Tudo o que é quebrado
pode ser restaurado
Péricles Capanema
Com Nossa Senhora Aparecida, tudo o que
é quebrado pode ser restaurado. É o que – esteada na misericórdia de Maria,
onipotência suplicante – recorda a “nota de reparação” divulgada pela
Arquidiocese de Aparecida.
No caso, pela bondade de Nossa Senhora
Aparecida, o pedido de perdão do arcebispo, do reitor do santuário e do
provincial redentorista repararia o escândalo causado pelo lulopetismo
desbragado do Padre João Batista, reitor do Santuário.
Com efeito, repercutiu feio a
escandalosa missa, entremeada de ditirambos à política petista e de orações
pela libertação de Lula, celebrada em 20 de maio pelo referido sacerdote no
Santuário Nacional de Aparecida.
Plena consciência da falta (do mal
feito), intenção séria de não a repetir e reparação dos danos são necessários
para autêntico pedido de perdão. Reparação e restauração, dois conceitos que
sempre fizeram falta, especialmente na Igreja de hoje. Um deles vem na nota.
Toca a manifestação humilde de um
pedido de perdão. Nada mais evangélico, nada mais bíblico. É o começo do
caminho. O católico vê esperançado qualquer recomeço no rumo direito, reza para
que dê certo. Sem deixar de lado a prudência, o “vamos ver”.
Vou me deter agora no “vamos ver”. Não
fui totalmente fidedigno. O texto não traz o que seria normal: “com Nossa
Aparecida”, expressão piedosa, popular, arraigada na alma dos católicos. Enfia
ali a expressão nova, “com a Mãe Aparecida”. Fica artificial.
Entristece a obstinação em impô-la como
substituta da expressão consagrada pela piedade tradicional, Nossa Senhora.
Você, leitor, já ouviu alguma pessoa de seus círculos dizer: vou rezar para a
Mãe Aparecida? Nunca, não é? Pois bem, os sacerdotes em Aparecida escondem do
povo a expressão popular tradicional e impõem expressão sem arraigo popular.
Afastam-se conscientemente do gosto do
povo, na sujeição subserviente a doutrinas igualitárias (não é tão difícil
conjeturar, o que antipatiza é a afirmação filial e amorosa da superioridade –minha
Senhora, Nossa Senhora).
Adiante. “Não defendemos uma posição político-partidária, que é contrária ao
Evangelho”. De fato, mais contrário ao Evangelho é defender posições que
favoreçam uma ordem temporal coletivista [outro nome para o comunismo], como
está no ideário do PT. É secundário no caso apoiar ou não determinado partido
político.
Um ponto mais. O pedido de perdão não
foi por ter tomado atitude censurável, favorecedora de programa ateu,
abortista, estatista, metas do PT. Foi por ter ferido sentimentos. “Manifestamos nosso profundo pesar pelo
desapontamento que causamos a todos. Pedimos perdão pela dor que geramos. [...]
Eu, pe. João Batista, reitor do Santuário Nacional, peço o perdão de todos os
que se sentiram ofendidos pela maneira como conduzi a celebração da missa das
14 horas”.
Em entrevista ao jornal O Vale (24 de
maio), o padre João Batista repisa o tema: “Existe
no País uma situação de intolerância. Achamos por bem pedir perdão pela dor que
causamos”. Do ato em si, nada. É só pela dor, que talvez nem surgisse,
inexistisse a situação de intolerância.
Elenca pontos parecidos que não
causaram tanta dor: “Em 2017, uma escola
de samba homenageou Nossa Senhora e fomos levar a imagem. Também levamos a
imagem a um templo budista. Promovemos oração pela paz com representantes de
todas as religiões. Tivemos congresso mariológico com participação de um sheik
e de um pastor que vieram dar palestra”.
Ninguém reagiu (ou pouca gente), a
coisa correu tranquila. Agora, muita gente reagiu (“apareceu a situação de
intolerância”). Complicou. Veio o pedido de perdão. O reitor do Santuário
resume a questão: “Pedimos perdão por
termos causado sentimento ruim nas pessoas. Embora tenhamos cumprido a missão
do Santuário”.
Então não teria havido negação da
missão do Santuário Nacional na missa pró-petista. Pelo contrário, teria havido
cumprimento. O problema real, o estopim, foi a reatividade dos fiéis, que ele
chama de “sentimento ruim”. Já é alguma coisa tê-lo em vista. Antes, nem isso.
Tudo o que é quebrado pode ser
restaurado. Sob certas condições, acima expostas. No caso, inexistiram.
Contrista; não houve autêntico pedido de perdão. Mais uma fake news.
O vaso continua quebrado.
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