Presos sem saída
Rodrigo
Rangel, Robson Bonin e Bela Megaele
SEM SAÍDA – Presos desde
novembro do ano passado, os empreiteiros envolvidos no escândalo da Petrobras
negociam acordos de delação premiada com a justiça (Michel Filho/AG. O GLOBO/VEJA)
Há quinze dias, os quatro
executivos da construtora OAS, presos durante a Operação Lava-Jato, tiveram uma
conversa capital na carceragem da polícia em Curitiba.
Sentados frente a frente, numa
sala destinada a reuniões reservadas com advogados, o presidente da OAS, Léo
Pinheiro, e os executivos Mateus Coutinho, Agenor Medeiros e José Ricardo
Breghirolli discutiam o futuro com raro desapego.
Os pedidos de liberdade rejeitados pela
Justiça, as fracassadas tentativas de desqualificar as investigações, o Natal, o
réveillon e a perspectiva real de passar o resto da vida no cárcere levaram-nos
a um diagnóstico fatalista.
Réus por corrupção, lavagem de
dinheiro e formação de organização criminosa, era chegada a hora de jogar a
última cartada, e, segundo eles, isso significa trazer para a cena do crime,
com nomes e sobrenomes, o topo da cadeia de comando do petrolão.
Com 66 anos de idade, Agenor
Medeiros, diretor internacional da empresa, era o mais exaltado: “Se tiver de
morrer aqui dentro, não morro sozinho”.
A estratégia dos executivos da
OAS, discutida também pelas demais empresas envolvidas no escândalo da
Petrobras, é considerada a última tentativa de salvação.
E por uma razão elementar: as
empreiteiras podem identificar e apresentar provas contra os verdadeiros comandantes
do esquema, os grandes beneficiados, os mentores da engrenagem que funcionava
com o objetivo de desviar dinheiro da Petrobras para os bolsos de políticos
aliados do governo e campanhas eleitorais dos candidatos ligados ao governo.
É um poderoso trunfo que, em um
eventual acordo de delação com a Justiça, pode poupar muitos anos de cadeia aos
envolvidos. “Vocês acham que eu ia atrás desses caras (os políticos) para
oferecer grana a eles?”, disparou, ressentido, o presidente da OAS, Léo
Pinheiro.
Amigo pessoal do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva nos tempos de bonança, ele descobriu na cadeia que as
amizades nascidas do poder valem pouco atrás das grades.
Na conversa com os colegas
presos e os advogados da empreiteira, ele reclamou, em particular, da
indiferença de Lula, de quem esperava um esforço maior para neutralizar os
riscos da condenação e salvar os contratos de sua empresa.
Léo Pinheiro reclama que Lula
lhe virou as costas. E foi dessa mágoa que surgiu a primeira decisão concreta
do grupo: se houver acordo com a Justiça, o delator será Ricardo Breghirolli,
encarregado de fazer os pagamentos de propina a partidos e políticos corruptos.
As empreiteiras sabem que novas
delações só serão admitidas se revelarem fatos novos ou o envolvimento de
personagens importantes que ainda se mantêm longe das investigações. Por isso,
o alvo é o topo da cadeia de comando, em que, segundo afirmam reservadamente e
insinuam abertamente, se encontram o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff.
(Com
reportagem de Daniel Pereira e Hugo Marques)
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