domingo, 25 de junho de 2017

A CNBB, mais uma vez, agrava a exclusão social



A CNBB, mais uma vez, agrava a exclusão social

Péricles Capanema

Em comunicado de 17 de maio o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) agrediu o relatório da chamada CPI da FUNAI/INCRA (solicitou o indiciamento de 14 missionários), com expressões como as abaixo transcritas: “A CPI da FUNAI/INCRA mostrou-se parcial do início ao fim dos trabalhos.

Criada e relatada por ruralistas para atender os interesses ruralistas e atacar os povos originários. Descomprometidos com a verdade, os ruralistas tentam criminalizar mais de uma centena de lideranças indígenas, indigenistas, religiosos e cientistas sociais. 

Tentativa de retorno ao escravagismo no campo e venda do território brasileiro para estrangeiros por parte dos ruralistas [suposto objetivo dos deputados ruralistas e de seus apoiadores]. 

Chama a atenção a forma racista de os ruralistas se referirem a lideranças e povos indígenas. Trata-se de ranço colonialista que acentua o preconceito contra os povos originários de nosso país. Outrossim, preocupa a onda de massacres cruéis cometidos por fazendeiros e seus jagunços contra povos indígenas, quilombolas e camponeses Brasil afora”.

Longe da concórdia, que nasce da caridade, esse é o tom do órgão que supostamente coordena atividades de missionários, cuja missão é arrancar os indígenas do paganismo e conduzi-los ao Catolicismo. Labuta de pregação, convencimento, conversão, de fato, altamente civilizatória. Tarefa de harmonia e de inclusão.

Missão é uma coisa; trabalho efetivo, outra. Exemplo da atividade real: intolerante, o CIMI investe contra os fazendeiros. Alguém no Brasil acredita que exista “onda de massacres” promovidas por fazendeiros, dirigida contra índios, quilombolas e camponeses? E que os ruralistas procuram reinstalar a escravidão no campo e vender suas terras a estrangeiros? 

O órgão unido à CNBB prejudica os pobres ao jogá-los contra o agronegócio que está evitando a quebra do Brasil e a precipitação numa miséria como a da Venezuela e Cuba, para onde nos conduzirá a ação das correntes que apoiam o CIMI, como MST, CPT, CUT, entidades e partidos afins.

Uma entidade afim: a CNBB (para tristeza dos católicos). Em comunicado de 22 de junho a CNBB se apressou em defender o CIMI: 

“O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunido em Brasília - DF, nos dias 20 a 22 de junho de 2017, manifesta seu total apoio e solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) diante das infundadas e injustas acusações que recebeu da Comissão Parlamentar de Inquérito, denominada CPI da Funai e Incra. 

"O indiciamento de missionários do CIMI é uma evidente tentativa de intimidar esta instituição tão importante para os indígenas. Tenha-se em conta ainda que as proposições da CPI se inserem no mesmo contexto de reformas propostas pelo governo, especialmente as trabalhista e previdenciária, privilegiando o capital em detrimento dos avanços sociais. Tais mudanças apontam para o caminho da exclusão social”. 

Assinam o documento dom Sérgio, cardeal-arcebispo de Brasília, dom Murilo, arcebispo de Salvador e dom Leonardo, bispo-auxiliar de Brasília, respectivamente, presidente, vice-presidente e secretário-geral da CNBB.

O avanço social no Brasil está ligado ao estímulo dos investimentos, tanto o público quanto o privado, os quais dependem fortemente de reformas sensatas nos âmbitos trabalhista e previdenciário. 

Fracassando, minguarão as aplicações, a produtividade tenderá a estacionar. Na prática, a proposta da CNBB petrifica o atraso. E, no bojo de outras de igual inspiração, favorecerá o retrocesso, com o agravamento da miséria. 

De passagem avanço social autêntico é o que propicia, com proporção, condições para que os membros do corpo social atinjam a plenitude de suas potencialidades e não o que favorece desnaturadas políticas igualitárias.

Dois pontos finais a destacar. Primeiro, convém ter em vista dados divulgados pela revista EXAME e em particular pelo dr. Evaristo de Miranda. Existem hoje no País 584 terras indígenas, ocupam 114.699.057 ha, por volta de 14% do território nacional. 

Deambulam no Brasil 869,9 mil indígenas, aproximadamente 0,42% da população. Os 0,42% povoam os 14% do território nacional a eles destinados? Que nada. Um em cada três dos índios (36,2%) reside nas cidades, 63,8% habitam áreas rurais. 

Entre os que estão fora das terras indígenas, só 12,7% falam alguma língua indígena. Dentre os íncolas das terras demarcadas, 78,9 mil se declaram de outra raça, dos quais 70% pardos. Dos 869,9 mil, 147,2 mil não sabem a qual etnia pertencem. Em geral vivem em casas. Nas terras demarcadas, 2,9% moram em ocas. 

Nas terras indígenas, a energia elétrica chega a 70,1% dos domicílios. 76,7 dos índios são alfabetizados em português. Resumo, o CIMI, força do atraso, em sua ação revolucionária, afirma defender um índio que quase não existe mais, se um dia existiu. A maioria deles, como o brasileiro em geral, quer é crescer na vida.


O segundo ponto registro alegre por dever de justiça. Em nenhum momento a CNBB afirma, houve unanimidade no Conselho Permanente. Levanta a suspeita de oposição interna mesmo que muda. 

A propósito, ainda, em março, dom Odilo, cardeal-arcebispo de São Paulo, marcou distância em relação às posições oficiais da CNBB: 

“Penso que de toda maneira há necessidade de reformas tanto na lei trabalhista como na lei da Previdência. Sim, acho que é necessário fazê-las e fazê-las bem”.



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