Da denúncia de Kolarz ao Sínodo Amazônico
Tenho acompanhado com muita atenção o
noticiário acerca do Sínodo dos Bispos da Região Amazônica, cuja realização se
acha prevista para o próximo mês de outubro. Tenho acompanhado, também com a
mesma atenção, o extenso noticiário nacional e internacional relativo à suposta
deterioração ambiental da Amazônia causada por desmatamento predatório,
mineração desenfreada, e queimadas descontroladas.
Os dois assuntos acima focalizados são correlatos
e, portanto, o desencadear do noticiário difamatório contra o Brasil parece ter
sido bem calculado – insisto, muito bem calculado – para começar durante o
período preparatório do Sínodo dos Bispos da Região Amazônica. Quais as razões
determinantes de tão suspeita coincidência? Só posso conjeturar a partir do que
se sabe sobre os propósitos do movimento revolucionário mundial e sobre suas
forças, pois tal movimento tem nas mãos os dirigentes políticos de praticamente
todos os países, os dirigentes das principais instituições a começar pela
Igreja Católica Apostólica Romana, e os dirigentes dos meios de comunicação
social, isto é, da mídia.
De releituras de livros escritos por
Plínio Corrêa de Oliveira (principalmente sobre o “tribalismo indígena”(1) e sobre o
projeto de nossa atual Constituição(2))
colhi um dado sumamente esclarecedor. Há neles referência à denúncia efetuada
por Walter Kolarz da BBC de Londres, especialista em assuntos do comunismo.
Segundo Kolarz “em 1928, por ocasião do Sexto Congresso Internacional
Comunista, os partidos da América Latina foram instruídos para elaborarem ‘toda
uma série de medidas especiais relativas à autodeterminação para as tribos de
índios, a propaganda especial nas próprias línguas deles e aos esforços especiais
para conquista de elementos importantes entre eles’”.
Notem bem o ano, já distante: 1928 quando nem se discutia sobre uma imaginária
questão indígena, nem tampouco sobre desmatamento e queimadas o comunismo já
planejava utilizar os índios como massa de manobra para seus projetos de
fragmentação de países em pequenas republiquetas indígenas. Kolarz aludiu,
também, à Segunda Declaração de Havana patrocinada por Fidel Castro, datada de
1962, que “invocou o caso dos índios, dos mestiços, dos negros e dos mulatos na
esperança de encontrar, nesses grupos raciais, um poderoso exército de reserva
da revolução”, acrescentando que “essas questões raciais estavam sendo
suscitadas na Declaração de Havana com especial persistência, e as passagens em
apreço lembram várias declarações sobre a América Latina feitas pela
Internacional Comunista de antes da guerra na qual o problema dos índios costumava
ocupar lugar importante” (Walter Kolarz, “Comunismo e Colonialismo”, Dominus,
São Paulo, 1965, p. 99).
Há mais de trinta anos atrás denúncias do
jornal “O Estado de S. Paulo”, sobre a existência de um plano arquitetado,
dentro e fora do País, com vistas à internacionalização da Amazônia, – e sob
pretexto da defesa das prerrogativas indígenas – levaram o ex-ministro Paulo Brossard
a se insurgir contra emenda constitucional patrocinada pelo Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) porque comprovavam “a existência de plano
preparado pelos que imaginam solapar a soberania nacional por conta de seus
interesses” (O Estado de S. Paulo”, 18-8-87)”.
Além dos desideratos geopolíticos do
comunismo, encontrei explicação paralela acerca das afinidades do comunismo com
o modelo de sociedade indígena em texto de Friederich Engels, companheiro de
Karl Marx, no qual ele apresenta como ideal de sociedade a organização dos
índios iroqueses (dos Estados Unidos), sem autoridades, sem propriedade
privada, sem polícia, sem regulamentos, etc.(3). Aliás, a admiração dos revolucionários
pelo homem primitivo imaginário vem de mais longe, nos louvores que o filósofo
Jean Jacques Rousseau teceu ao mítico “bom selvagem”. Não tão “bom” pelo que se
sabe através de livros de História confiáveis, como por exemplo, “Capitães do
Brasil”, de Elaine Sanceau, no qual são narradas crueldades tais como o
canibalismo.
As apreciações acima elucidam então a
razão da “coincidência cronológica” do Sínodo e da investida midiática e
política contra o Brasil, desencadeada sob o pretexto da devastação da
Amazônia. As duas frentes, em movimento de pinças, convergem para nos empurrar
para uma nova civilização igualitária, miserabilista e tribal sonhada pelos
missionários progressistas que pretendem petrificar o índio em seu atual estado
pré-civilizatório para servir de exemplo para transformar a sociedade, não só
no Brasil. E, para o socialismo autogestionário idealizado pelos comunistas e
seus cúmplices.
Não se trata de ilação infundada. No já
citado livro de Plínio Corrêa de Oliveira, documentado com pronunciamentos de
eclesiásticos influentes como Dom Pedro Casaldáliga (protegido do Papa Paulo
VI) e Dom Tomás Balduíno, de outros tantos sacerdotes, e do órgão criado pela
CNBB para atuar junto aos índios (CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, conhecido
pela sigla CIMI) esta meta neo-bárbara se acha cristalinamente delineada. O
documento preparatório do Sínodo dos Bispos da Amazônia intitulado
“Instrumentum Laboris” se coloca na mesma perspectiva demolidora.
O referido documento preparatório do
Sínodo, reflexo das elucubrações das filosofias comuno-estruturalista e
indigenista, tem implicações que extravasam de muito o âmbito geopolítico
porque visa estabelecer uma nova religião e um novo modelo de sociedade. Em
meticuloso estudo sobre o assunto intitulado “O Sínodo das grandes rupturas”(4) José Antonio
Ureta assinala que “os temas a serem abordados incluem desde o modelo de
desenvolvimento econômico da região amazônica até o celibato sacerdotal,
passando por propostas ecológicas e de caráter panteísta”. Não sendo possível
reproduzir aqui todo aquele texto, e, nem mesmo resumi-lo adequadamente,
limito-me a mencionar seus principais tópicos, a saber: a) ruptura teológica;
b) ruptura filosófica, antropológica e missionária; c) ruptura
mágico-taumatúrgica de caráter diabólico; d) ruptura eclesiológica e
sacramental; e) ruptura civilizacional.
A criação de autoridade supranacional
para governar a Amazônia, como querem alguns líderes de países estrangeiros,
retiraria do Brasil os meios para se opor à utopia, tendente a se estender para
os territórios situados além da Amazônia, no Brasil e fora dele.
Deparamo-nos, pois, com bem concertada
operação de guerra psicológica revolucionária destinada a um só tempo a
pressionar autoridades políticas a aceitar amputação da soberania, e, induzir a
opinião pública a ver com simpatia, ou, ao menos com desprevenção, as manobras
de transformação total da sociedade a partir da religião, para o modelo
tribal-comunista. Segundo o estrategista russo Nikolay Bulganin as forças
armadas serviriam, então, apenas para ocupar um território já conquistado por
ação psicológica.
Por mais absurdo que tudo isso possa
parecer – e de fato é -, não podemos nos esquecer de análoga experiência
comunista tentada no Camboja dominado pelo Khmer Vermelho, quando foram
compulsoriamente evacuadas todas as cidades e submetidos os cidadãos a exílio
forçado no campo, depois de espoliados(5).
Nem tampouco esquecer o que agora se passa na Venezuela, que vem sendo
destruída em decorrência da imprevisão, na inação e da corrupção moral de seu
povo. De imediato, a “experiência” se mostra irrealizável aqui no Brasil, mas
não se pode descartar que venha a ser tentada dentro de algum tempo aqui ou
alhures.
Por tudo isso faço minhas as palavras do
Cardeal Walter Brandmüller: “O Instrumentum laboris para o sínodo da Amazônia
constitui um ataque aos fundamentos da fé, de uma forma que até hoje não foi
considerada possível. E, portanto, deve ser rejeitado com a máxima firmeza”.
* O autor é advogado.
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