O
MST volta à oposição
Com
forte viés midiático, movimento, que passou anos sem promover grandes ações
coordenadas, tenta se reposicionar com invasões em terras de "vilões"
do poder brasileiro.
Protesto do MST em Brasília
O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganhou o noticiário
internacional nesta semana ao lançar uma série de ações coordenadas de invasões
de fazendas e terrenos de "vilões" do poder brasileiro.
Entre
os alvos estão propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT),
do senador e presidente do PP, Ciro Nogueira, e do ex-presidente da CBF Ricardo
Teixeira.
Também
foram alvo uma fazenda de uma das empresas do ex-bilionário caído em desgraça
Eike Batista e uma propriedade de João Baptista, o coronel Lima, um amigo
pessoal do presidente Michel Temer, além de um terreno do ex-ministro Henrique
Eduardo Alves, um aliado do governo que hoje está preso.
Com
forte viés midiático, as invasões foram feitas sob o lema de uma campanha com o
título "Corruptos, devolvam nossas terras!".
Os
canais em redes sociais do movimento chegaram a publicar a ficha dos alvos, com
fotos dos personagens atingidos acompanhadas com um selo que dizia "corrupto".
Segundo
João Pedro Stédile, líder nacional do MST, as ações querem chamar a atenção
para o fato de que corruptos canalizam dinheiro de desvios para a compra de
terras.
"Tomamos
essa decisão para chamar a atenção da opinião pública e internacional",
disse "Essa burguesia corrupta é tão 'desvergonzada', como dizem os
espanhóis, que eles roubam dinheiro público e compram terras."
Gilmar
Mauro, da coordenação nacional do movimento, também descreveu a tática do
grupo.
“Queremos
mostrar que muitas terras no Brasil adquiridas no Brasil foram fruto do roubo e
da corrupção - algo que, afinal de contas, todo o povo brasileiro paga",
disse. "Nós queremos produzir nas terras dos corruptos alimentos saudáveis
e gerar empregos", disse. "Iremos ocupar muitas outras fazendas e
queremos o apoio e participação de todo o povo brasileiro."
Tática
Mesmo
antes do início do governo Temer, fazendas ligadas a políticos foram alvo
de ações do MST – uma propriedade do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), por
exemplo, foi invadida em 2015, uma fazenda do filho da ex-ministra Kátia Abreu
(PMDB-TO) foi alvo em 2013.
Mas
essa é a primeira vez em anos que o movimento lança uma iniciativa tão ampla e
coordenada.
A
ação ocorre também em um momento delicado para o governo, que batalha para
conseguir votos necessários para derrubar a denúncia criminal contra Temer, que
pode ser votada pela Câmara na semana que vem.
Suspeito
de corrupção, o governo Temer é reprovado por 70% dos brasileiros, segundo a
última pesquisa Ibope.
Para
Xico Graziano, ex-presidente do Incra no governo FHC e ex-deputado pelo PSDB e
autor de diversos livros sobre a questão agrária, as ações do MST em fazendas
de figuras associadas ao governo Temer e de outras execradas pela opinião
pública tenta pegar carona nessa rejeição para receber aplausos da sociedade.
Extremamente crítico do movimento, ele classifica o MST como organização
"quase-militarista".
"O
MST sempre se moveu estrategicamente, com ações táticas coordenadas, desde
quando se tornou uma organização quase-militarista, disfarçada em nome da
justiça social", disse.
Ele
também afirmou que as ações são uma forma de Justiça com as próprias mãos.
"Acho condenável, um absurdo ... querer fazer Justiça com as próprias
mãos. Assim vingam os justiceiros, o crime organizado como PCC. No fundo,
mostra a falência do Estado brasileiro, destruído pela corrupção e pela
irresponsabilidade fiscal", disse.
Resposta política
Com
a mudança de governo em 2016, o MST, que sempre foi próximo do PT, perdeu um importante
canal de comunicação em Brasília.
Há
duas semanas, foi aprovada uma lei que prevê mudanças na reforma agrária, como
a exigência de que os assentados tenham um perfil técnico de agricultor e
promover uma "emancipação" dos assentamentos após 15 anos, cortando a
ligação deles com eventuais convênios do Incra.
A
lei deve afetar movimentos como MST, que algumas vezes recrutam parte dos seus
seguidores em áreas urbanas.
Para
Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo e professor da USP, as ações recentes
do MST servem para mostrar que o movimento ainda está de certa forma ativo após
passar anos sem organizar grandes invasões.
"Em 2007 e 2008 o MST
deixou de fazer ocupações tão amplas, houve uma queda. Mas agora o movimento
avaliou que precisava dar uma reposta política, se posicionar. Eles mostram que
estão vivos, que estão aqui e que podem voltar a atuar.
Existem conflitos internos dentro do
MST sobre a tomada de posições mais incisivas de ocupação de terras. Durante o
governo do PT, eles podiam contar com um canal confortável com o governo, mas
agora isso não existe mais, e eles precisam se adaptar.
Ainda não é um retorno ao sistema
anterior a 2007 e 2008, mas mostra que o MST volta para a oposição, fazendo
ocupações políticas, que servem como chamariz".
Fonte: DW Made for minds.
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