Brasil e México
perderam de goleada
Péricles Capanema
A eleição de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) representou
derrota acachapante para todos os povos da América Latina. Repito, não só o
México perdeu (estamos diante de um grande país, não é uma Nicarágua, um El
Salvador); todos perdemos de goleada. O caudilho eleito assume em 1º de
dezembro, e só nos resta esperar prevenidos o pior, pois sentiremos logo
efeitos deletérios da atuação de AMLO.
Parafraseio dito conhecido: diga-me quem te elogia e
te direi quem és. O político mexicano está sendo festejado por líderes
representativos de políticas de esquerda que sempre trouxeram miséria e
sofrimento para seus povos. E há muita mentira pelo meio. Primeiro, os elogios.
Depois, as mentiras.
Evo Morales afirmou que o triunfo de Obrador escreverá
“nova página na história da dignidade e soberania latino-americana”. Nicolás
Maduro saudou-a como “o triunfo da verdade sobre a mentira”. Dilma Rousseff
imagina, a eleição “será uma vitória não apenas
do México, mas de toda a América Latina”. Cristina Kirchner, no mesmo diapasão,
o triunfo de Obrador “é uma esperança não apenas para o México, mas para toda a
região”. Chega... O tom é o mesmo nos milhares de congratulações e manifestações
de alegria dos diferentes quadrantes da esquerda, desde a mais carnívora, até a
mais herbívora. Raul Castro, Maduro, Evo Morales sentem que a situação
deles melhorou. Melhorou também a de Lula no Brasil. Se estão satisfeitos, coisa boa não vem por aí, fico triste.
Falo agora a
respeito das mentiras. Muita gente vem dizendo que é o primeiro triunfo da
esquerda no México. Santo Deus! Lá a esquerda está no poleiro desde começos do
século 20. E vou deixar de lado o século 19. Aqui reside boa parte dos motivos
pelos quais o México não vai para a frente. Empantanou no retrocesso e afundou
no atraso, apesar de condições potencialmente favoráveis, como a riqueza de
petróleo.
Está todo
mundo esquecido de que o México foi o país escolhido por Leon Trotsky para se
asilar (1937), de que o governo mexicano nunca rompeu com F. Castro? Por anos, foi
o único país latino-americano a manter relações com o ditador. O PRI, no poder
de 1929 a 2000 por meio da ditadura efetiva, da fraude e da corrupção, é membro
da Internacional Socialista. Tudo isso deixa sequelas.
Apesar da
história incontroversa, o site do PT, em artigo celebrando a vitória de López
Obrador, descaradamente proclama: “Sua vitória põe fim a um domínio de quase 90
anos da direita e centro-direita na política mexicana”. Na verdade, apenas de
2000 a 2012 o México teve governos com propensão liberal na economia.
Repito o
óbvio, a esquerda vem infelicitando o México há décadas. Ninguém padece
impunemente o infortúnio de governos de esquerda. E com isso, a carga de
coletivismo, burocratização da vida, intervencionismo, estatismo, corrupção lacera
fundo os ombros do povo mexicano. Tudo o indica, tais mazelas vão se agravar
nos seis anos à frente, período do mandato de López Obrador.
Só um exemplo.
A reforma agrária mexicana, medida
xodó de todo tipo de esquerda, começou forte na década de 10 do século 20. Esse
disparate entre nós deu seus passos iniciais bem mais tarde, com a criação da
SUPRA (Superintendência de Reforma Agrária) em 11 de outubro de 1962 no governo
João Goulart. Depois se agravou muito com os desastres em série que conhecemos.
No México, de 1911
a 1992 (71 anos com espada de Dâmocles sobre os produtores) o governo
expropriou mais de 100 milhões de hectares de terras, o equivalente a dois
terços das terras agriculturáveis. Melhorou a situação do campo? Não, como
aqui, foi desastre ininterrupto, dinheirama dilapidada, fracasso de 70 anos.
Hoje, parte dos camponeses foge espavorida rumo aos Estados Unidos (onde
ninguém pensa em reforma agrária), para
trabalhar lá como mão de obra barata, ganhando muito mais que no seu país natal,
em que foram presenteados pela reforma
agrária ‘redentora’. Acontece o mesmo em Cuba, agora na Venezuela. Os
pobres tentam delas escapar, chicoteados pela fome e desesperança, têm horror dos
efeitos das políticas sociais generosas de seus redentores socialistas. Debandam
atraídos pela esperança de dias melhores nas egoístas sociedades capitalistas.
Queria falar
de outra coisa ainda. A revolução mexicana, da qual Obrador é herdeiro
confesso, perseguiu a Igreja, roubando-lhe terras, nacionalizando propriedades,
fechando conventos, proibindo culto público e educação religiosa, vestes
talares nas ruas, assassinando padres, freiras e fiéis. Foi das mais furibundas
manifestações do ódio religioso nas Américas. Perseguidos, morreram como
mártires ou soldados cerca de 30 mil cristeros
durante a insurreição dos católicos inconformados (a reação cristera). Muitos deles foram
beatificados ou canonizados pela Igreja.
Entre todos,
avulta-se a figura do sacerdote jesuíta Miguel Pro, fuzilado. Tombou bradando
“Viva Cristo Rei”. São dele os extratos de uma poesia-oração a Nossa Senhora
das Dores que transcrevo abaixo:
Deixai-me
viver a Seu lado, minha Mãe
Para fazer
companhia a sua solidão
Eu não quero
no caminho da minha vida
Desfrutar da
alegria de Belém, adorando o Menino Jesus
Eu não quero
desfrutar em sua humilde casa de Nazaré
Eu quero em
minha vida
O desprezo e a
zombaria do Calvário
Quero, ó
Virgem dolorosa, estar perto de ti, em pé.
Beato Miguel
Pro, rogai por nós, ajudai o México, sua pátria em perigo, enormemente
necessitada de sua intercessão.
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