Quem enfrentará bem 2015?
Jose Roberto Mendonça de Barros
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O agronegócio é, sem dúvida, o
segmento mais preparado para 2015. Não há um desequilíbrio estrutural entre
oferta e demanda e os preços podem melhorar no futuro próximo
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O cenário para o próximo ano se afigura como desafiador. O volume de
incertezas ainda é muito grande e vão desde a natureza do ajuste prometido
pela nova equipe econômica até a crise internacional, passando pelas
consequências, políticas e econômicas, do Petrolão.
Será possível extrair algo de mais firme para a construção de cenários para
setores e empresas?
É o que tentamos fazer a seguir.
Em primeiro lugar, precisamos destacar algumas variáveis que devem, com boa
probabilidade, ter tendências definidas em meio a atual volatilidade.
As mais relevantes são:
Bom crescimento nos Estados Unidos; fraco na Europa, Japão, exportadores de
Petróleo e muitos emergentes.
Preços baixos de commodities. No caso das agrícolas, o consumo continua forte
e as cotações refletem mais do que tudo a grande safra americana.
Isto posto,
os preços podem se recuperar adiante por flutuações da oferta (como está
acontecendo com o trigo, dadas as dúvidas quanto ao efeito da seca na
produção russa).
Nos metais e minérios, a queda de demanda veio para ficar
por um bom tempo e os preços devem seguir baixos, dado o excesso de
capacidade produtiva.
Finalmente, por queda de demanda e elevação da oferta
(sem redução de produção por parte da Opep), os preços do Petróleo não só
deverão seguir baixos, como poderão cair ainda um pouco mais.
Valorização do dólar, alta nos juros americanos e elevação do custo de
colocação de papéis de empresas brasileiras no exterior.
Desvalorização adicional do real.
Crédito muito mais seletivo; elevação do custo do passivo externo.
Elevação de alguns tributos, como parte do programa de ajuste.
Oportunidades. Onde estarão algumas oportunidades? Quais setores mais bem
defendidos?
A lista que se segue, evidentemente, é sugestiva e não extensiva.
Em primeiro lugar, as exportações industriais estão estimuladas em
decorrência da forte desvalorização cambial (que, ao longo do próximo ano,
poderá ser ainda maior). Leva tempo e exige esforço, mas não tenho dúvidas
que a indústria vai exportar mais.
Por exemplo, as vendas externas de bens de
capital cresceram, em dólares, algo como 13% de janeiro a outubro deste ano,
em relação ao ano passado.
Embora passando por uma situação difícil, temos no
Brasil muitas indústrias eficientes e produtivas (particularmente
multinacionais), que, com o câmbio, poderão exportar.
No caso dos bens de
capital, boa parte do crescimento dos embarques se deu em direção aos Estados
Unidos e à Europa.
Ao mesmo tempo, está aberta a porta para a nacionalização de componentes e
partes, especialmente no setor automotivo, onde temos muitas novas plantas e
produtores.
O agronegócio é, sem dúvida, o segmento mais preparado para 2015. Não há,
como mencionado, um desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda e os
preços podem melhorar no futuro próximo. A rentabilidade deve cair um pouco
em grãos, mas os últimos cinco anos foram magníficos.
Além disso, a desvalorização do real afeta positivamente toda a receita, mas
nem toda a despesa (por exemplo, salários e outros serviços), o que melhora
as margens.
Mais ainda, por conta do Petróleo, muitos insumos caíram em
dólares (a uréia no golfo caiu mais de 20%), o que mitiga um pouco a elevação
do custo de importação.
Mesmo o Etanol, tão machucado, deve melhorar com a
espera da reintrodução do imposto ambiental, a Cide, e o enfraquecimento do
real. Exceto pelo clima, o ano deverá ser bom.
Nos últimos meses, a nafta petroquímica caiu bem mais que o Petróleo, dada a
grande oferta de propano, derivada da crescente produção do "shale
gas" nos Estados Unidos, entre outros fatores.
Como a petroquímica
brasileira se baseia na nafta, muitos segmentos estão sendo beneficiados. Em
particular, a produção de eteno e a cadeia do plástico recebem um merecido
alivio nos custos.
Ainda no setor químico, a crise hídrica está implicando
numa enorme demanda de produtos para tratamento de água, saneamento e
tratamento de efluentes, buscando o reúso do produto. Os investimentos nestes
segmentos irão crescer bastante e extrapolarão 2015.
Outro complexo importante que deve continuar a desempenhar bem é o de saúde,
indústria farmacêutica, higiene, beleza e farmácias. Nesta área o
envelhecimento da população traz maiores demandas e tanto o setor público
quanto empresas e famílias gastam cada vez mais para atender suas
necessidades.
O mercado de trabalho vem desacelerando e não esperamos crescimento real na
massa salarial para o ano que vem. Com isso, o consumo de bens mais
dispendiosos, como carros e outros bens duráveis são claramente prejudicados.
Ao mesmo tempo, os bens não duráveis acabam relativamente beneficiados, uma vez
que a reorganização dos orçamentos familiares acaba dando mais atenção à
alimentação e outros setores não duráveis.
Finalmente, queria chamar a atenção que, em situações como a que estamos
vivendo, existe um processo natural de consolidação, uma vez que empresas
alavancadas acabam tendo dificuldades, podendo ser absorvidas por aquelas com
maior fôlego financeiro e disposição para crescer em momentos difíceis.
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OESP, 21 de dezembro de 2014
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