Recordes no campo e no mercado
Luana Gomes
O agronegócio está prestes a encerrar um ano para ficar na
história. Em meio às turbulências políticas e econômicas do país, o setor foi
beneficiado por uma conjuntura que favoreceu produção e exportação recordes no
período. A rentabilidade pode não ter sido a esperada, mas com certeza foi
positiva. Fator de risco em uma atividade altamente atrelada ao dólar, o câmbio
foi a variável que fez a grande diferença.
Foi a relação entre o dólar e o real que manteve as cotações
das principais commodities agrícolas no Brasil descoladas, e muito, da Bolsa de
Chicago, referência na formação de preço, cenário que deu mais competitividade
à produção e ao produtor nacional. Enquanto a cotação internacional, em dólar,
despencou para algo em torno de US$ 19 a US$ 20 a saca, os negócios com a
oleaginosa no Brasil se mantêm firmes acima dos R$ 60 a saca.
Tivemos problemas? Sim! Mas são muitas as conquistas.
Estamos batendo recordes nos embarques de soja e milho, nos reafirmamos como o
maior exportador de carne de frango e agora também somos o segundo maior
produtor mundial de aves. E o ano ainda não terminou. Se a chuva permitir, os
terminais continuam carregando soja e milho até o último instante de 2015.
Em resumo
A safra foi boa e a rentabilidade idem, a considerar o cenário
econômico, porque o dólar mudou a sazonalidade de preços. As cotações
permaneceram atraentes no plantio e na colheita e estabeleceram maior dinamismo
e liquidez na soja, que se reafirma como a grande cultura no Brasil. Já o
milho, com o volume de produção e de embarque, assume definitivamente postura
de agricultura comercial no país. Veja também Demissões ainda não freiam
inflação
Em 2015, a expectativa é embarcar mais de 50 milhões de
toneladas de soja em grão e atingir uma marca histórica para o milho, que pode
chegar a 30 milhões de toneladas exportadas. Estamos falando de mais da metade
da soja e quase um terço do milho produzidos em território nacional que são
comercializados no mercado internacional. Haja produção, de norte a sul do
país.
Para mandar tudo isso para o exterior, o Brasil também teve
recorde de produção, com 210 milhões de toneladas de grãos. Na mesma linha, o
Paraná, segundo produtor nacional, no ciclo 2014/15 registrou marca histórica
de 38 milhões de toneladas. Da safra nacional, quase a metade do volume vem da
soja, a commodity agrícola com maior liquidez no mercado nacional e
internacional.
Perspectivas
Para a safra que está em andamento, muita atenção ao clima.
O indomável El Niño começa a comprometer o desenvolvimento das lavouras com
excesso de chuva na região centro-sul e falta de água no centro-norte.
Preocupação menor que o clima, o câmbio deve continuar favorável às
exportações, entre R$ 3,80 e R$ 4, no primeiro trimestre do ano novo, quando se
concentra o pico da colheita de verão. Outro destaque está na demanda, interna
e externa, que não deve ter grande alta, mas continua crescendo. Com
infraestrutura em plena expansão, em especial no tocante à logística, que
privilegia o escoamento da produção, o agronegócio brasileiro também deve
melhorar em eficiência e competitividade.
Contudo, mais do que nunca, será preciso muito cuidado na
gestão do negócio. Os estoques mundiais em alta exercem pressão sobre os
preços. O crédito agrícola no Brasil está escasso e mais seletivo.
E a ferramenta de proteção, o seguro rural, uma novela. Sem
recursos garantidos, promessas não cumpridas, incertezas e muita insegurança,
as indefinições sobre seguro representam um entrave e uma limitação na tomada
de decisão pelo produtor. Por fim, todo o cenário político-econômico do Brasil,
que afeta a confiança do consumidor e do produtor, com impacto direto e
indireto no campo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário