Reuters
África escravizou 1 milhão de brancos,
diz historiador
da Reuters, em Washington
Mais de 1 milhão de europeus foram escravizados por
traficantes norte-africanos de escravos entre 1530 e 1780, uma época marcada
por abundante pirataria costeira no Mediterrâneo e no Atlântico. A informação é
do historiador americano Robert Davis, que falou sobre o assunto anteontem.
Segundo ele, embora o número seja pequeno perto do total de
escravos africanos negros levados às Américas ao longo de 400 anos --entre 10
milhões e 12 milhões--, sua pesquisa mostra que o comércio de escravos brancos
era maior do que se presume comumente e que exerceu um impacto significativo
sobre a população branca da Europa.
''Uma das coisas que o público e muitos especialistas tendem
a dar como certa é que a escravidão [na Idade Moderna] sempre foi de natureza
racial --ou seja, que apenas os negros foram escravos. Mas não é verdade'',
disse Davis, professor de história social italiana na Universidade Ohio State.
"Ser escravizado era uma possibilidade muito real para
qualquer pessoa que viajasse pelo Mediterrâneo ou que habitasse o litoral de
países como Itália, França, Espanha ou Portugal, ou até mesmo países mais ao
norte, como Reino Unido e Islândia."
Piratas
Davis escreveu um livro sobre o tema, recém-lançado, chamado
"Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the
Barbary Coast, and Italy, 1500-1800" (escravos cristãos, senhores
muçulmanos: a escravidão branca no Mediterrâneo, na costa Berbere e na Itália).
Nele, o historiador calcula que entre 1 milhão e 1,25 milhão de europeus tenham
sido capturados no período citado por piratas conhecidos como corsários e
obrigados a trabalhar na África do Norte.
Os ataques dos piratas eram tão agressivos que cidades
costeiras mediterrâneas inteiras foram abandonadas por seus moradores
assustados.
"Boa parte do que se escreveu sobre o escravagismo dá a
entender que não houve muitos escravos [europeus] e minimiza o impacto da
escravidão sobre a Europa", disse Davis em comunicado.
"A maioria dos relatos analisa apenas a escravidão em
um só lugar, ou ao longo de um período de tempo curto. Mas, quando se olha para
ela desde uma perspectiva mais ampla e ao longo de mais tempo, tornam-se claros
o âmbito maciço dessa escravidão e a força de seu impacto."
Remadores em galés
Partindo de cidades como Túnis e Argel, os piratas atacavam
navios no Mediterrâneo e no Atlântico, além de povoados à beira-mar, para
capturar homens, mulheres e crianças, disse o historiador.
Os escravos capturados nessas condições eram colocados para
trabalhar em pedreiras, na construção pesada e como remadores nas galés dos
piratas.
Para fazer suas estimativas, Davis recorreu a registros que
indicam quantos escravos estavam em determinado local em determinada época.
Em seguida, estimou quantos escravos novos seriam
necessários para substituir os antigos à medida que eles iam morrendo, fugindo
ou sendo resgatados.
"Não é a melhor maneira de fazer estimativas sobre
populações, mas, com os registros limitados dos quais dispomos, foi a única
solução encontrada", disse o historiador, cujos trabalhos anteriores
exploraram as questões de gênero na Renascença.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u32556.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário