terça-feira, 22 de setembro de 2009

Índices de produtividade e Reforma Agrária

x
A produtividade do MST
x
Amélio Dall'Agnol
x

Meu pai era produtor rural e desde pequeno aprendi que produtividade nem sempre rima com lucratividade. Que é, por vezes, mais interessante produzir menos para ganhar mais, reduzindo o uso dos insumos de produção e optando, conseqüentemente, por uma produtividade menor.
x

O que importa mesmo ao produtor rural é o dinheiro que sobra no final da safra. De que serve ser campeão de produtividade, gastando os tufos com fertilizantes e pesticidas, se o resultado final é lucro negativo ou próximo disso?
x
E tem mais; não basta ao agricultor conseguir altas produtividades utilizando grandes quantidades de insumos, pois quem mais influencia a produtividade é o regime de chuvas. O produtor poderá colher mais, em ano de clima favorável, usando poucos insumos do que usando muitos insumos, em ano de clima desfavorável.
x
Alta produtividade não se consegue, infelizmente, apenas com a utilização de modernas técnicas de produção. Mais importante do que a tecnologia é o clima e clima não se controla, nem por decreto.
x
Não acredito que algum brasileiro tenha dúvidas sobre a disposição e a capacidade do nosso produtor rural de aumentar a produtividade da sua terra – quando isso for possível via utilização de mais tecnologia – se isto significar mais lucro. Prova disso foi o incremento no uso de fertilizantes observado em anos recentes, quando o mercado esteve favorável para o campo.
x
O agricultor brasileiro que sobreviveu às grandes mudanças acontecidas no campo no correr das últimas quatro décadas é um vitorioso. Sobreviveu porque conhece as regras do jogo agrícola. Aprendeu a servir-se das modernas técnicas de produção e, quando o clima não atrapalhou, produziu muito bem, obrigado.
x
Os que não souberam acompanhar essas mudanças já não mais são produtores rurais; são cidadãos urbanos marginalizados. Habitam a periferia das nossas cidades e constituem mão de obra desqualificada e, portanto, mal paga. Muitos dos sem-terra que hoje reivindicam terra para produzir nada mais são do que ex-produtores que não souberam acompanhar os desenvolvimentos e faliram. Conseguirão isto agora?
x
Produzir bem já não é mais suficiente para sobreviver no campo. Ademais de dominar as tecnologias de produção, o agricultor moderno precisa, também, dominar as tecnologias de gestão, pois hoje pode ser mais importante, para se ter renda, saber como vender bem a produção e comprar bem os insumos do que ter alta produtividade.
x
Como deveríamos interpretar a recente medida proposta pelo MDA sobre alta produtividade ou confisco da terra “improdutiva”? Será possível que todos os envolvidos nessa proposta de alteração dos índices de produtividade desconhecem o dilema que nosso produtor enfrenta a cada nova safra sobre lucro versus produtividade?
x
A propósito, qual é mesmo a produtividade média dos assentados do MST? A conferir, porque talvez devessem estar ali os primeiros candidatos à desapropriação.
x
Amélio Dall’Agnol, agrônomo e pesquisador da Embrapa.

Fonte: Jornal de Londrina

Um comentário:

Gilmar - RS disse...

Parabens pela clareza do relatório de quem entende do riscado, pois no campo de onde fui obrigado a sair na minha juventude o que dizes é exatamente o que aconteceu, só que hoje as pequenas propriedades não mais trocam o milho pela farinha do moinho, não mais se vendem no armazem local a produção caseira que tinha na década de 70, e em seu lugar vende-se leite em caixa, frango resfriado, pão dàgua, doces industrializados, etc.... Por que isso acontece? Porque o setor cresceu e tornou-se mais barato comprar dos outros do que produzir para subsistência, e o lucro do agronegócio gera o parazitismo assistencialista que vai enrolando o meio rural pela desproporção dos votos urbanos. Mas até quando teremos a segurança alimentar com tanta intromissão governamental de gente que ganha uma fortuna para inventar burrocracia que inferniza a vida do produtor rural de todas as matizes?