Movimentos populares: os protagonistas da mudança
Encerrou ontem, 5/11, no Vaticano o 3º Eencontro Mundial dos Movimentos
Populares, desejado pelo papa sobre os temas que lhe são caros: Terra,
Teto e Trabalho.
Como não poderia deixar de ser, João Pedro Stédile, do MST,
esteve presente, tendo sido um dos principais organizadores.
Sobre a reunião vaticana, o jornal comunista Il Manifesto entrevistou Stédile.
Il Manifesto – Quais
são as expectativas dos movimentos populares?
Stédile – Desde que Francisco assumiu o pontificado, ele manifestou de diferentes formas a vontade de construir uma ponte com os movimentos populares, os trabalhadores excluídos, os povos nativos, os indígenas, com as pessoas de todas as etnias e religiões para analisar os graves problemas da humanidade que afligem a maioria da população.
Assim, construímos um caminho permanente de diálogo. Realizamos um primeiro encontro em 2014, depois um
encontro mais latino-americano e, em seguida, um encontro de massa na Bolívia,
em agosto de 2015. E, agora, continuamos com este terceiro encontro,
que reúne mais de 200 companheiros de todos os continentes.
Avançaremos na discussão sobre questões candentes da humanidade, que
dizem respeito a todos: a democracia
burguesa hipócrita que não respeita a vontade da população; a
apropriação privada dos bens comuns da natureza, e os temas que são levantados
pelos refugiados em todo o mundo. (...)
Mas, enquanto isso, continuam os homicídios de ambientalistas, daqueles que defendem os territórios e os recursos, de Honduras à Colômbia. A deputada indígena Milagro Sala ainda está presa na Argentina, e, no Brasil, Michel Temer escancara as portas para as multinacionais dos transgênicos.
Mas, enquanto isso, continuam os homicídios de ambientalistas, daqueles que defendem os territórios e os recursos, de Honduras à Colômbia. A deputada indígena Milagro Sala ainda está presa na Argentina, e, no Brasil, Michel Temer escancara as portas para as multinacionais dos transgênicos.
(...) Nesse sentido, desde o primeiro encontro, fomos muito longe no debate.
A encíclica Laudato si recolhe
essas reflexões comuns na doutrina cristã, mas também as divulga entre os
ambientalistas e os movimentos populares. Essa encíclica é o nosso principal
instrumento para aumentar a consciência e o debate em todo o mundo. Francisco
conseguiu fazer uma síntese do problema ambiental que nenhum pensador de esquerda tinha
feito antes.
Muitas coisas, infelizmente, mudaram desde o segundo encontro: no Brasil, na Argentina...
Il Manifesto – Para o Bicentenário da Independência da Argentina, o papa enviou uma mensagem abertamente "bolivariana". Como se evidencia o tema da Pátria Grande neste encontro? E o que você pensa sobre o diálogo entre Maduro e a oposição, assumido pelo Vaticano na Venezuela?
Stédile – O Papa Francisco conhece muito bem toda a América Latina, desde os tempos em que ajudava a coordenar os encontros do Conselho Episcopal Latino-Americano. No último, realizado no Brasil, ele coordenou a redação do documento final.
Eu acho que ele assumiu um compromisso profundo com todos os pobres, os
trabalhadores, que provém do Evangelho. E ele sabe que a maioria em todo o
continente continua sendo explorada por uma minoria, 1% dos capitalistas.
(...) É positivo que o papa tenha mantido uma atitude de negociação no caso
da Venezuela, porque a direita pede a guerra, quer afundar o governo,
como já fez em Honduras, Paraguai e Brasil, com golpes institucionais. (...)
Il Manifesto – E em que ponto estão as lutas dos movimentos populares no Brasil e na América Latina?
Stédile – O Brasil vive uma grave crise econômica, política, social e ambiental, como todo o continente. Diante disso, os governos subordinados aos interesses dos Estados Unidos e das suas empresas estão implementando políticas neoliberais cada vez mais selvagens (...).
Porém, no Brasil e em toda a parte, há reações, mobilizações populares. Embora estejamos
resistindo, estamos em uma situação de
refluxo do movimento de massa em geral, em todo o continente. Mas
eu acredito que, por causa das condições objetivas e da situação política, os
problemas vão se agravar, e, muito em
breve, a classe trabalhadora e a juventude vão sair às ruas: mas não só
para protestar, mas para exigir novos modelos de política econômica, novos
programas, novos governos.
Estamos
nesse ponto, tentamos aumentar a conscientização, organizar os movimentos
populares para que lutem e para ver se, no futuro próximo, o movimento de
massas se levanta, tanto no Brasil quanto em vários países do continente
atingidos pelo neoliberalismo.
E há sinais nesse sentido, porque a juventude começa a se mover. Já
temos mais de 1.000 escolas secundárias
ocupadas pelos estudantes, e agora as universidades também começaram. Já são dez,
incluindo os estudantes da Universidade de Brasília, que ocuparam a
universidade nessa terça-feira.
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