Campeão
em longevidade, Japão usa oito vezes
mais agroquímicos do que o Brasil
Marcos
Tosi
Na proporção do uso de
agroquímicos pela quantidade de terras cultivadas, Brasil fica atrás de países
como Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
A imagem de que o Brasil
é o país que mais utiliza agroquímicos no mundo é desconectada da realidade e
apenas alimenta mitos e inverdades sobre a segurança dos alimentos produzidos
no país.
Na
proporção de área cultivada, por exemplo,
o Japão utiliza oito vezes mais defensivos agrícolas. É o que aponta estudo
da Universidade Estadual Paulista em Botucatu (Unesp) apresentado no fórum
Diálogo:
Desafio 2050 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promovido em São
Paulo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO), Embrapa, Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e Associação
Nacional de Defesa Vegetal (Andef).
“Dizer que somos campeões mundiais no consumo
de agrotóxicos é uma abordagem simplista e até irresponsável”, diz o professor
Caio Carbonari, um dos autores da pesquisa.
Segundo ele, apesar de
utilizar o maior volume de defensivos (em função do tamanho continental), o
Brasil está em 7º lugar na proporção com a quantidade de terras cultivadas,
ficando atrás de países como Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
E se a análise for pelo
volume de alimentos produzidos, o país cai para 11º no ranking do uso de
defensivos, e passam à nossa frente Argentina, Estados Unidos, Austrália e
Espanha.
“Estamos numa situação
bastante confortável quando olhamos os dados com a ótica mais adequada. Temos
sido muito eficientes no uso da terra e dos insumos, e essa sustentabilidade só
é possível por causa ciência e dos agroquímicos”, avalia o pesquisador. “A
imagem que se cria do consumo de agrotóxicos no Brasil está desconectada de
nossa realidade”, completa.
Mesmo os critérios de
proporcionalidade não são os mais adequados para tratar do tema. A situação do
Japão é emblemática disso. Na proporção de área cultivada, os japoneses
utilizam oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil.
“Não dá para apontar o
dedo para o Japão e dizer que o alimento deles está contaminado, que está
prejudicando as pessoas. Afinal, a gente sabe da qualidade de vida e da
longevidade dos japoneses”, afirma Carbonari.
Segundo dados de 2016 da
Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa média de vida da população
japonesa é de 83,7 anos, a mais alta do planeta. No Brasil, a média é de 75
anos.
Qual o melhor critério
então para medir o uso equilibrado de agroquímicos? O índice mais adequado
seria o EIQ, que vem das iniciais, em inglês, de Quociente de Impacto
Ambiental, referenciado pela FAO e pela literatura científica moderna.
O EIQ leva em conta os
riscos associados ao uso dos agroquímicos nas mais diversas situações,
incluindo o mecanismo de ação na planta, a degradação e persistência no solo, e
os níveis de toxidade e possíveis riscos de contaminação da água, dos alimentos
e do próprio homem, seja o trabalhador rural, seja o consumidor final.
O trabalho de pesquisa
analisou dados do uso de agroquímicos nas culturas de soja, milho, algodão e
cana de açúcar entre os anos de 2002 e 2015.
Em todos os principais
quesitos, houve diminuição significativa dos riscos. Para o trabalhador rural,
o risco de contaminação diminuiu 54,2%, enquanto para o consumidor a queda foi
de 37% e, para o meio ambiente, de 33%.
“Desde 2004 a gente vem
numa tendência clara de equalizar, de estacionar o consumo de agrotóxicos no
Brasil; ou seja, na contramão de toda a imagem que se construiu na sociedade
brasileira”, diz Carbonari.
“Não existe crescimento
exacerbado como se divulga. E se falarmos em termos de risco, estamos em
situação extremamente positiva, com quedas acentuadas. Comparados com outros
países, em qualquer uma dessas culturas, estamos em situação igual ou melhor”.
Para Elisabeth
Nascimento, professora de toxicologia da Universidade de São Paulo, compreender
a avaliação dos riscos é fundamental para mudar a percepção das pessoas.
Ela lembra que desde os anos
80 os produtores rurais vêm sendo orientados sobre como usar corretamente o que
chama de “praguicidas”.
Para se manterem
legalizados no mercado interno, e mesmo para exportar, os grandes produtores
sabem da necessidade de seguir o receituário agronômico.
A obediência aos
parâmetros é fiscalizada, entre outros, pelo Plano Nacional de Controle de
Resíduos e Contaminantes, do Ministério da Agricultura, e pelo Programa de
Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária.
“Temos de lembrar também
que os defensivos não são tão baratos assim, então o produtor procura usar nas
doses recomendadas”, afirma.
A pesquisadora acredita
que a população deveria ser mais bem informada sobre o conceito de IDA – ou
seja, de Ingestão Diária Aceitável.
“Temos hoje no país
inúmeros instrumentos que podem nos dizer, com certeza, quanto podemos comer
sem correr riscos. Claro que não existe risco zero e nem segurança absoluta. O
que mata não é um pouco disso, um pouco daquilo, mas a exposição crônica”,
argumenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário