... setor agropecuário
(Continuação)
No mês de setembro veio a
lume um artigo com título que chega a surpreender, pois era raro em nossa
imprensa: “Pá de cal na Reforma Agrária”. O autor não é fazendeiro, mas sociólogo e professor da UFRGS, Zander Navarro,
antigo defensor e ativista da Reforma Agrária.
Navarro, em matéria para O Estado
de São Paulo (21/09/13), explica:
"Usei o mesmo título em artigo publicado em
1986, indignado com a afronta do governo Sarney ao nomear um latifundiário para
o INCRA. Naquela década me envolvera no ativismo a favor da reforma agrária.
Não obstante o anúncio pessimista, o esforço do conjunto de militantes
contribuiu para animar a única política de redistribuição de terras já feita no
Brasil, iniciada em 1996”.
“Desde então, em torno de 1 milhão de
famílias recebeu suas parcelas e aproximados 80 milhões de hectares foram
arrecadados para constituir os assentamentos rurais — mais de três vezes a área
de São Paulo".
Para o autor,
chegou o momento de fazer o seu funeral: "Mantenho o título acima porque é preciso reconhecer desapaixonadamente
o fato, agora definitivo: morreu a reforma agrária brasileira.
Falta
apenas alguma autoridade intimorata para presidir a solenidade de despedida.
Atualmente a ação governamental nesse campo é um dispendioso e inacreditável
faz de conta, sendo urgente a sua interrupção".
E Navarro
continua tratando da agonia do MST e da evasão dos assentamentos:
"Outro fator a ser considerado diz respeito
às organizações que demandam reforma agrária, responsáveis pelas pressões que
ativaram esta recente “bolha” redistributiva.
O MST agoniza simultaneamente ao
desaparecimento da reforma agrária, a razão de seu nascimento. Não soube refundar-se
nessa nova fase do desenvolvimento agrário e vai se apagando melancolicamente”.
“Seu consolo é que fará boa figura nos livros de História.
E a Contag, poderosa em razão de sua capilaridade, insiste na bandeira
empurrada somente pela tradição. Seus dirigentes sabem ser outro o maior
desafio: tentar salvar da desistência os milhares de pequenos produtores
ameaçados pelo acirramento concorrencial instalado no campo".
E mostra o
contraste: "Outra razão a ser
considerada decorre do desempenho da agropecuária no mesmo período, o qual
inundou os mercados com volumes crescentes e, graças ao espetacular aumento da
produtividade, barateou os alimentos".
"Tal transformação eliminou o velho
argumento econômico da necessidade da reforma agrária e, se a população rural
mais pobre migrou para as cidades, igualmente a justificativa social deixou de
existir”.
"Mas há ainda um aspecto decisivo: oferecer uma
parcela de terra a famílias rurais não produz mais nenhum efeito prático,
apenas garante uma sobrevida temporária. Em nossos dias, chegar à terra própria
nada significa para os mais pobres do campo”.
“Produzirá a chance do autoconsumo ocasional, antes do
abandono definitivo da terra, como evidenciado na maioria dos assentamentos
rurais. De fato, trata-se de dura vilania política, pois, enquanto a miséria no
campo se esconde atrás das muletas das políticas sociais, o governo federal
coleta números destinados meramente ao autoelogio".
Navarro aponta: "Por tudo isso, a Reforma Agrária
brasileira concluiu o seu ciclo de vida". Caro leitor, com todo o
respeito, trata-se do fim de uma excrescência que sequer deveria ter nascido,
pois os brasileiros tiveram de pagar um valor altíssimo por ela".
E conclui o
sociólogo gaúcho: "Do ponto de vista
econômico e produtivo, seu fracasso é assombroso, pois a área total dos
assentamentos é maior do que a área plantada de todos os cultivos nos demais
estabelecimentos rurais”.
“Mas, com surpresa, nada sabemos especificamente
sobre a produção dos assentamentos, enquanto a agricultura brasileira se tornou
uma das mais eficientes do mundo. É um confronto estatístico que desmoraliza
qualquer defesa de tal política. Persistir em sua continuidade, portanto, beira
a completa insanidade”.
"Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário, preso à
sua anacrônica hibernação, mantém-se impassível ante a notícia acima e
persevera em fantasias para justificar o clamoroso desperdício de vultosos
recursos públicos, na tentativa de realizar o irrealizável”.
“Ainda mais espantoso, tenta ressuscitar o que já morreu.
Resta saber se a autoridade maior do País terá a coragem de finalizar este capítulo
de nossa História".
Um comentário:
A Reforma jamais poderia "reformar" o que nunca foi "formado". O Brasil pedia uma "formação" fundiária, uma política agrária decente. Não fez e continua sem fazer. O maior exemplo é o Nordeste, com minifúndios asfixiantes, núcleos de miséria, que são úteis para o "curral de votos fáceis" dos Governos que se sucedem. Reforma Agrária, como na Rússia, é exemplo claro de GENOCÍDIO de uma população que quer comida e, não necessariamente, terra. Ninguém coloca terra no prato para comer: coloca comida.
Os Governos já enviaram nordestinos para Amazônia, Maranhão, Rondônia, Mato Grosso, etc. e todos foram assassinados pelo descaso, inércia, deboche governamental. Sobre esses "genocídios" a mídia não abre a boca. Mas exige "indenização" para os exilados de 1964 (meia dúzia), enquanto milhões de vidas foram jogadas fora para tentar um novo Brasil.
É um "Brasil das Bananas", mesmo, onde meia dúzia assume o Poder, faz o que quer, sem racionalidade, sem base técnica (como a transposição do rio São Francisco), tudo pelo Partido. Um país de moral duvidosa (nos comandantes), sem ética, sem família, sem amor ao chão onde pisamos. Um país que não lê nem sua própria História (maravilhosa), cheia de momentos épicos e todos eles (todos) fora dos livros escolares.
Coitado do Brasil enquanto houver gente como Lula, Dilma, etc. A sorte de todos nós é que há muitos, milhões de brasileiros, com pés no chão, tocando o país para frente, apesar dessas corrupções e violências gratuitas contra o cidadão.
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