Redução a condição análoga à de escravo
Péricles Capanema
Veja acima o título, é delito punido
no Brasil, artigo 149 do Código Penal: “Reduzir
alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,
quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção”. A seguir: “Nas mesmas penas incorre quem cerceia o uso
de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho”. Mais ainda: “se
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho”.
Hoje não quero falar do Brasil (só um
pouco), vou tratar da China. Por ação, cumplicidade, desleixo ou omissão, é
desse crime que o governo dos Estados Unidos está acusando o governo da China.
Começa assim o 2016 Trafficking in Persons Report: “A República Popular da China é origem,
destino e local de trânsito para homens, mulheres e crianças submetidos a
trabalho forçado e tráfico sexual”.
Preciso, trabalho forçado a lei penal
brasileira chama de condição análoga à de escravo. O documento afirma existirem
294 milhões de chineses (indocumentados) potencialmente sujeitos a trabalhos
forçados em minas de carvão e fábricas, parte das quais opera ilegalmente e se
aproveita da frouxa regulamentação governamental. Acrescenta: “Crianças em programas de trabalho e estudo
apoiados pelos governos locais e escolas são obrigadas a trabalhar em fábricas.
Homens africanos e asiáticos são explorados em navios chineses, trabalhando em
condições indicadoras de trabalho forçado”.
Aqui o mais direto do texto contra o
governo chinês: “Permanece a preocupação com o trabalho forçado patrocinado
pelo Estado. Por décadas, a ‘reeducação pelo trabalho’ representou uma maneira
sistemática de trabalho forçado na China. O governo da República Popular da
China se aproveitou do trabalho forçado de pessoas sujeitas a detenção
administrativa (extrajudicial), muitas vezes sem remuneração, até por quatro
anos. [...] Continuam as informações de utilização atual de trabalho forçado nas
instalações governamentais de reabilitação”. Mais abaixo, o documento reitera:
“Continuam nos chegando as informações da cumplicidade governamental com o
trabalho forçado, inclusive mediante políticas de trabalho forçado em programas
com patrocínio governamental. Apesar do anúncio oficial de 2013 de abolição da
prática de reeducação pelo trabalho, continuamos a receber notícias que não
puderam ser checadas sobre centros governamentais de detenção fora do sistema
judicial”.
Stalin (não apenas ele) já se
utilizava de expedientes desse tipo. Precisava de mão de obra, mandava prender,
não pagava e depois soltava. Ou não. Assim se recrutou parte da mão de obra
escrava, milhões e milhões de desgraçados, retratada no Arquipélago Gulag de
Alexandre Solzhenitsyn. Aqui, nada mudou.
Sobre a exploração sexual é severo o
relatório: “Mulheres e moças estão também sujeitas ao tráfico sexual dentro da
China. Mulheres e crianças de países asiáticos vizinhos, África e América estão
sujeitas a trabalhos forçados e a tráfico sexual na China. Mulheres
norte-coreanas estão sujeitas a prostituição forçada, ao casamento forçado, ao
trabalho forçado na agricultura, ao trabalho doméstico forçado e ao trabalho
forçado nas fábricas”.
Sobre a situação dos norte-coreanos:
“O governo sustenta que não repatria compulsoriamente nenhuma vítima do
tráfico. Antes do período coberto por este relatório, notícias verossímeis
davam conta que autoridades chinesas repatriavam compulsoriamente refugiados
norte-coreanos tratando-os como imigrantes econômicos ilegais. O governo
detinha e deportava referidos refugiados para a Coreia do Norte, onde podem
sofrer punições severas, campos de trabalhos forçados, até a morte”.
Transcrevi muita coisa, pode até ser
penoso, sei. Foi necessário. A maioria dos dados do relatório ficou fora, mas a
íntegra pode ser facilmente compulsada na rede.
Quais as razões da necessidade?
Enumero duas. A mais imediata, a China se transformou no maior parceiro
comercial do Brasil. Mantido o rumo, daqui a pouco, por meio de suas estatais,
será presença gigantesca na economia brasileira. O favorecimento escandaloso
das relações econômicas com a China, com detrimento dos Estados Unidos e União
Europeia, diretriz de política exterior dos 13 anos petistas (infelizmente o favorecimento
permanece hoje no essencial, embora tenha cessado a sabotagem aos interesses
norte-americanos e europeus), não só lesou gravemente nosso futuro de nação
soberana. Esbofeteou cruelmente os direitos à liberdade de centenas de milhões
de chineses, situação evidenciada acima. Razão mais funda, moralmente não é
lícito favorecer a escravidão. Podem apostar, a esquerda tupiniquim vai se
calar diante dessa lesão aos direitos humanos. É política patrocinada pelo
Partido Comunista Chinês.
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