Plantou? Choveu? Colheu?
Percival Puggina
É normal que os governantes subam ao palco das homenagens quando o PIB do
Estado registra expansão significativa. Totalmente anormal seria
apresentarem-se para vaias nos anos de crescimento negativo.
Quem observa o PIB
gaúcho ao longo da série histórica de 2002 a 2013, disponível no site
da Fundação de Economia e Estatística, observará que os anos de pior desempenho
foram os de 2005, 2009 e 2012, quando o PIB caiu respectivamente 2,8%, 0,4% e
1,4%.
Foram três tombos, em direta relação com as estiagens ocorridas nesses
mesmíssimos anos. Em compensação - felizmente há alguma compensação - os
períodos subsequentes às estiagens são, sempre, de crescimento significativo,
pois partem de patamares reduzidos.
Os bons números recentemente divulgados a respeito
do PIB gaúcho de 2013, que cresceu 5,8%, foram bafejados pela excelente safra
do ano passado e pelo fato de se referirem à base negativa determinada pela
estiagem de 2012.
Faz parte do jogo festejar bons resultados como produtos da inspirada e
competente gestão pública e atribuir os maus à inclemência da estiagem.
No
entanto, ante as manifestações oficiais sobre a boa expansão do PIB gaúcho no
ano passado, obviamente calcado no agronegócio e nas grandes colheitas de soja,
arroz e trigo, indaguei a mim mesmo: quando o partido que nos governa começou
a se interessar pela prosperidade do agronegócio?
Muitas vezes ouvi de seus parlamentares críticas candentes ao modelo agrícola
estadual e suas extensivas monoculturas. As centenas de invasões de
propriedades, levando intranquilidade e violência ao ambiente rural, não
tiveram e não continuam tendo incondicional apoio do partido?
Afinal, em que
berçário nasceu e em que úberes o MST buscou leite para se desenvolver? O
Rio Grande do Sul é um Estado sem novas fronteiras agrícolas. Não dispomos de
terras virgens, por serem exploradas.
Nos últimos anos, nenhum
avanço significativo teria ocorrido na produtividade das nossas lavouras sem o
uso de defensivos e sementes geneticamente modificadas. E eu lembro bem do fogo
cerrado que as tecnologias sofreram por parte do PT. O partido apoiava muito a
agricultura familiar (no que ia bem) e métodos arcaicos de produção (no que
sempre foi muito mal).
Agronegócio era palavrão, coisa de latifundiário
neoliberal. Mais, todo produtor rural conhece o jogo pesado da presidente
Dilma, junto com sua base no Congresso Nacional, para a aprovação da MP-571
numa versão que danificaria econômica e socialmente o setor, seja por indústria
de multas, seja por excesso de ônus à atividade privada, seja por abusiva
redução da área de exploração, seja por desrespeito ao pacto federativo e por
aí afora.
Todos os estabelecimentos rurais passariam a trabalhar
para alcançar certas metas do governo, que não planta, não chove e não colhe.
Produção e a produtividade não pareciam encontrar lugar entre essas metas.
Por que tudo isso? Por uma ideologia que conduz as ações do governo e de
entidades com ele afinadas num viés avesso ao direito de propriedade. Não preciso
explicar, certo? É nesse sentido que trabalham a Funai e o CIMI em sua cobiça
por áreas produtivas para entregá-las a reservas indígenas.
É nesse mesmo
sentido que vão as reivindicações dos quilombolas, sempre apoiadas por
movimentos sociais de idêntica motivação e na mesma sintonia. Não possuo um
palmo de terra.
Mas alerto: sem respeito ao direito de propriedade, numa
correta ordem juspolítica, pouco se planta e se colhe. Quer chova, quer não
chova.
Zero Hora, 23 de março de
2014
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