segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Da Terrabrás ao tetobrás







Qual o próximo passo camarada?


Leo Daniele





 
 
 
Vladimir Ilich, mais conhecido como Lênin, é um bom conselheiro para quem procura maus conselhos. Autor de uma obra sobre o papel dos sovietes, ele daria, se ainda estivesse vivo, algumas indicações para as suas bases brasileiras. Coçando a barba rala, ele diria a um porta-voz de seus seguidores daqui:
— Vocês já têm um número razoável de sovietes no campo. Até estão conseguindo o prodígio de criar sovietes indígenas, sob o pretexto de que estes são os autênticos brasileiros! Mas falta executar a mesma performance nas cidades, nas indústrias e no comércio.
— Não estamos tão atrasados assim, diz seu interlocutor. Vale a pena lembrar a edição do Decreto n.º 8.243/14, que institui conselhos (ou sovietes) junto aos diversos ministérios.
— Bem. Mas quando vejo em São Paulo, e também em tantas outras cidades do Brasil, uma floresta de prédios, fico pensando como seria bom (para o partido, é claro) se a cada uma daquelas pontas correspondesse um soviete.
— É verdade. No entanto, temos um problema, que é o fracasso da reforma no campo. Segundo Zander Navarro, antigo ativista da Reforma Agrária, “é preciso reconhecer desapaixonadamente o fato agora definitivo: morreu a reforma agrária brasileira. Falta apenas alguma autoridade intimorata para presidir a solenidade de despedida”.(1)

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A Reforma Agrária morreu mesmo? Ou está jogando com vistas a migrar, no silêncio, para uma outra área? A área  urbana, por exemplo, a tributária e depois a empresarial? É bom pensar nisso!
Depois da terrabrás, agora temos a tetobrás. Como demonstrou Roldão Arruda  no artigo Reforma urbana toma lugar de reforma agrária”  (2), trata-se da reforma esquerdista dos tetos, das residências, dos edifícios, ou seja, a sinistra reforma urbana.
Dentro da lei? — Não parece, segundo Natália Szermeta, uma das coordenadoras do MTST:

“Não vamos ficar de braços cruzados. A gente vai mostrar que não está de brincadeira, que a gente cansou. Vamos botar a cidade de São Paulo para chacoalhar, para tremer”.(3)

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A tal respeito, retomaria o camarada Lênin:
— Depois da reforma urbana, trabalharemos intensamente com os sem-teto, a fim de criar uma tetobrás. Com isso, teríamos avançado na execução do esquema da dualidade de poderes!
— Ops! O que é isso? Pergunta, curioso, seu interlocutor.
— Vejo que você não leu meu livro sobre a dualidade de poderes!(4)Você está atrasado! Trata-se de formar um grande número deconselhos populares – soviete quer dizer, justamente, conselho popular; é o que já está em projeto no Brasil. E de unificar, de maneira real ou fictícia, esses conselhos, tornando-os um poderoso instrumento, primeiro de pressão, depois de mando. Seria o que vocês chamam de revolução bolivariana em marcha.

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Como se fosse possível espatifar duas vezes com o mesmo avião ou voltar a afundar com o mesmo navio, a esquerda parece desejar reincidir no mesmo fracasso da Reforma Agrária. Só que agora nas cidades. É a tetobrás.
Vejamos o que se passou com a Reforma Agrária. Ela entrou em cena em grande escala, com muito barulho e demagogia. Mas os sinos tocaram! Ouviu-se o alarme em todo o Brasil. Travou-se enorme polêmica. De um lado, a esquerda católica, capitaneada por D. Hélder Câmara, que deu no que deu... Na corrente contrária, sobressaía Plinio Corrêa de Oliveira e o livro Reforma Agrária – Questão de Consciência. E, ao mesmo tempo, nascia TFP. A batalha foi feroz.
Como escreveu o príncipe Dom Bertrand de Orleans de Bragança na introdução à edição comemorativa dos 50 anos dessa obra, “nenhum outro livro causou tanta repercussão e influenciou tanto o debate ideológico e político brasileiro no século XX”.

Passou-se o tempo e chegou a hora da verdade. Como diz Zander Navarro, “morreu a reforma agrária”. Agora, vejamos qual será a sorte da reforma urbana.
Qual o próximo passo nessa avançada maluca e anticristã? Ora, a reforma industrial! Sempre é bom pôr as barbas de molho!

(*) Leo Daniele é escritor e colaborador da ABIM.

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