O pivô da riqueza em Cristalina
Flávia Maia
Município do Entorno tem o maior número de equipamentos de
irrigação da América Latina. Tecnologia permitiu o incremento da produção e o
aumento do PIB, mas a instabilidade no fornecimento de energia elétrica emperra
o crescimento.
O bom desempenho da Agricultura tem assegurado ao Brasil
resultados positivos na geração de riquezas. Essa força Agrícola deve-se a
municípios de pequeno para médio porte, como Cristalina, no interior de Goiás.
Localizada a 131 km de Brasília, a cidade de 48.463 habitantes tornou-se um
caso de sucesso do agronegócio brasileiro.
Em cinco anos, o município duplicou a participação nacional
no segmento e consolidou-se como o maior Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola
do país. O segredo está no clima e na altitude favoráveis e, principalmente, no
investimento em tecnologia visando o aumento dos índices de produtividade.
Na cultura de Milho, por exemplo, Cristalina produz 2,2 vezes
a média nacional - são 13,2 mil quilogramas por hectare (kg/ha). No caso do
feijão, a proporção é de 1,6 em relação ao índice médio - são 4,68 mil kg/ha.
E, no algodão, fica em 1,28.
Um dos trunfos de Cristalina foi o investimento pesado em
irrigação. O município tem 635 pivôs centrais. É a cidade da América Latina com
a maior quantidade do equipamento: 55,56% das propriedades contam com o
instrumento, enquanto, no Brasil, esse índice é de 1% e, no Centro-Oeste, de
5,25%. O método permite ao produtor fazer até três colheitas por ano. Com a
produtividade nas alturas, estima-se que o PIB da cidade fique em R$ 1,3
bilhão.
Mas esse valor poderia ser bem maior e chegar à casa dos R$ 2
bilhões. Assim como a área irrigada poderia ser duplicada, subindo de 53 mil
hectares irrigados para mais de 100 mil.
A questão é que, como em outros municípios, o desenvolvimento
econômico de Cristalina esbarra na burocracia e nos gargalos de Infraestrutura.
"Nós estamos nos esforçando para duplicar a área
irrigada no Brasil, passar dos 5 milhões de hectares para 10 milhões. Isso
geraria 8 milhões de empregos diretos e indiretos e incremento de R$ 17,5
bilhões no PIB Agrícola. Mas travamos nas outorgas e na estrutura",
explica Og Arão, secretário executivo do Instituto da Confederação Nacional da
Agricultura (CNA).
Rede precária.
Entre as principais queixas dos produtores locais, está a
energia elétrica, força motriz do pivô: falta o serviço e ele oscila
constantemente. Em 10 anos, a área irrigada dobrou e quase nada foi feito para
modernizar a rede elétrica. Para todos os moradores poderem tomar banho sem o
chuveiro cair de fase e, de uma hora para outra, ficar gelado, os agricultores
evitam ligar os pivôs das 18h às 21h.
Quem usa o equipamento paga caro por
isso. Para compensar, a Companhia Energética de Goiás (Celg) instituiu a tarifa
verde. Os agricultores que ligam os pivôs das 21h às 6h pagam menos pelo uso da
força. A esperança era a Usina Batalha, que deve ser construída entre
Cristalina e Paracatu (MG).
A nova hidrelétrica produzirá 57 kVA. Porém, a área
a ser inundada será a mesma que os agricultores esperavam para aumentar a
irrigação na cidade. "No fim, vai atrapalhar o aumento da potencialidade
de irrigação na cidade", lamenta João Cruber, gerente administrativo da
fazenda Hayashi Batatas.
"Temos a subestação de Luziânia (GO), o que precisamos é
investimento em linhas de transmissão.
Com 70km de linha, nosso problema imediato estaria
resolvido", afirma Renato Caetano, presidente da Associação de Agrônomos
de Cristalina. Enquanto a linha não é construída, a saída é ter geradores. A
fazenda Hayashi Batatas conta com três para manter os laboratórios de pesquisa
em melhoramento e o lavador de batata.
A Vera Cruz tem um. "Se eu ficar
sem energia, perco a produção de leite. No começo, eu ligava para a Celg e a
atendente me falava que não tinha previsão. Eu ficava preocupado porque poderia
perder toda a produção", conta o proprietário da Vera Cruz, Enilton
Kennedy.
Ele diz ainda que as máquinas agropecuárias possuem
dispositivos para desligarem em caso de oscilação de modo que os motores não
queimem. "Aí, precisa do gerador para manter o equipamento sempre
ligado", complementa.
O prefeito de Cristalina, Luiz Attie, informou que a
prefeitura e a Celg firmaram um convênio para a duplicação da linha de
transmissão que vem da Usina de Rio Vermelho. Com isso, a rede atual passará de
53 kVA para 98 kVA.
A obra deve começar em fevereiro de 2014 e será entregue em
novembro do mesmo ano. O Correio entrou em contato com a Celg para saber sobre
o problema de energia elétrica na região de Cristalina, mas não obteve resposta
até o fechamento da edição.
Correio Braziliense, 3 de setembro de 2013
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