Lançado pela primeira vez em janeiro de 2001, em Porto
Alegre, o Fórum Social Mundial (FSM) pretendia ser um contraponto ao Fórum
Econômico Mundial de Davos, na Suíça. A propaganda Lançado pela primeira vez em
janeiro de 2001, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial (FSM) pretendia ser um
contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. A propaganda foi
enorme, pois na prática era a tentativa de construir uma nova internacional
comunista, sob o título de “Internacional Rebelde”.
Com altos apoios
nacionais, internacionais e eclesiásticos, o FSM proclamava a “diversidade”
como sendo a característica fundamental de sua constituição, ou seja, todos os
grupos de esquerda eram bem-vindos, quaisquer que fossem suas convicções
particulares ou seus métodos de ação, desde que unidos contra o capitalismo e a
propriedade privada. Figuras então “no vento” como Noam Chomsky e Toni Negri
eram badaladas como os novos profetas.
Procurou-se dar a impressão de que se tratava de um
movimento arrasador, que nada deteria, pois passaria imediatamente à prática e
mudaria as instituições. Tudo isso e muito mais foi então denunciado por um
opúsculo altamente esclarecedor, publicado em 2002, sob o título A pretexto do
combate à globalização – Renasce a luta de classes, sobre o qual a conceituada
revista Catolicismo publicou ampla reportagem de capa.(1)
A segunda edição do FSM, em 2002, ainda alcançou grande
repercussão. A partir daí, a falta de apoio popular a suas iniciativas começou
a pesar sobre ele como um manto de morte. Veio definhando, excursionou sem
sucesso por várias partes do Planeta, e assim chegou à realização de sua 15ª
edição, novamente em Porto Alegre, de 19 a 23 de janeiro de 2016, reduzido
agora a mero apêndice do PT e do governo Dilma.
Segundo um editorial de “O Estado de S. Paulo” (21-1-2016),
o FSM “consolida-se como um evento oficial, com farto patrocínio estatal,
participação direta do governo petista e agenda ditada pelas conveniências
políticas e ideológicas do Planalto”.
A Petrobrás, que está dispensando milhares de funcionários
terceirizados e cortando gerências por falta de verba, contribuiu com R$ 800
mil para a realização do Fórum. A Itaipu Binacional, com R$ 180 mil.
“Os organizadores do encontro anunciam com orgulho que sete
ministros de Dilma estarão presentes, deixando ainda mais claro o caráter
chapa-branca do convescote”, no qual falará o presidente do PT sobre “tempos de
golpismo”.
Rotas batidas e desânimo
Na passeata de abertura, “críticas ao processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff e ao presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, foram os principais temas levantados pelos manifestantes” (“Folha de S.
Paulo”, 19-1-16).
Consultando o site do Fórum Social,(2) encontramos a lista
de temas tratados. Bem analisados, fica claro que, junto à apologia das rotas
batidas da esquerda, há uma forte dose de desânimo. Vejam estes títulos de
palestras ou reuniões:
1 — “Não é fácil, não está sendo fácil e não será fácil”,
diz ministra de Direitos Humanos, cobrada por políticas de governo durante
Fórum Social;
2 — Povos indígenas divulgam carta denunciando violações e
retrocesso após encontros no Fórum Social;
3 — Assembleia dos movimentos sociais propõe luta global
contra retrocessos civilizatórios do capitalismo;
4 — Economia Solidária busca avanços no Brasil;
5 — Em mesa do FST [Fórum Social Temático], líderes da
esquerda pedem “mais força, mais luta” contra impeachment;
6 — Nota de Repúdio — Palestinos impedidos de viajar ao
Brasil — barrados pelo violento fechamento da cidade de Hebron, na Cisjordânia;
7 — Atividade no Fórum Social mostra que precisamos falar da
reforma psiquiátrica e de transtornos mentais.
Análises, antes e depois do Fórum
O site da Universidade Unisinos, dos jesuítas do Rio Grande
do Sul, publicou em 20 de janeiro, logo no início do Fórum, artigo de Jacques
Távora Alfonsin,(3) intitulado “O novo Fórum Social Mundial precisa de
coragem”. Nele, o insuspeito articulista deixa claro que “o Fórum social perdeu
grande parte da sua motivação e do entusiasmo com que foi inaugurado há 15 anos
atrás”[sic]. Para Alfonsin, “essa melancolia resultante desse permanente
combate, por vezes frustrante, vem minando a força dessa militância, aliás já
envelhecida em grande parte”.
O mesmo site, após o encerramento do Fórum, reproduz, em 27
de janeiro, uma reportagem assinada por Bia Barbosa, da revista “Carta
Capital”, segundo a qual, “já há quatro anos as organizações que integram o
Conselho Internacional do FSM constataram que o espaço vinha perdendo
relevância e a capacidade de pautar agendas e articulações de impacto global.
[...] Visões divergentes no seio do Fórum e as mudanças na conjuntura global
têm, entretanto, dificultado a capacidade de produção de uma resposta à altura
dos atuais desafios”.
Prossegue a reportagem: “Para Oded Grajew, outro ativista
dos primórdios deste processo, hoje na ‘Rede Nossa São Paulo’, o FSM está em
crise, assim como as associações que dele participam”.
Também Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres, relaciona
as dificuldades do FSM com as derrotas dos governos bolivarianos na América
Latina: “Não podemos desvincular nossas questões dos impasses, conflitos e
limites que esses governos tiveram, e que agora estão implicando nas derrotas que
estamos tendo na região.”
* * *
Como vemos por todo o relatado, o Fórum Social Mundial, que
começou 15 anos atrás cantando de galo, encontra-se agora atingido por todo
tipo de problemas e dificuldades, a maior das quais, de longe, é a falta de
respaldo popular para suas doidas utopias.
Cegados por sua adesão a uma ideologia de esquerda, que
imaginavam redentora, seus dirigentes e propulsores esqueceram-se de que existe
algo chamado realidade, a qual costuma vingar-se dos que impunemente a transgridem.
Eis agora o FSM na UTI das ideologias, de onde já saíram para o necrotério o
sovietismo e tantas outras tentativas frustradas da esquerda mundial.
Mas não pense o leitor que com isso aprenderam algo. Nada
indica que vão mudar. Realizam o que nos ensina o Apóstolo São Paulo:
“Extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração
insensato. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos” (Rom. 1,21-22).
(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
__________
Notas:
1. Revista “Catolicismo” fevereiro/2002; os autores do
opúsculo são José Antonio Ureta e Gregorio Vivanco Lopes.
2. http://forumsocialportoalegre.org.br/
3. Membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos e
procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul foi enorme, pois na
prática era a tentativa de construir uma nova internacional comunista, sob o
título de “Internacional Rebelde”.
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