sábado, 29 de julho de 2017

MST a serviço de quem?


O MST volta à oposição

Com forte viés midiático, movimento, que passou anos sem promover grandes ações coordenadas, tenta se reposicionar com invasões em terras de "vilões" do poder brasileiro.


Protesto do MST em Brasília

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganhou o noticiário internacional nesta semana ao lançar uma série de ações coordenadas de invasões de fazendas e terrenos de "vilões" do poder brasileiro.

Entre os alvos estão propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), do senador e presidente do PP, Ciro Nogueira, e do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.

Também foram alvo uma fazenda de uma das empresas do ex-bilionário caído em desgraça Eike Batista e uma propriedade de João Baptista, o coronel Lima, um amigo pessoal do presidente Michel Temer, além de um terreno do ex-ministro Henrique Eduardo Alves, um aliado do governo que hoje está preso.

Com forte viés midiático, as invasões foram feitas sob o lema de uma campanha com o título "Corruptos, devolvam nossas terras!".

Os canais em redes sociais do movimento chegaram a publicar a ficha dos alvos, com fotos dos personagens atingidos acompanhadas com um selo que dizia "corrupto".

Segundo João Pedro Stédile, líder nacional do MST, as ações querem chamar a atenção para o fato de que corruptos canalizam dinheiro de desvios para a compra de terras.

"Tomamos essa decisão para chamar a atenção da opinião pública e internacional", disse "Essa burguesia corrupta é tão 'desvergonzada', como dizem os espanhóis, que eles roubam dinheiro público e compram terras."

Gilmar Mauro, da coordenação nacional do movimento, também descreveu a tática do grupo.

“Queremos mostrar que muitas terras no Brasil adquiridas no Brasil foram fruto do roubo e da corrupção - algo que, afinal de contas, todo o povo brasileiro paga", disse. "Nós queremos produzir nas terras dos corruptos alimentos saudáveis e gerar empregos", disse. "Iremos ocupar muitas outras fazendas e queremos o apoio e participação de todo o povo brasileiro."

Tática

Mesmo antes do início do governo Temer, fazendas ligadas a políticos foram alvo de ações do MST – uma propriedade do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), por exemplo, foi invadida em 2015, uma fazenda do filho da ex-ministra Kátia Abreu (PMDB-TO) foi alvo em 2013.

Mas essa é a primeira vez em anos que o movimento lança uma iniciativa tão ampla e coordenada.

A ação ocorre também em um momento delicado para o governo, que batalha para conseguir votos necessários para derrubar a denúncia criminal contra Temer, que pode ser votada pela Câmara na semana que vem.

Suspeito de corrupção, o governo Temer é reprovado por 70% dos brasileiros, segundo a última pesquisa Ibope.

Para Xico Graziano, ex-presidente do Incra no governo FHC e ex-deputado pelo PSDB e autor de diversos livros sobre a questão agrária, as ações do MST em fazendas de figuras associadas ao governo Temer e de outras execradas pela opinião pública tenta pegar carona nessa rejeição para receber aplausos da sociedade. Extremamente crítico do movimento, ele classifica o MST como organização "quase-militarista".

"O MST sempre se moveu estrategicamente, com ações táticas coordenadas, desde quando se tornou uma organização quase-militarista, disfarçada em nome da justiça social", disse.

Ele também afirmou que as ações são uma forma de Justiça com as próprias mãos. "Acho condenável, um absurdo ... querer fazer Justiça com as próprias mãos. Assim vingam os justiceiros, o crime organizado como PCC. No fundo, mostra a falência do Estado brasileiro, destruído pela corrupção e pela irresponsabilidade fiscal", disse.

Resposta política

Com a mudança de governo em 2016, o MST, que sempre foi próximo do PT, perdeu um importante canal de comunicação em Brasília.

Há duas semanas, foi aprovada uma lei que prevê mudanças na reforma agrária, como a exigência de que os assentados tenham um perfil técnico de agricultor e promover uma "emancipação" dos assentamentos após 15 anos, cortando a ligação deles com eventuais convênios do Incra.

A lei deve afetar movimentos como MST, que algumas vezes recrutam parte dos seus seguidores em áreas urbanas.

Para Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo e professor da USP, as ações recentes do MST servem para mostrar que o movimento ainda está de certa forma ativo após passar anos sem organizar grandes invasões.

"Em 2007 e 2008 o MST deixou de fazer ocupações tão amplas, houve uma queda. Mas agora o movimento avaliou que precisava dar uma reposta política, se posicionar. Eles mostram que estão vivos, que estão aqui e que podem voltar a atuar.
Existem conflitos internos dentro do MST sobre a tomada de posições mais incisivas de ocupação de terras. Durante o governo do PT, eles podiam contar com um canal confortável com o governo, mas agora isso não existe mais, e eles precisam se adaptar.
Ainda não é um retorno ao sistema anterior a 2007 e 2008, mas mostra que o MST volta para a oposição, fazendo ocupações políticas, que servem como chamariz". 


Fonte: DW Made for minds.

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