Bolsonaro e a
contrarrevolução conservadora
Ronaldo Ausone Lupinacci*
A perfeita
compreensão da ideia mestra deste artigo depende de alguns pressupostos.
O primeiro
deles consiste na noção do que seja “Establishment”, ou seu equivalente em
português (“Sistema”) pouco utilizado, porém, na linguagem especializada.
Portanto, não recorro ao inglês por pedantismo, mas porque os que tratam do
assunto sobre o qual incide a palavra se valem do termo em língua inglesa, uma
vez que a tradução pura e simples não traz a conotação pejorativa com a qual é
empregada (“estabelecimento”)¹.
Por “Establishment” se designa o conjunto de
forças ideológicas (religiosas e filosóficas), políticas, econômicas,
publicitárias (a mídia) que, embora sendo minoria, governam, em diversos
níveis, a sociedade local, regional, nacional e internacional.
O
“Establishment” veio mudando ao longo do tempo e sua atual composição se pode
dizer que data da segunda metade do século passado.
O segundo
pressuposto denominei contra-revolução conservadora. Sobre ela é preciso falar
um pouco mais. A rigor o adjetivo “conservadora” se mostra contraditório ao que
se entende por Contra-Revolução.
Na Filosofia da História, Contra-Revolução
significa um movimento oposto à Revolução, de modo que não pode ser
“conservadora”, isto é, tendente a manter as coisas como estão. E, por
Revolução se nomeia o conjunto de transformações, religiosas, filosóficas,
culturais, políticas e comportamentais que vieram surgindo lentamente a partir do
século XV, aproximadamente, visando destruir a Civilização Cristã.
Por isso,
talvez fosse mais exato falar em resistência conservadora, expressão que,
todavia, também não exprime com absoluta precisão o fenômeno do qual se ocupam
estas linhas.
De qualquer forma, descontada a imprecisão relativa das palavras,
o fenômeno que desejo focalizar corresponde à tendência crescente em rejeitar
os avanços da Revolução e até mesmo a própria Revolução em sua essência
metafísica, igualitária e libertária.
Portanto rejeitar o comunismo, o
socialismo, o estatismo, o ateísmo, o igualitarismo em suas várias facetas, o
anarquismo, e o permissivismo conexo às iniciativas tendentes à dissolução da
família.
Para tornar
mais claro o assunto convém exemplificar. Um dos indicadores do fortalecimento
do conservadorismo (mas não o único) se observa nos resultados das eleições de
diversos países. A começar pelos Estados Unidos, dada a sua importância.
Lá a
guinada conservadora começou com Ronald Reagan e se firmou, mais recentemente,
com a eleição de Donald Trump. Mas, fatos análogos vêm ocorrendo na Europa, e,
um dos mais significativos foi representado pelo “Brexit”, ou seja, a
determinação do povo britânico de sair da União Européia, e, assim manter sua
soberania afastando-se do projeto revolucionário do governo socialista mundial.
A ascensão de políticos conservadores pode ser observada na França (votação
elevada de Marine Le Pen), na Itália (ascensão da direita e do movimento
anti-establishment), na Polônia (vitória da direita “eurocética” no pleito de
2015), na Áustria (vitória de Kurz, em 2017), e, também na América Latina.
Dentre nossos vizinhos que emitiram sinais conservadores podemos citar o
Paraguai, a Argentina, o Peru, e, muito principalmente a Colômbia onde a
população rejeitou um embuste dos mais sujos, tramado com pressão internacional
(do Vaticano inclusive), e que iria dar total liberdade de ação aos comunistas
das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCS).
Entretanto
existem outros sinais inequívocos de apreço aos valores morais desprezados pela
cultura relativista do Establishment. Os mais nítidos se relacionam ao repúdio
ao aborto e às uniões homossexuais.
Para citar um fato recentíssimo, menciono a
marcha pela vida realizada na Alemanha em 22 do corrente contra o aborto, que
contou com uma participação muito maior do que nos anos anteriores, para
desagrado da imprensa vinculada ao Establishment².
No Brasil
indícios do fortalecimento do conservadorismo se acentuaram a partir do ano de
2013, com as gigantescas manifestações populares de protesto nitidamente hostis
ao Establishment e ao seu governo títere.
O movimento prosseguiu até obter a
destituição da presidente Dilma Roussef. Na motivação dos opositores eram
visíveis fundamentos morais, políticos, econômicos e culturais em geral
adversos ao “politicamente correto”.
Mas, me
chamam a atenção dois aspectos do neoconservadorismo. O primeiro é que inexiste
uma liderança mundial a guiá-lo. Protestos, manifestações, eclodem nos mais
diversos países impulsionados por fatores locais e por agentes locais, e,
embora exista conexão entre os assuntos de fundo ideológico nos diversos
países, não transparece a existência de agentes coordenados entre si.
O segundo
é o de que não transparece, também, uma doutrina clara, até porque os
conservadores embora majoritariamente cristãos não professam uma única
religião, e, nem mesmo um único credo filosófico definido. Em que pese tal
circunstância há preocupação comum com valores tais como a religião, família, e
direitos naturais tais como a propriedade e a liberdade.
De qualquer
forma a pujança do movimento conservador, mesmo carente (por ora) de uma
liderança intelectual planetária e de doutrina monolítica, vem ficando
evidente, e, aqui no Brasil, o fato que prova tal afirmação reside na espantosa
ascensão da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da República, pois
segundo algumas fontes ele tem chance de se eleger já no primeiro turno.
Esta
pujança se infere, também, de fatos ocorridos no campo oposto, como o fracasso
vergonhoso das caravanas de apoio a Lula, realizadas pouco tempo atrás, e, também a aceitação
pacífica, e tranquila da imensa maioria da população da prisão o líder do PT,
ao contrário do que alardeavam certas vozes.
As
cogitações deste colunista, todavia não se voltam principalmente para a
temática político-eleitoral. Qualquer que seja o resultado da eleição haverá
uma consolidação do movimento conservador o que se depreende não só dos números
divulgados pelas pesquisas eleitorais, mas, sobretudo, do entusiasmo e do
dinamismo dos que se engajaram em passeatas, carreatas, mensagens nas redes
sociais e outras manifestações de apoio a Bolsonaro.
Em outras palavras os
números das pesquisas afirmam que a corrente conservadora se tornou a principal
força política do País. Para isso também contribuiu a derrocada trágica de
países próximos dominados pelo comunismo como a Venezuela e a Nicarágua, sem
falar de Cuba, permanentemente afligida pela miséria, pela estagnação e pela
opressão.
Tudo indica, então, que não se trata de tendência efêmera, episódica,
porque se desenvolve há pelo menos cinco anos, e aparece em quase todo (ou em
todo) o mundo ocidental. E nisso há uma advertência implícita para as
esquerdas: cuidado! Mesmo que vençam as eleições graças às costumeiras trapaças
políticas enfrentarão doravante cerrada oposição.
A seita que
paradigmaticamente representa a Revolução é o comunismo. Este veio
enfraquecendo em sua capacidade de angariar apoios e adesões, e só se expandiu
por ocupar posições-chave na sociedade ocidental, isto é, no respectivo
“Establishment”, e por desenvolver com inegável astúcia a guerra psicológica.
Agora começa a ficar clara a redução de seu poder de controlar a opinião
pública.
Daí a fúria que emana de comentários, artigos de jornal, entrevistas
contra os conservadores e aqueles que bem ou mal os representam. E, dentre
estes últimos o candidato Bolsonaro. Atirando em Bolsonaro, como em Trump, ou
nos líderes da direita europeia, o “Establishment” visa desmotivar e
desestimular as bases populares neoconservadoras que aqueles políticos por
convicção ou por oportunismo se propuseram a liderar. Para mim significa o
temor da derrota que se aproxima.
* O autor é
advogado e pecuarista.
¹http://www.teclasap.com.br/establishment/
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