PAJELANÇA IGUALITÁRIA
Jacinto
Flecha
Depois que se tornou patente aos olhos
do mundo a situação de miséria na União Soviética, os adeptos de doutrinas
igualitárias deveriam ter pedido perdão por espalhar suas ideias, tão
contrárias ao progresso da humanidade. Seria esta uma atitude razoável, decente,
mas se alguém esperava ou ainda espera esse improvável mea culpa, é melhor reavaliar seus conhecimentos sobre a natureza
humana, pois não existiu nem existirá essa retratação. Não se deve esperar
também que escolham caminho diferente, a não ser que o tal caminho diferente seja
o mesmo.
Não pense que estou brincando com os
termos, logo você verá que o mesmo é
diferente de diferente.
Uma constante nos países comunistas foi
explicitada neste paradoxo muito divulgado no Ocidente não comunista: Todos são iguais, mas uns são mais iguais do
que os outros. Já era assim antes de desmoronar o comunismo (você deve se
lembrar da famigerada e privilegiada nomenklatura
soviética), e continua adquirindo requintes o favorecimento desses “amigos do
rei”. Também nos poucos países onde se manteve o regime, basta comparar o
padrão de vida do povo com o do “rei” e seus amigos. Nos países que agem
atualmente de acordo com a cartilha bolivariana, o espetáculo dos “mais iguais”
se renova com outras cores, outras moedas, outros atores, a mesma desonestidade
e incompetência. Aí você tem algumas diferenças no mesmo caminho.
No ambiente psicossocial posterior à
derrocada do império comunista, muitos estudiosos se esforçaram honestamente para
explicar por que não deu certo. São muitas as explicações válidas, e uma delas
está na base de todas as outras: o ser humano é desigual pela própria natureza,
e tende a melhorar sua situação com esforço e iniciativa próprios, aumentando
assim a desigualdade. Portanto as doutrinas igualitárias tendem necessariamente
ao fracasso. E fracassarão sempre, ainda que meios coercitivos tentem impedir
essa diferenciação.
Além desses estudiosos bem orientados,
alguns esquerdistas com graus variáveis de preconceitos igualitários apresentaram
tentativas de explicação, com o objetivo de disfarçar algumas coisinhas para
poderem permanecer nos mesmos erros. Não vou catalogar nem discutir cada uma
dessas tentativas de explicação, apenas direi algo sobre uma que li em alguns
comentaristas, desses que encontram sempre abertas as portas da mídia. Assim se
resume a explicação: o socialismo, para dar certo, tem de ser aplicado em todos
os países, não pode restringir-se a um só ou a alguns.
Qualquer filósofo, psicólogo,
sociólogo, antropólogo dotado de bom nível de conhecimento da sua ciência, terá
argumentos incontestáveis para aniquilar propostas como essa. Na faixa
científica em que sempre atuei, exemplos abundantes mostram a falsidade dessa
pretensa explicação. Comento apenas um, muito fácil de entender. Antes de lançar
no mercado um medicamento novo, indicado para o tratamento de certa doença, a
eficácia dele é inicialmente testada in
vitro, depois em animais de laboratório. Se funcionou bem, sem efeitos
colaterais consideráveis, será em seguida testado em número restrito de
voluntários. O uso em maior escala só será permitido se sua eficácia for comprovada,
sem riscos consideráveis. Esse processo costuma demorar mais de dez anos. Mesmo
na última fase, em que o medicamento passa a ser usado pelos pacientes em geral,
qualquer alerta sobre alguma consequência imprevista ou imprevisível acarretará
sua exclusão imediata. Com a Talidomida aconteceu isso, e o laboratório foi
processado no mundo inteiro, com enormes multas e indenizações.
Imagine agora o que aconteceria se não
fossem tomadas todas essas precauções. Suponhamos que um vendedor ambulante –
digamos, um Carlos Marques da Sillva – saia por aí vendendo uma “garrafada” igualitária
que produziu. Ele imagina bons efeitos terapêuticos, mas não a testou
cientificamente. Você correria o risco de tomá-la? Se muitos se deixassem convencer,
e as consequências danosas começassem a aparecer, você recomendaria que fosse
usada por todos?
Formulo estas perguntas apenas pro forma, pois não imagino estar sendo
lido por algum desparafusado e inconsequente. Mas veja bem que esta é a atitude
sugerida por aqueles comentaristas igualitários da mídia. E as minhas perguntas
precisam ser respondidas por quem dirige os destinos de países e governos, como
também pelos que pretendem assumir essa condição. O destino de um país não pode
ser confiado a quem se serve de pajelanças perigosas, como a “garrafada” comunista.
E agora nem há mais desculpa, pois as consequências desastrosas já estão
comprovadas. Só não entendo que não entendam isso nossos terroristas enfeitados
e empoleirados.
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