Lula, um leão rouco, sem dentes nem garras
A
maior vítima da violência do PT será o cidadão, que não terá como melhorar de
vida
*José Nêumanne
O profeta Lula estava particularmente
inspirado quando foi votar para prefeito em São Bernardo do Campo,
onde mora. “O PT vai surpreender nesta eleição”, previu com precisão
instantânea. Pois seu partido surpreendeu mesmo, ao cair de terceiro em número
de prefeituras em 2012 para décimo lugar neste pleito.
“Quanto mais ódio se
estimula, mais amor se cria a favor”, disse, em forma de oração. “Só há um
jeito de eles tentarem me parar: evitar que eu ande pelo Brasil”, ameaçou o
santo guerreiro contra o dragão da maldade da burguesia infame. O loroteiro
está de volta, olê, olê, olá!
Não tardou para as urnas o
estarrecerem. Nem precisou sair de casa: Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente
(PPS) disputam o segundo turno em São Bernardo. O companheiro
Tarcísio Secoli, favorito do prefeito Luiz Marinho, seu sucessor no Sindicato
dos Metalúrgicos, do qual Lula ascendeu para a glória política, ficou em
terceiro, com menos de um quarto dos votos válidos: 22,6%.
Em termos
proporcionais, superou o poste que ele elegeu em São Paulo em 2012:
Fernando Haddad protagonizou o maior vexame da história do partido ao ser
massacrado pelo tucano João Doria, que o derrotou no primeiro turno por 53,3% a
16,7%. Em gíria de turfe, Haddad nem pagou placê.
E no dia em que constatou que as
eleições “consolidam a democracia no Brasil”, Lula deu uma desculpa esfarrapada
para o fiasco histórico: “A imprensa está em guerra com o PT há sete anos”.
Para ele, “as pessoas se enganam quando (pensam que) uma TV, um jornal, pode
tudo. Não pode.
O povo é que pode tudo”. No caso, não lhe falta razão: numa
democracia, como reza a Constituição da República, todo o poder emana do povo e
para ele é exercido. As urnas não falam, mas o povo fala nelas.
E a lorota de
Lula tornou-se senha para a violência: mais tarde, constatada a derrota de
Haddad, militantes petistas impediram que a repórter Andréia Sadi, da GloboNews,
concluísse um boletim ao vivo na sede do PT, no centro de São Paulo.
Um tsunami de votos soterrou o partido
que se diz da classe operária, mas passou 13 anos, 4 meses e 12 dias usando o
poder federal para atuar como despachante de empreiteiros e amigos empresários
emergentes que, em troca de contratos superfaturados, engordaram os cofres dos
petistas e do PT em proporções nunca ousadas antes.
Até recentemente, ingênuos,
como o autor destas linhas, imaginavam que havia apenas uma corrente de
escândalos de corrupção – Santo André, mensalão, petrolão, etc. –, conectados e
consequentes um do outro. Agora é possível perceber que não é só isso.
Trata-se, sim, de um assalto planejado, organizado e realizado para esvaziar
todos os cofres públicos ao alcance de suas mãos.
A 53.ª (Arquivo X) e a 54.ª (Ormetà)
fases da Operação Lava Jato trouxeram à tona revelações impressionantes sobre a
gestão dos desgovernos Lula e Dilma. Nunca antes na História deste país um
chefe da Casa Civil respondera por violações do Código Penal. José Dirceu,
“capitão” do time de Lula em seu primeiro governo, está preso em Curitiba,
acusado de haver delinquido quando cumpria pena na Papuda, em Brasília,
condenado por corrupção e outros crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no
caso mensalão.
Antônio Palocci Filho, primeira eminência parda de Dilma, após
ter sobrevivido a 19 processos criminais no mesmo STF e ter violado o sigilo
bancário de um pobre trabalhador, o caseiro Francenildo dos Santos Costa, foi
recolhido ao xadrez, acusado de ter pago dívidas de campanha da chefe com
dinheiro sujo.
Gleisi Hoffmann, ex-chefa da Casa
Civil e senadora (PT-PR), é acusada de ter recebido R$ 1 milhão de propina da
Petrobrás para comprar votos. Acusação igual é feita ao marido dela, Paulo
Bernardo, suspeito de haver furtado R$ 7 milhões em prestações mensais de
funcionários do Ministério do Planejamento que requeriam empréstimos
consignados.
Guido Mantega, preso e solto pelo juiz
Sergio Moro, foi outro ex-ministro do Planejamento a protagonizar processo
criminal, em que foi delatado por Eike Batista, “bom burguês” escalado por Lula
entre “campeões mundiais” do socialismo de compadrio, de havê-lo achacado no
gabinete do Ministério da Fazenda. Palocci também foi ministro da Fazenda de
Lula, que se diz o mais “honesto dos seres humanos”. Enquanto Dilma se põe
acima de suspeitas por não ter contas bancárias no exterior.
No palanque, a esquerda insistiu que
Dilma foi usurpada por Michel Temer, o vice duas vezes eleito com ela, no impeachment,
cujo rito legal foi cumprido à exaustão. Em São Paulo, Luiza Erundina, do
PSOL, e, no Rio, Jandira Feghali, do PCdoB, pediram votos repetindo essa
patranha de consolar devoto. A ex-prefeita teve 3,2% dos votos e a carioca,
3,3%.
Fernando Haddad, contrariando o
comportamento belicoso de seus apoiadores, cumprimentou João Doria pela
vitória. No entanto, a agressão à repórter de televisão não foi, como devia ter
sido, evitada por seu candidato a vice, Gabriel Chalita, nem por seu antigo
colega de Ministério de Lula, Alexandre Padilha, que, conforme depoimento do
colunista do Globo Jorge Bastos Moreno, se mantiveram impassíveis
diante do lamentável fato.
Assim, deram o sinal de que a oposição do PT e
aliados de esquerda não se limitará à irresponsável tentativa de impedir que
sejam feitos os ajustes sem os quais o Brasil não conseguirá recuperar-se da
crise provocada pela longa duração do próprio reinado na República.
O governo de Temer, também cúmplice no
desmantelamento do Estado brasileiro nas gestões petistas, sofrerá boicote
impiedoso. Mas a maior vítima será, como sempre, o cidadão, que amarga
desemprego, inflação e quebradeira. E se verá às voltas com vândalos nas ruas
queimando carros e quebrando vidraças. O PT não é cachorro morto e seu chefão,
Lula, ainda será o leão rouco que ruge mesmo tendo perdido dentes e garras.
*Jornalista, poeta e escritor
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