O que era
excelente ficou ainda melhor
O agro é o maior contraponto ao desempenho ruim dos
outros setores
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
No fim de 2016, os institutos que
rastreiam as safras já projetavam para este ano uma megaprodução, cerca de 15%
mais alta do que naquele ano, tão castigado pela estiagem.
Mas as previsões
seguintes vieram melhores. A que foi divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE anotou para este
ano safra recorde de 239 milhões de toneladas, ou 29,2% maior do que a de 2016.
A Conab ficou pouco atrás: 234 milhões de toneladas, ou 25,6% mais alta.
É
o setor que está salvando não apenas a lavoura, mas o próprio PIB. Nas Contas
Nacionais do primeiro trimestre, a agropecuária contribuiu com um crescimento
de 13,4%.
Mais não entrou nos cálculos porque a maior parte dos estoques não
havia sido escoada e, portanto, ainda não produzira renda. Como os números
atualizados são mais exuberantes, o setor voltará a ter importante participação
no crescimento da renda nos trimestres seguintes.
Enfim,
o agro é o maior contraponto ao desempenho ruim dos outros setores. E maior
ainda quando comparado ao estado geral da vida política. Os levantamentos
divulgados nesta quinta-feira permitem concluir que a renda já gerada e ainda a
ser gerada pelo setor deve ficar neste ano em alguma coisa entre R$ 550 bilhões
e R$ 610 bilhões.
Muita
gente continua equivocada quando insiste em que a agropecuária proporciona
baixa multiplicação de renda, porque emprega pouca mão de obra.
Estudo da
Confederação Nacional da Agricultura a partir de dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio (Pnad), de 2014, mostrou que o agronegócio proporciona
32,7% dos postos de trabalho no Brasil. (O agronegócio é mais abrangente do que
a agropecuária. Alcança também a indústria e os serviços ligados ao setor.)
A
capacidade multiplicadora de renda do setor pode ser mais bem aferida pelo
avanço dos serviços que operam com o agro: transportes, comunicações, comércio,
finanças, etc. Pelo interior de Mato Grosso e de Goiás e pelo Matopiba (área
que compreende o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) se vê o dinamismo da
agropecuária.
Nos
primeiros cinco meses deste ano, as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias
cresceram 28,7% em relação a igual período de 2016. As exportações de produtos
básicos (que incluem minérios e petróleo) aumentaram 27%
no acumulado do ano (até maio) em comparação com igual período de
2016.
Mais capitalizados, os agricultores podem empurrar também o setor de
insumos agrícolas, principalmente os de sementes, fertilizantes e calcário.
Outra
contribuição da supersafra à macroeconomia é a derrubada da inflação. Por
vários fatores, os alimentos foram o vilão nos últimos anos. Agora, vêm
contribuindo positivamente para o controle da inflação. Nos últimos cinco
meses, os preços dos agropecuários caíram 9,31% no atacado. E em 12 meses, 10%.
O
gargalo continua sendo a logística: armazéns insuficientes, estradas ruins,
comunicações precárias. O que pode melhorar é a inauguração de 682 quilômetros
da ferrovia Norte-Sul, prevista para este mês.
Uma das acusações recorrentes ao setor agropecuário
é o de que seu crescimento vem sendo realizado com aumento do desmatamento. O
gráfico mostra que o aumento da produção vem acontecendo mais com aumento da
produtividade do que com aumento da área plantada.
Em 1997, 34,5 milhões de
hectares produziam 74,8 milhões de toneladas de grãos, ou 2,2 toneladas por
hectare. Vinte anos depois, 61 milhões de hectares produzem 238,6 milhões de
toneladas de grãos, ou 3,9 toneladas por hectare.
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