A conquista do interior
Graças aos
produtores rurais, verdadeiros bandeirantes na conquista do interior, graças aos
que lutaram contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória, em defesa dos
princípios da propriedade particular e da livre iniciativa, os brasileiros vão
ocupando aquilo que lhes pertence por direito de nascença e de conquista.
Não deixe de ler o
artigo abaixo de Xico Graziano, jornal OESP/5/2.
Rumo ao interior
O Brasil está interiorizando seu desenvolvimento. Basta averiguar um
traço espacial da economia brasileira em 2012: o PIB da Região Centro-Oeste
apresentou crescimento de 3,3%.
Apesar de modesto, esse valor foi sete vezes
maior do que o verificado na Região Sudeste, que subiu apenas 0,5%. Rumo ao
interior.
É muito
interessante perceber tal fenômeno, apontado pela consultoria Tendências. Onde
impera o setor industrial - em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, parte também no Espírito
Santo - anda capengando o País.
Já onde domina a agropecuária - nos Estados de
Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e até no Distrito Federal - instala-se
um círculo virtuoso de prosperidade.
Embora sofrendo as deficiências da
infraestrutura logística e, de certa forma, amargando o descaso do governo, os
agronegócios têm animado a economia brasileira.
Esse dinamismo
observado nas regiões mais longínquas, distantes da orla atlântica, pode
configurar, com o passar do tempo, uma nova fase do desenvolvimento nacional.
Com a expansão da fronteira agrícola instalam-se as agroindústrias e
distribuidoras de insumos, trilham-se estradas e ferrovias para transportar a
safra, cresce a população atrás do emprego.
Novas oportunidades de negócios
surgem, chega o comércio, geram-se renda e riqueza onde somente havia poeira,
ou mata virgem. Cidades florescem.
Já ocorreram
antes, em outras condições históricas, tais deslocamentos espaciais da
economia.
Nas origens, a produção do açúcar nordestino progressivamente ocupou
parte da Zona da Mata, uma faixa de terra litorânea, estreita, desde o Rio
Grande do Norte até o sul da Bahia.
Solos férteis e firmes, conhecidos como
"massapê", cobertos com Mata Atlântica, suportaram os dois primeiros
séculos da Colônia.
Grande movimento
se deu também por causa da descoberta do ouro nas Minas Gerais.
Começou assim a
ocupação de vasta área, então quase desabitada, que viria a acolher um quinto
da população brasileira.
Fruto dessa alteração espacial no dinamismo da
economia e da sociedade, a capital do País se deslocaria, em 1763, de Salvador
para o Rio de Janeiro. Rodava o mundo da fortuna.
Com a descoberta
da riqueza do café, a bebida que revolucionou a economia brasileira, a próspera
viagem da economia adentrou o Vale do Paraíba, atingiu São Paulo e mirou as
terras roxas de Campinas, para depois alcançar Ribeirão Preto.
Os cafezais
tomaram um descanso com a crise de 1930, mas depois ganharam fôlego e voltaram,
soberbos, para desbravar o norte do Paraná. Linda saga do "ouro
verde".
Andanças
secundárias deixaram sua marca na ocupação histórica do vasto território.
Pode-se relatar a colonização do Vale Amazônico na busca da coleta florestal,
do cacau, da pesca e, um século depois, da borracha natural; o estabelecimento
da atividade pecuária nos friorentos pampas gaúchos; ou, ainda, a ousadia
portuguesa dos arrozais no Maranhão colonial.
Momentos de expansão do sonho da
prosperidade.
É curioso
perceber que a extensa área do Centro-Oeste permaneceu relativamente afastada
desses ciclos da economia nacional.
Sua localização, muito distante da costa,
criava dificuldades de acesso.
Goiás, que experimentou certo dinamismo com a
mineração, somente viria a ser, em termos, redescoberto com a fundação de
Goiânia (1933), a nova capital do Estado que substituiria a histórica Vila Boa
(atual Cidade de Goiás).
Em 1988 dele se desmembraria o Estado do Tocantins.
Mato Grosso
contou com a ajuda da navegação fluvial para ser inicialmente desbravado.
Subindo ao longo do Rio Paraguai, ou descendo pelo Rio Tietê, os colonizadores
e bandeirantes atingiram o povoado de Albuquerque.
A capital da extensa
província se deslocaria para Cuiabá (1835), mas nenhuma força econômica
verdadeiramente a impulsionava. A valorização da pecuária motivou a separação,
em 1977, do jovem Estado de Mato Grosso do Sul.
Fora as longas
distâncias, outra característica básica domina a Região Centro-Oeste: nela se
situa grande parte do Cerrado brasileiro, bioma assentado em 23,9% do
território nacional.
Com vegetação típica, árvores pequenas, cascorentas e
retorcidas, decorrentes da estação extremamente seca que impera entre maio e
setembro, os solos do Cerrado apresentam baixa fertilidade e acidez elevada.
Até os anos 1950 nenhum agrônomo imaginava que poderiam tornar-se produtivos.
Aconteceu,
porém, uma espécie de milagre da tecnologia agrícola.
Utilizando calcário e
fertilizantes, aquelas chapadas do Cerrado, consideradas imprestáveis, foram se
transformando em exemplos mundiais de agricultura, ostentando produtividades
maiores do que as antigas regiões da terra roxa.
Mais ainda: o temor da erosão,
maldito na agricultura tradicional, acabou vencido pelo plantio direto, sistema
que não exige aração nem gradeação do terreno todo para se efetuar a semeadura.
Uma revolução tecnológica.
Resultado: em
menos de 30 anos uma verdadeira corrida para o oeste desbravou o Cerrado.
Protagonizado por lavradores gaúchos, paranaenses e paulistas, esse
"eldorado" tupiniquim abriu as portas do progresso na região - e sem
devastação, pois a área cultivável do Cerrado ocupa apenas metade do total.
Hoje o Centro-Oeste já responde por 41% da safra nacional de grãos, liderado
por Mato Grosso, que sozinho produz 25%. Fora o rebanho bovino, de elevada
qualidade genética. Incrível.
Daqui a, talvez,
duas décadas, estará consolidada uma nova geografia econômica no Brasil.
A
facilidade na comunicação, se for complementada por fortes investimentos na logística,
terá vencido, definitivamente, a distância que manteve amordaçado o potencial
produtivo do Centro-Oeste.
Longe do litoral, perto do futuro.
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