A FAO — órgão da
ONU para a agricultura e alimentação — divulgou um relatório segundo o qual 3,4
milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil: 1,7% da população. Não
contesto. Talvez seja verdade.
O diretor-geral da
FAO é o petista José Graziano, ex-ministro de Lula, um dos mentores do Fome
Zero e seu primeiro — e único — comandante. O que chama a atenção no relatório
é outra coisa — ou duas outras coisas. Comecemos pela mais levinha.
Os petistas adoram
dar sumiço em pobre e esfomeado mudando o critério de avaliação. Nunca antes na
história deste país e deste mundo um partido usou tão bem a estatística para
melhorar a realidade desde que isso seja do seu interesse.
Em 2013, a FAO
concluiu que 7% dos brasileiros passavam fome. Aí se passou a considerar as refeições
servidas fora de casa, como restaurantes populares e merenda escolar, e pimba!
Os 7% viraram 1,7%. Com mais uma “mudança de critério”, pode-se chegar a zero,
certo?
A piada do
relatório é o elogio da FAO ao… Fome Zero, que vem a ser, ora vejam, justamente
aquele programa pelo qual Graziano era responsável no Brasil e que nunca saiu
do papel. Sim, o doutor mete lá um elogio em boca própria e exalta o que nunca
existiu.
Como vocês devem
se lembrar e noticiei aqui tantas vezes, Lula era contra os programas de
transferência de renda. Achava que era esmola. Queria acabar com todos para
emplacar o seu “Fome Zero”.
Em outubro de
2003, convencido do desastre da sua proposta (mas sem dar o braço a torcer),
fez o quê? Reuniu todos os programas de renda que herdou de FHC — e que já
atingiam 5 milhões de famílias — num só e criou um nome fantasia: “Bolsa
Família”.
Abaixo, vocês
podem ler, mais uma vez, trecho do discurso em que Lula tratava como
esmola o Bolsa Família, acrescentando que o programa deixava o pobre
preguiçoso, e trecho da Medida Provisória, de 20 de outubro de 2003, que trata
do Bolsa Família (depois convertida na Lei 10.183).
Vale dizer: 10
meses depois de criado, o Fome Zero ia para o vinagre. Mas Graziano decidiu
usar a ONU para exaltar a sua não obra.
Trecho do discurso de lula de 9 de abril de 2003 em
que ele diz que bolsa família
deixa o pobre preguiçoso
Eu, um dia desses,
Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba,
e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da
Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava
assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O
povo está acostumado a receber muita coisa de favor.
Antigamente,
quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua
macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois.
E, agora, tem
gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o
‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas”.
Acho que isso não
contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as
pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho.
Eu sempre disse
que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de
manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às
custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que
plantou.
Isso é o que dá
dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que
faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a
prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso
é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.
(...)
Por
Reinaldo Azevedo, 17/09/2014
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