Pecuária e defensivos são vítimas de
ataques e desinformação
Marcos Sawaya Jank
Avanços notáveis têm acontecido no tema da sustentabilidade da
agricultura brasileira, seja pela aplicação mais rigorosa das leis, seja pelo
uso generalizado de técnicas conservacionistas que trazem ganhos econômicos
para os produtores.
Melhorou também o diálogo e a
parceria entre empresas, associações, ONGs e grupos de pesquisa, como a
Coalizão Brasil Clima Agricultura, Florestas e Agricultura e o Grupo Técnico da
Pecuária Sustentável (GTPS), que tem desenvolvido parcerias interessantes e
inovadoras.
Porém, no debate atual chamam a atenção dois mitos que continuam sendo
repetidos ad nauseam, sem a necessária evidência dos fatos. O primeiro é a
acusação de um persistente atraso na pecuária de corte brasileira e o outro é
um suposto uso excessivo de defensivos agrícolas pela agricultura.
Esses dois pontos foram levantados em eventos ocorridos na Conferência do Clima
em Marrakech, em recente evento no Insper e agora em um artigo
desnecessariamente espinhoso de Daniela Chiaretti no "Valor Econômico"
de 5/12, intitulado "As bravatas de Blairo".
Utilizamos uma frase deste artigo para tratar da questão do uso de defensivos
na agricultura tropical brasileira: "O Brasil é líder inconteste no uso de
venenos lançados sobre o campo, colheitas, trabalhadores, índios, donos de
terras, animais, solo, água, produtos agrícolas e consumidores".
Não é de espantar que o Brasil, com uma agricultura situada entre as maiores e
mais produtivas do mundo, seja o país que apresenta o maior consumo de
defensivos, erroneamente chamados de "veneno".
Ocorre, porém, que o correto não é comparar consumo absoluto, mas sim o
relativo, por hectare ou por unidade de produto gerada. Nosso consumo médio de
defensivos é de 5 kg de ingredientes ativos por hectare, bem abaixo
do observado na Holanda (20,8 kg), no Japão (17,5 kg) e na Bélgica (12 kg),
países que gostam de apontar o dedo contra o Brasil.
Um estudo da Kleffmann mostra que, enquanto o uso de defensivos por unidade
produzida cresce 120% na China e 47% na Argentina desde 2004, no Brasil ele
decresce 3%.
E, ao contrário dos países de clima temperado, que contam com o inverno e a
neve para quebrar o ciclo das pragas e doenças, aqui se produz o ano todo sob
clima quente e úmido, sendo que em muitos lugares fazemos duas ou até três
safras na mesma área.
Especialistas afirmam que, se os defensivos não fossem utilizados, a produção
agrícola sofreria uma redução da ordem de 50%, que certamente provocaria
desmatamentos adicionais, além do risco de forte elevação dos preços dos alimentos.
Já em relação à pecuária de corte, não há dúvida de que existe grande
disparidade na produtividade do gado e das pastagens. Mas ainda assim a
evolução do campo foi fantástica: entre 1990 e hoje, a área ocupada com
pastagens caiu de 188 milhões para 167 milhões de hectares, ao mesmo tempo em
que o rebanho aumentou de 147 milhões para 214 milhões de cabeças, o maior do
mundo. Em 2015, a produtividade chegou a 60 kg de
carne/hectare, ao crescer impressionantes 143% no período.
Se os 10 milhões de toneladas de carcaça de 2015 fossem produzidos com a
tecnologia do início da década de 1990, a pecuária estaria usando não
167 milhões, mas sim 400 milhões de hectares, o que acarretaria em muito
desmatamento. Isso comprova que os ganhos da pecuária são evidentes, ainda que
heterogêneos.
O "aprimoramento continuo" da sustentabilidade agropecuária
brasileira é um fato inconteste. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas
não há um único país que tenha avançado em produtividade e conservação
ambiental na mesma escala que o Brasil nos últimos 25 anos.
Artigo de Marcos Jank foi publicado originalmente na Folha de São Paulo
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