Desdobramentos do cenário
político-ideológico nacional
Ronaldo Ausone Lupinacci*
Nestes
dias confusos de 2019 o futuro nos preocupa. Por isso, estou empenhado em
discernir os possíveis desdobramentos do atual cenário nacional, que conserva
em boa parte a efervescência oriunda da polarização político-ideológica
verificada nos meses que antecederam as eleições de 2018. Não é fácil a tarefa.
De qualquer forma, para avançar nas prospecções mostra-se necessária a reflexão
sobre algumas realidades.
A
principal “realidade” corresponde ao comunismo, com suas diversas variantes,
ainda que muitos assim não entendam. O comunismo é uma seita filosófica
imperialista que conta com diversificado aparato cultural, publicitário,
político-partidário e organizacional. A eficácia de tal aparato pode ser medida
pelo fato de que o comunismo se apoderou, ao longo do século passado, de
inúmeros países, alguns dos quais detentores de grande peso no equilíbrio de
forças mundial, como é o caso da Rússia e da China. Os valores metafísicos da
seita consistem na igualdade absoluta e na liberdade moral completa para os
seres humanos.
Para
atingir tal quimérica igualdade seria necessário suprimir a propriedade
individual dos bens; porém como a supressão do direito de propriedade encontra
oposição na imensa maioria da sociedade, os comunistas cercearam as liberdades
estabelecendo ditaduras ferozes nos países por eles conquistados. Veja-se
atualmente o que ocorre na Venezuela e na Nicarágua. Além disso, afora a afinidade
do comunismo com a libertinagem (“permissivismo”), volta-se também contra a
instituição natural da família, por ser esta a principal fonte permanente de
desigualdades.
Na
década de 80 do século passado o comunismo – sem alterar suas metas últimas do
coletivismo autogestionário – optou pela revolução cultural destinada a
modificar as mentalidades, os costumes para numa fase posterior – depois de
destroçado o senso moral dos povos – implantar o coletivismo dos bens. Trocou a
luta armada pela guerra psicológica implementada através da propaganda
desenvolvida nos meios de comunicação social, e, pela ação de seus agentes
espalhados nas escolas, organizações profissionais e agrupamentos religiosos[1].
Esta
substituição de diretrizes foi pormenorizada e repetidamente proclamada pelos
comunistas e suas forças auxiliares, notadamente os partidos socialistas da
Espanha e da França.
Aqui no
Brasil a nova orientação foi adotada pelo PT e seus satélites (PSOL, PC do B,
etc.). Assim se explica que no primeiro mandato presidencial de Lula tivesse
sido seguida a política macro-econômica ortodoxa, com o que o governo injetou
dose cavalar de sonífero na população, deixando-a anestesiada pela ilusória
bonança econômica. A agenda da revolução cultural foi tocada com lentidão a fim
de que a sociedade não se apercebesse do jogo, o que de fato aconteceu.
Este
artifício de despistamento prosseguiu até quase o final do primeiro governo de
Dilma Roussef. Em 2013 eclodiram os primeiros sinais do descontentamento difuso
que ia tomando conta da sociedade com o avanço do programa socialista. O
processo de enfraquecimento do governo esquerdista se acentuou, e, prosseguiu
até o “impeachment” da presidente.
Iniciada
a movimentação preparatória das eleições de 2018 emergiu uma extensa afirmação
dos tradicionais valores religiosos, morais e cívicos que circulavam de forma
mais ou menos latente na maioria silenciosa. Tal afirmação teve como
instrumentos as redes sociais através das quais as pessoas podiam se comunicar
livremente, expressando suas ideias.
Este
movimento desde logo enfrentou a hostilidade ostensiva dos grandes grupos de
mídia que passaram a atacar diuturnamente o candidato Jair Bolsonaro, o único
que havia encampado em seu programa a restauração daqueles valores. Afora
possíveis antipatias em relação a Bolsonaro, o alvo de tal campanha consistia
exatamente na maioria silenciosa a ser intimidada e desorientada.
Como
era de se esperar, algumas iniciativas do novo governo despertaram a ira das
esquerdas, que se aproveitaram para caçar pretextos destinados a fomentar a
intriga, a maledicência, a incompreensão (posse de armas, acordo de Paris,
oposição à ideologia de gênero, entre outras). E, para levar água ao moinho das
esquerdas contribuíram provocações, bravatas e inconsistências oriundas de
setores do governo. Esta é a segunda realidade.
Bolsonaro
e aqueles que o apoiam precisam ter presente que os adversários irão utilizar
todos os artifícios disponíveis para a sabotagem da nova administração, visando
a desestabilização do País. Quererão, sobretudo, indispor a opinião pública
contra o Governo e obstruir a implantação de providências saneadoras.
Em outras
palavras, o comunismo com suas novas fachadas na Rússia, na China e alhures, e,
disperso em postos chaves da sociedade ocidental não vai se conformar em perder
o Brasil uma segunda vez (como em 1964), tanto mais em razão da tendência ao
conservadorismo revigorada em diversos pontos do planeta, e, do peso do nosso
País na geopolítica regional e mundial (“Para onde for o Brasil, irá a América
Latina” disse com razão um importante líder cujo nome não me recordo)[2].
Plínio
Correa de Oliveira, o principal pensador católico brasileiro ao longo do século
XX, em adendo à sua obra “Revolução e Contra-Revolução” advertiu que – frente
às dificuldades de expansão – o comunismo iria concentrar suas investidas não
sobre seus companheiros de viagem e simpatizantes, mas sobre os neutros
irredutíveis e sobre os adversários através de duas linhas de ação: a) iludir e
adormecer os neutros irredutíveis (centristas), e; b) dividir a cada passo,
desarticular, isolar, aterrorizar, difamar perseguir e bloquear os adversários
(direitistas). Parece-me, portanto, que na atual situação do Brasil o comunismo
irá intensificar tais linhas de ação da guerra psicológica revolucionária, pois
as vias da revolução armada, e, do golpe de estado se mostram pouco
transitáveis.
Confesso
que este texto pode se mostrar árido uma vez que condensa a resultante de um
enorme conjunto de fatos relatados pelo noticiário do dia a dia e de difícil
síntese. Mas, para ilustrar a argumentação com um único episódio me
reporto ao ataque à embaixada brasileira em Berlim, pichada com dizeres
“antifacistas”[3].
Ora,
parece claro que o comunismo está mobilizando seus agentes até no exterior para
denegrir a imagem do Brasil, atribuindo falsamente ao nosso governo coloração
fascista, ideologia já sepultada no lixo da História, silenciando inclusive
sobre o caráter socialista do fascismo. Nota-se o objetivo de isolar o Brasil e
indispô-lo com as democracias liberais existentes no mundo[4]. E, deste modo preparar pressões
políticas e econômicas, e ao mesmo tempo amedrontar o setor conservador
nacional, propenso a ceder tais pressões.
Portanto
o desdobramento que se apresenta mais provável é do acirramento entre as
posições do nosso governo e de seus apoiadores, e, as posições das esquerdas
manobradas pelo comunismo em inúmeras questões tais como a da moral sexual, do
porte de armas, do combate à criminalidade, das populações indígenas, da
reforma agrária, da política externa, da desestatização, da liberação da
economia. Vale a pena lembrar que o comunismo mais de uma vez ameaçou incendiar
o País.
O novo
governo deve prosseguir em seu programa de saneamento sem se envolver em polêmicas
inúteis que só se prestam a fornecer pretextos à demagogia dos adversários.
Basta fundamentar solidamente seus propósitos. E, não cair nos vícios da “velha
política” que se quis sepultar em 2018.
* O
autor é advogado e pecuarista
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