Artigo sem título
Péricles Capanema
Medida inicial promissora foi o título que dei de
saída para o presente artigo. Cancelei-o, não encontrei substituto. Esperançado,
iria discorrer sobre a notícia seguinte “Governo Bolsonaro paralisa reforma
agrária e demarcação de territórios quilombolas. Segundo o INCRA, cerca de 250
processos foram interrompidos; órgão está subordinado ao Ministério da
Agricultura”, veiculada na rede por vários órgãos de divulgação em 8 de janeiro.
Assegurava a informação, como está acima, o governo
Bolsonaro havia determinado a paralisação da reforma agrária e da demarcação de
territórios quilombolas. Aleluia! Ufa! Até que enfim, no caso, a verdade evidente,
depois de levar surras cruéis por várias décadas, começava a ganhar a disputa contra
a mistificação!
Minha alegria durou 24 horas; a paralisação deixou de
existir, segundo fontes do governo em comunicado do dia 9 de janeiro.
Decorrência lógica, a farândola demolidora poderia voltar logo a infernizar a
vida dos brasileiros. A satisfação murchou, sufocada pela preocupação.
Por que coloquei de primeiro no título, medida inicial
promissora? Era passo inicial (desculpem o jogo de palavras, paralisar aqui seria
um grande passo); havia razões para crer, continha promessa de caminhada na
mesma direção. Durou pouco o alívio de ser informado, finalmente se começava a estancar
a sangria em corpo ferido.
Todo mundo ligado ao agro sabe, nesse assunto, a
medida normal, enraizada fundo no mais elementar bom senso, vai muito além. É de
um óbvio ululante: extinguir a reforma agrária. Ponto final. Sumir com ela do
panorama. Simples assim. E, congruente, abolir a legislação tingida de vermelho
que a embasa, devolvendo, em seguida, quando ainda factível [essa maluquice no
Brasil já tem mais de 50 anos, a SUPRA é de 1962, o Estatuto da Terra é de 1964
e a Revisão Agrária Paulista é anterior, de 1960], aos donos legítimos, muitos
em situação desesperadora, o que o governo roubou, para que, de olho no
mercado, façam a terra produzir. A providência favorecerá a paz no campo, o
aumento da produção, a harmonia nas relações patrão-empregado, bem como ajudará
a diminuir, quando não eliminar, a pobreza rural.
Largas faixas da opinião nacional têm sido escravas
dóceis desde há décadas de preconceito politicamente correto, delirantemente absurdo.
Qual preconceito? De que a reforma agrária é exigência da justiça, ajuda os
pobres. Assim, ser contra a reforma agrária equivaleria a ser contra os pobres
e a favor do latifundiário.
Os fatos provam, é falsidade deslavada. A reforma
agrária no real piora a situação dos pobres e ajuda aproveitadores, agitadores
e desonestos. Relembro a opinião abalizada e serena do agrônomo Xico Graziano,
antigo presidente do INCRA: “Devastador. Assim
classifico o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os
assentamentos de reforma agrária no Brasil. Foram identificados 479 mil
beneficiários irregulares. Escandaloso. Esbórnia agrária. Foi nesses termos que
a Folha de S. Paulo tratou o assunto em editorial (edição de 08/04/2016),
afirmando que tamanho desvio ‘não surge do nada, só se constrói, anos a fio,
com a omissão ou a conivência de servidores do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA)’. Triste conluio do governo do PT, com a
parceria do MST e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG). A malandragem é assustadora: foram identificados 248,9 mil assentados
com local de moradia diferente do lote concedido; 23,2 mil já contemplados
antes pela reforma agrária; 144,6 mil funcionários públicos; 61,9 mil
empresários; 1.017 políticos titulares de mandato eletivo, sendo 847
vereadores. Sem-vergonhice. Tétrico. O TCU aponta 37,9 mil pessoas mortas na
lista dos beneficiários da reforma agrária. Entre os vivos, 19.393 cadastrados
são donos de veículos de luxo, como Porsche, Land Rover e Volvo. Picaretagem pura.
[...] Vem de longe a existência de um "mercado de terras", em que se
vendem, se compram e se arrendam lotes nas barbas do INCRA. Tudo proibido, mas
rola fácil. Propina descarada. A cada análise crítica, os ideólogos da chamada
"esquerda agrária" bradam contra nossos alertas. Para nos
desqualificar, acusam-nos de defensores do agronegócio. Eles, os puros,
defendem a "agricultura familiar" e, mais recentemente, a
"agroecologia". Caiu a máscara. Já mostrei anteriormente como uma
série de convênios governamentais destina milhões às organizações agrárias
ligadas ao esquema da corrupção no campo. Dinheiro público na veia do
"exército vermelho", aquele que Lula diz comandar. Basta acessar meu
site www.xicograziano.com.br e conhecer a lista completa das ONGs, com os
respectivos valores que receberam nos últimos 10 anos. Definitivamente, acabou
a utopia da reforma agrária. [...] Há muita sujeira escondida debaixo do
tapete. Podridão agrária.”
Quem age contra a reforma agrária, na prática já atua a
favor dos pobres. E ajuda o Brasil a evitar o destino da Venezuela (10.000.000%
de inflação anual, êxodo dos miseráveis, ladroagem, fora o resto). A aliança espúria,
beirando a oficial, MST-INCRA-CIMI-PT-ONGs-CONTAG, protegida por cima pelo
estímulo ou conivência dos partidos que governaram o Brasil nos últimos lustros
nos empurravam para o destino da Venezuela.
Lembro alguns dos males da reforma agrária brasileira,
obsessão besta e destruidora da academia, de políticos e de eclesiásticos desde
os anos 50. Dificulta a produção, lesando o bem comum. Inibe investimentos na
pecuária e na lavoura, empobrecendo investidor, patrão e operário. Cria
insegurança jurídica, diminuindo emprego e renda. Torra dinheiro público, sem
aumentar a produção e salários, impedindo a aplicação de montanhas de dinheiro
em educação, saúde e segurança. Sem falar na comilança e roubalheira que
propicia para políticos, dirigentes de órgãos públicos, chefes de ongs,
negociantes de lotes nos assentamentos.
Por que fiquei sem título? Pela notícia seguinte: “O
presidente substituto do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), Francisco Nascimento, revogou os memorandos circulares do próprio
órgão do último dia 3 que haviam paralisado o programa de
aquisição de terras para reforma agrária no país. A decisão foi
tomada às 22h13min desta terça-feira (8)”.
O que houve? Repito o que afirmei em artigo passado, de
conhecimento público: o INCRA fede. Dentro de seus escritórios ao longo dos
anos foram planejadas invasões de terras no Brasil, milhares talvez, a ali
depois protegidas. Seus relatórios em sem número de vezes falsearam a situação
da propriedade ameaçada, desvalorizavam-na (roubo), para assim tornar mais
fácil a sanha expropriatória. Suas superintendências sempre foram valhacoutos
de políticos extremistas, incompetentes e corruptos. Seus assentamentos são
foco permanente de criminalidade, bebedeira, roubalheira. Perguntem aos
vizinhos dos assentamentos como é trágica a situação deles. E agora, o INCRA
manda dizer que a coisa não mudou? Santo Deus!
Logo a seguir falou Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário
especial de Assuntos Fundiários. Suas palavras, de sabor agridoce, não
espancaram a preocupação. Afirmou em resumo que o INCRA não tem recursos para
fazer a reforma agrária no País [se os tivesse, faria?]. Segundo ele, as
atividades de reforma agrária tocadas pelo INCRA não foram paralisadas: “É
claro que o INCRA vai continuar funcionando, só que dentro da lei. A realidade
hoje é que não tem mais dinheiro no INCRA, não tem dinheiro para fazer a
reforma agrária.” Seria extraordinário se essa máquina de destruição parasse de
funcionar.
Ainda vai continuar a moer o Brasil? Sabem quantos
hectares já foram utilizados para a reforma agrária? 88 milhões, 880 mil
quilômetros quadrados. Torraram bilhões de reais (dinheiro seu) que poderiam ter
sido utilizados para melhorar a situação dos pobres na saúde, educação,
segurança. E essas terras hoje estariam produzindo muito mais, exportando mais,
pagando melhores salários aos que nela labutassem. Sem falar que boa parte da
dinheirama foi para ongs, políticos, aproveitadores, MST, funcionários do INCRA
e vai por aí afora.
Espero que um dia no Brasil triunfe o bom senso mais
elementar, e aí extinguiremos esse disparate – vou mudar, extirparemos esse
tumor cancerígeno. Continuamos, por enquanto, esbofeteando o óbvio ululante.
Talvez daqui surgisse um bom título para o artigo, mas, por comodidade, fica
hoje sem cabeçalho. Última confissão, tenho esperança que o bom senso acabe
triunfando, pois tenho visto passos nessa direção. Não falei da questão
quilombola. Faltou espaço. Mas é semelhante em suas linhas gerais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário