.
Mas nem tudo parece perdido. Se é
verdade que tal volume de lama veio à tona, é também verdade que em sentido
oposto permanece e se aprimora o ‘volume vivo’ de águas cristalinas que
continuam o seu curso rumo ao mar da História. Um deles é o agronegócio.
Distante desse caos, muitas vezes
induzido, o agropecuarista continua sua faina ao vencer as dificuldades
inerentes ao seu trabalho, provendo os seus familiares, os funcionários e suas
famílias, fornecendo alimento saudável e barato aos brasileiros, e exportando o
excedente para alimentar mais de um bilhão de pessoas mundo a fora.
A título de recordação, enumeraremos
alguns de seus seguidos e importantes sucessos: – atingiremos em breve produção
recorde de 200 milhões de toneladas de grãos; já ultrapassamos na safra de 2013
os US$ 100 bilhões de exportações/anual; o saldo delas já ultrapassa US$ 500
bilhões na última década; possuímos o maior rebanho do mundo com mais de 210
milhões de cabeças de gado; somos os maiores exportadores de carne do planeta;
de cada 10 xícaras de café tomadas no mundo, quatro são de origem brasileira; de
cada 10 copos de suco de laranja tomados no mundo, oito são brasileiros; somos
com folga o maior produtor de açúcar do mundo, com 40% das exportações
mundiais.
Qual é a contrapartida de Brasília
diante desse sucesso? – Apregoa-se que nunca tivemos nesse país tanto volume de
crédito para a agricultura… Contudo, o governo faz sempre questão de ressaltar
a existência de dois campos distintos em nosso meio rural, a agricultura
empresarial e a familiar.
Elas existem de fato. Enquanto o
pequeno produtor rural agregado ao agronegócio se encontra em muito boa
situação, os ditos trabalhadores atrelados aos movimentos sociais não produzem
coisa alguma, vivem em favelas rurais e só não morrem de fome em razão das
cestas básicas do governo federal, provenientes do agronegócio.
Quase ou tão importante que o crédito
rural é o seguro agrícola, pois o proprietário está sujeito às intempéries, mas
ele não deseja o modelo de seguro estatista, mas que sejam desonerados dos
altos tributos e, assim, paulatinamente a totalidade da safra seja assegurada,
como nos EUA e na Europa, pela iniciativa privada.
Entre os altos riscos de nossos
agricultores, a insegurança jurídica é que lhes traz maiores danos, além das
contínuas ameaças de invasões por parte do “exército do Stédile”, MST, das
acusações de trabalho escravo, de degradação do meio ambiente, de o
proprietário rural não passar de um intruso em terras de índios ou de
quilombolas. Sempre o penalizado, o vilão da história é o produtor rural: “O
primeiro a apanhar e o último a falar”… quando o deixam falar.
Por causa da seca e, sobretudo, pela má
gestão, o déficit do setor elétrico chega 100 bilhões de reais e poderia ser
possantemente auxiliado pelo agronegócio. Só a cogeração de energia a partir do
bagaço de cana poderia gerar mais que Itaipu, justamente no tempo menos
chuvoso. No momento, as hidrelétricas estão com volume de água de apenas 27% de
sua capacidade.
O setor canavieiro só não produz toda a
energia possível porque o governo vinha oferecendo, até há pouco tempo, menos de
200 reais o KW/h. Com a crise atual passou a pagar às termoelétricas 800 reais
o KW/h e, quando movidas a diesel, o valor já ultrapassa os 1000 reais o
KW/hora.
Outro dado preocupante quanto aos
combustíveis é que a Petrobrás sempre foi uma empresa rentável. Depois de ter
sido ‘aparelhada’ pelo governo para se tornar instrumento político, para
segurar a inflação, por exemplo, a defasagem dos preços vem gerando déficit
enorme em suas contas, sem contar a roubalheira.
Com o desajuste dos preços dos combustíveis foi estabelecido um “tabelamento branco” do etanol que ficou com um preço muito
defasado levando à ruína financeira quase um terço das usinas sucroalcooleiras,
além de fazer com que cerca de um milhão de funcionários fossem dispensados. De
exportador de etanol, o país importou em 2014 mais de 600 milhões de litros de
álcool dos Estados Unidos.
O setor canavieiro também sofreu muito
com a seca do sudeste que o levou a diminuição de 50 milhões de toneladas de
cana colhida, o equivalente a toda safra do nordeste brasileiro. Para não me
alongar, citamos de passagem o que todos os leitores já sabem, isto é, a total
falência de nossa estrutura básica.
Portos com filas gigantescas de
caminhões, navios esperando até 60 dias para cargas e descargas, estradas em péssimas
condições, ferrovias já várias vezes inauguradas e que ainda não transportam
nada… e ainda mais, tem os seus dormentes e trilhos roubados. As hidrovias não
saem do papel.
Apesar de todas as más políticas do
governo, o agronegócio vem prosperando graças à força propulsora dos nossos
valorosos produtores rurais que diuturnamente, com chuva ou sem ela, continuam
a cultivar este país continente.
Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha e
Padroeira do Brasil, miraculosamente encontrada nas águas cristalinas
do Rio Paraíba, não permita que perdure a seca que compromete os
nossos mananciais, e, sobretudo, livre o Brasil do lodo moral no qual se
acha atolado.
Invoquemos a Ela para que nos mande
chuva e que os seus filhos tenham a sua sede aplacada e colheitas abundantes;
para que do Oiapoque ao Chuí os brasileiros recebam uma chuva de graças num
país sempre irmanado; para que nunca seja dividido por ideologias malsãs,
importadas à revelia de nosso povo ordeiro e cristão.
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