A jararaca só venceu
quando foi paz e amor
Péricles Capanema
27 de fevereiro, comemoração do aniversário do PT no
Rio de Janeiro, Lula avisou no fim do discurso: ▬ Daqui pra
frente, é pão, pão, queijo, queijo. Lulinha não vai ser mais Lulinha paz e
amor!
Voltava à cena o Lula próximo dos
comunistas, que, em proclamações extremistas, mostrando as presas peçonhentas, perdeu
três eleições presidenciais. Só venceu ao garantir em carta aberta ao povo brasileiro manter a
política econômica do governo FHC, inaugurando a fase Lulinha paz e amor.
18 de março, manifestação de apoio
ao PT, Dilma e Lula na avenida Paulista, de novo o chefão petista recolocou a
máscara antiga: ▬ Vim para cá pensando como falar sem ficar nervoso. Tem
muita gente pensando que eu vou atacar. Na hora em que a companheira Dilma me
chamou [...] veja o que aconteceu comigo, eu virei outra vez Lulinha paz e
amor. Eu não vou lá para brigar.
A guinada aconteceu logo depois de Lula ser anunciado
do palanque, de forma solene, como o cavaleiro da esperança, o título de Luiz
Carlos Prestes, no meio do mar de camisas vermelhas, onde tremulavam sem número
as bandeiras da foice e do martelo.
O que teria acontecido? Um primeiro ponto, arquivou
bravatas, voltou à política possível. O PT está fraco politicamente, a rejeição
das ruas é altíssima, estão esboroando as alianças partidárias. O Datafolha de
19 de março dá rejeição de 57% para Lula, a maior entre todas as pesquisas; na
mesma direção, 68% dos brasileiros querem o impedimento da presidente Dilma. Um
fraco tenta acordos, não agride adversários.
Outro ponto chama a atenção, a mudança clara do quadro
nos últimos dias. Entre as forças decisivas do Brasil, na política, na
economia, no âmbito religioso, nos órgãos de classe, rapidamente está se
construindo o consenso de que a saída necessária e provisória da atual crise é
o impedimento da Presidente. Coisa que nunca se viu, entidades de classe, às
centenas, estão se manifestando publicamente pelo fora Dilma. E, em especial, dois
sintomas indicam atmosfera nova: a OAB, até agora, de fato, embora com
disfarces, força auxiliar do lulopetismo, em votação esmagadora, apoiou o
impeachment. O segundo, a CNBB, de triste trajetória governista, calou-se. Hoy por hoy, como dizem os espanhóis, já
vivemos no pós-Dilma.
No situacionismo, continuam arreganhos e
estrebuchamentos; são compreensíveis e até imprescindíveis para o PT. Um deles
foi a declaração boçal de Eugênio Aragão, o novo ministro da Justiça: ▬ Cheirou vazamento de investigação por um agente
nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. ▬ É o
petismo em seu lado totalitário, harmônico com o mar de vermelho na avenida
Paulista e as bandeiras da foice do martelo. E assim, posto o clima atual, o
governo, até por jogo de cena, vai continuar esperneando.
Estrebuchar, passar a impressão de que não entregou os
pontos, tem razão importante, ajuda a manter acesos os ativistas. A direção
partidária precisa dar carne para o tigre, sob pena de os mais ardidos caírem na inanição. Com um problema: dá problemas o
tigre rugir demais.
No caso, temos dois problemas concomitantes, de
difícil harmonização, ambos decisivos para o futuro do PT: desmobilizar os
opositores e mobilizar a militância. E o partido precisa solucionar ambos
aceitavelmente, sob pena de sucumbir. Não custa lembrar, o PT não é partido
comum, é seita ideológica, no horizonte político brasileiro em boa medida ocupa
o lugar vago pelo antigo Partidão; como o velho PCB, precisa nutrir os setores
ardidos. Nesse quadro, até os políticos petistas de mais relevância,
confrontados com o “senhor Fato”, recordando a expressão de Ulysses Guimarães, já
devem estar com a atenção mais posta no pós-Dilma que na situação atual. E,
logicamente, seu propósito deve ser manter acesa a militância, atrair
simpatizantes e não perder muito eleitorado. Para conseguir os três fins, o
provável é enorme encenação de partido preocupado com os pobres, porta-voz das
causas progressistas, injustiçado por perseguição implacável de elites
insensíveis. Além disso, em auditórios escolhidos, destemida e afirmativa
defesa das teses extremistas, as que provocam aclamações delirantes.
E volto, se carregar fora da medida a agressão aos
sentimentos públicos dominantes, endurecerá o polo duro do antipetismo e, congruentemente,
favorecerá seu aumento. Aí pode queimar chances de progresso por décadas. Dessa
forma, a menos que sejam idiotas, e não são, os estrategistas do PT buscarão
meios de evitar que a presente exasperação antipetista, de si lava passageira,
se transforme em pedra, obstáculo permanente. O Brasil que presta, o que
pretende? Quanto mais pedra, melhor.
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