Eles vão matar nós é, papai? Eles vêm
matar nós, é?
Elismar dos Santos ouviu essas duas perguntas de um dos seus
quatro filhos quando as forças federais chegaram para expulsá-los de casa.
O
pequeno produtor rural de 32 anos possuía um imóvel em uma área demarcada pela
Funai no Maranhão. Sua esposa, Dona Leidiane, aparece sendo admoestada pelo próprio Nilton Tubino,
funcionário da Secretaria Geral da Presidência da República.
Leidiane, Elismar
e as crianças foram expulsos de sua casa junto com outras mil duzentas e tantas
pessoas pelo governo na operação de desintrusão da Terra Indígena Awá-Guajá, no
Maranhão.
No dia em que Nilton Tubino, na segurança de um colete à prova de balas, cruzou pessoalmente a vida de Elismar e Leidiane ambos foram incluídos em um cadastro.
Foram informados de que, se
saíssem da área e abandonassem suas posses voluntariamente, teriam direito ao
Bolsa Família, a um novo lote de terras em outra parte do país e a
financiamento público.
Carcados por policiais e ao som dos motores de
helicópteros militares, Elismar, Leidiane e os filhos saíram. Sua casa foi
demolida e sua roça abandonada, mas até agora nenhuma das promessas do estado
foi cumprida.
http://www.questaoindigena.org/2014/05/eles-vao-matar-nos-e-papai-eles-vem.html
O lavrador perdeu a terra sem poder colher sua lavoura. Perdeu o arroz e o
milho. Perdeu as abóboras e o feijão. Vive hoje com a família em uma tapera de
chão batido e paredes de taipa que lhe foi emprestada.
O barraco fica próximo
ao acampamento montado pelo Exército para servir de base à mega operação que o
expulsou da terra. Da porta de sua nova casa alheia, Elismar e Leidiane
enxergam seus algozes.
Desde o expurgo, o agricultor mostra sinais de depressão. Há noites em que não
dorme. Reclama de dores pelo corpo. Já não consegue “prestar diárias de
serviços” em troca de pagamento.
Não tem como pagar as contas de água e luz,
nem como comprar os remédios que lhe foram receitados pelos males que o estado
lhe causou.
Assim como Elismar, Mariano Rosa também foi expulso da própria casa pelo
governo no expurgo étnico da Terra Indígena Awá-Guajá.
Vive hoje no povoado
Dois Irmãos, em São João do Carú, uma das cidades mais pobres do
Maranhão. Diz ter um pesadelo recorrente no qual vê um grande trator derrubando
sua antiga casa com sua família dentro. Há noites em que também não consegue
dormir.
Por solidariedade Mariano acolheu em sua nova e humilde casa de taipa o Senhor
Raimundo Expedito e seu filho. Compadre Velho, como Raimundo é conhecido, anda
com dificuldades e também foi expulso com a família na operação do Governo.
Com
56 anos, mas aparentando 86, Compadre Velho criou sozinho o filho desde a morte
da esposa há vinte anos. Há vinte anos ele e o filho viviam juntos na área
demarcada pela Funai de onde saíram carregando algumas panelas amassadas, um
pote de barro e um jumento.
As tropas do governo não vieram matar as pessoas a sangue frio. Os dramas e Elismar, Leidiane, Mariano, Raimundo e seu filho são semelhantes
aos da maioria dos degredados da Terra Indígena Awá-Guajá. Todas as fotos que
ilustram está postagem foram tiradas pela própria Funai durante a operação.
http://www.questaoindigena.org/2014/05/eles-vao-matar-nos-e-papai-eles-vem.html
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