Meu tio George
Mentor Neto (Isto é)
Quando eu tinha uns dez anos, ele
me levou para conhecer o quartel que comandava. Que maneira de conquistar para
sempre o respeito e o orgulho de um sobrinho. A verdade é que a Disney não
seria tão bacana para uma criança como o quartel do tio George. Logo na
entrada, dois soldados, ao ver seu carro apontar, assumiram a posição de
sentido. Sorri por dentro. Igual aos filmes, pensei. Aliás, o quartel tinha
tudo que os filmes têm.
Grupos de soldados correndo e
repetindo frases aos gritos. Uma sala de oficiais. Uma sala de armas, blindados
e por aí vai. Era o Batalhão de Engenharia. – Mas por que engenharia? Ele
explicou que o batalhão era responsável por prover a infraestrutura dos outros
batalhões. – Essa máquina aqui — explicou — a gente coloca num riacho e
purifica trocentos litros de água por minuto. Ele não falou trocentos.
Eu é que não lembro quantos. Mas
eram muitos. Explicou que o batalhão podia construir pontes, montar pequenos
hospitais, essas coisas. Infraestrutura. O Batalhão de Engenharia chegava num
lugar ermo qualquer e criava uma minicidade. Ou seja, os fuzileiros desse
batalhão fazem, na guerra, o que o governo deveria fazer com o País nos tempos
de paz. A Intervenção no Rio de Janeiro me fez lembrar do quartel do tio George.
Os militares fazendo o que o
governo deveria fazer. Sendo assim, olha só que bela solução. – Essa máquina
aqui — explicou — a gente coloca num riacho e purifica trocentos litros de água
por minuto. Ele não falou trocentos. Eu é que não lembro quantos. Mas eram
muitos. Explicou que o batalhão podia construir pontes, montar pequenos
hospitais, essas coisas. Infraestrutura. O Batalhão de Engenharia chegava num
lugar ermo qualquer e criava uma minicidade.
Ou seja, os fuzileiros desse
batalhão fazem, na guerra, o que o governo deveria fazer com o País nos tempos
de paz. A Intervenção no Rio de Janeiro me fez lembrar do quartel do tio
George. Os militares fazendo o que o governo deveria fazer. Sendo assim, olha
só que bela solução. Vamos entregar o País para o Batalhão de Engenharia dos
Fuzileiros Navais! Afinal, guerra mesmo de verdade nós não vamos enfrentar tão
cedo, não é mesmo?
Com quem poderíamos entrar em
guerra? Com a Bolívia? O Paraguai? No máximo a Argentina se perder a Copa com
gol do Neymar. Enquanto isso, o Batalhão de Engenharia está lá, treinando.
Restrito a seu quartel. Gerações de soldados altamente especializados que nunca
tiveram a chance de colocar em prática suas habilidades. Ao colocar o Exército
no Rio, vamos admitir: nós, civis, não demos conta do recado de cuidar da
segurança.
Já que estamos fazendo esse mea
culpa, vamos ser honestos. Também não demos conta do saneamento, da saúde, da
educação. Então pronto! Construir viadutos? Batalhão de Engenharia. Saneamento?
Batalhão de Engenharia. Podemos expandir o plano e chamar cada uma das Forças
Armadas em suas especialidades. Aeroportos? Aeronáutica. Portos? Marinha.
Porque, convenhamos, com nossos
votos, conseguimos espalhar incompetência em praticamente todas as áreas de
atuação do governo. Aí você vai dizer “pronto, mais um que quer a volta o
governo militar”. Ora, por favor. Longe disso. Quem foi que falou em governo?
Em meu projeto, o governo continua lá, em Brasília, cuidando de seus escândalos
e de suas trapalhadas. Continuamos uma democracia de primeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário