domingo, 17 de maio de 2015

Êxito do agronegócio...





COM – SEM – APESAR DE

 Jacinto Flecha

Nos tempos longínquos em que abrilhantei com minha presença a faculdade de medicina, um professor mencionou doenças que se resolvem com o médico, sem o médico e apesar do médico. Mostrou depois a utilidade de umas e outras. Não pretendo trair segredos profissionais, mas quem conhece piadas sobre médicos não ignora a importância dos honorários...

         Prefiro abandonar depressa este assunto, pois não me convém atingir interesses corporativistas. Também porque minhas flechas estão hoje reservadas para o campo. Qual campo? Ora, o campo mesmo, campo propriamente dito. Explico-me, antes que as flechas se voltem contra mim.

         Todos conhecemos o êxito do agronegócio brasileiro, cuja colheita recorde de quase 200 milhões de toneladas engorda as raquíticas estatísticas do governo e assusta os concorrentes. A balança comercial (diferença entre exportação e importação) tem sido salva pela expansão da agropecuária, constante e persistente desde que se descartou a reforma agrária comunista.

         Que relação tem a atividade agropecuária com a distinção sibilina do meu professor? Aplique uma à outra, e veja o resultado: Nosso primitivismo agropecuário se resolveu com o governo, sem o governo e apesar do governo. Muito enigmático? Vamos esclarecer ponto por ponto.

         Com o governo – Não é justo atribuir todo esse progresso ao empreendedor rural. Grande parte se deve ao profissionalismo e dedicação da Embrapa e de várias outras entidades, cujos técnicos competentes desenvolvem pesquisas de ponta para melhorar a qualidade e a produtividade. 

Sendo a Embrapa uma entidade do governo, ao governo cabe uma parte desse êxito, certo? Sim, desde que se entenda a qual governo isso se aplica. Muito importante esta distinção, tendo em vista que o governo de dez anos atrás tentou obrigar a Embrapa a sepultar pesquisas de ponta e desviar recursos para a antiquada agricultura de subsistência. Ainda bem que não o conseguiu.

Outra iniciativa elogiável são os empréstimos para custeio da produção. Para a atividade rural eles são vitais, mas para o governo são um negócio bancário cercado de todas as garantias, além de lucrativo em juros e impostos. Um favor útil, sem dúvida, mas muito interesseiro; e que precisa, aliás, ser melhorado e ampliado.
         Sem o governo – Mesmo sendo o grande beneficiário do lucro que recebe do agronegócio, o governo deixa os empreendedores rurais à própria sorte: malha rodoviária deteriorada; deficiência ou ausência de assistência médica; escolas rurais inexistentes ou em condições precárias; falta de proteção aos proprietários rurais, que funciona como verdadeiro incentivo a vândalos e invasores; dificuldades e leniência na reintegração de posse. Tudo isso, e muito mais, gera grandes prejuízos para os empreendedores e os desestimula. O perdedor é sempre o trabalhador rural, com a redução da oferta de empregos – o único benefício que ele realmente procura.

Apesar do governo – A ação do governo no setor rural produtivo é uma sequência de tiros no pé, penalizando os empreendedores e premiando quem não merece: exigências ambientalistas draconianas; legislação trabalhista só aplicável a gabinetes luxuosos de burocratas brasilienses; indústria de multas arbitrárias e exorbitantes; confisco de propriedades, para torná-las improdutivas nas mãos de índios urbanos indolentes e manobrados por ONGs; expropriação de produtores para entregar terra a aventureiros auto-rotulados de quilombolas, mesmo contrariando a lei, que exige continuidade no uso da terra reivindicada. Após remoção injusta de proprietários legítimos, o governo deixa assentados nelas (ou confortavelmente deitados) os índios urbanos e falsos quilombolas.

Obstáculos ou doenças são equivalentes, na medicina e no campo, desde que se entenda metaforicamente alguns deles: Ervas daninhas, mau tempo, predadores, vírus, pragas, carestia, vermes, corrupção. Nos dois casos, a solução é remover os obstáculos ou causadores de doenças. Nos dois casos, essa faxina traz progresso e lucro. Nos dois casos, o governo não parece interessado em soluções, muito antes pelo contrário.

Uma ressalva sobre certo tipo de obstáculos é que as atividades criminosas de invasores e vândalos (MST & Cia.) não são exatamente do governo, alguns afirmam que o governo é apenas conivente. Confirmando a ironia de um escritor: Em Brasília todos são inocentes, e todos são coniventes.

O governo parece não entender as coisas desta maneira. Por quê? Por estar encharcado de ideologia esquerdista, comprovadamente ineficiente e ultrapassada. Minha frágil esperança é que agentes do governo se envergonhem do atual desempenho – do tipo apesar de, com seus resultados negativos – e passem a agir de acordo com esta norma de vida criada pela sabedoria popular, ancorada na experiência diária: Quem não atrapalha, já ajuda.





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