A
crise de cada um
A
reação dos políticos e partidos envolvidos mostra que eles não têm noção do que
se passa no país
Perguntei aos ouvintes
da CBN: como a crise afeta sua vida, seus negócios? Como tem reagido? Que boa
notícia espera, considerando que a presidente Dilma quer que seus assessores
saiam pelo país com uma agenda positiva?
Eis algumas respostas.
Delas sai uma visão de conjunto.
Pegando pesado:
“Aposentado no serviço
público, voltei a pegar bico em topografia e desenho de arquitetura de imóveis
para regularizar Habite-se. Meu filho já quase não dorme. É médico, fica
dobrando plantão". Guilherme, Juiz de Fora
“Trabalho com
manutenção e assistência técnica de celular . Isso está em alta. Mas à noite
trabalho de inspetor num colégio estadual e, nas horas vagas da madrugada e
finais de semana, trabalho de taxista". John Lennon, João Pessoa, Paraíba
“Ressuscitei uma velha
máquina de fazer laços e enfeites. Sou técnico em eletroeletrônica e professor
de matemática. Conserto tudo e estou oferecendo aulas particulares".
Nilson Gabriel, S.Paulo
Viração:
“Entrei para o mercado
publicitário. Estou produzindo e vendendo ímãs de geladeira para pequenas
empresas e produtos para festas. Comprei máquina de corte e impressora".
Nelson França, Itaboraí-RJ
“Trabalho com
fotografia e para não perder clientes procurei facilitar o pagamento em mais
parcelas ou dar um desconto para pagamento à vista. No dia a dia, minha família
e eu temos procurado poupar energia e água para reduzir os gastos. Até para ir
ao cinema pensamos duas vezes. A boa notícia que queria ouvir é que o número de
ministérios seria diminuído e os senadores não ganhariam aposentadoria a cada
gestão". Bruna Verrati, S. Paulo
Cortando gastos,
preservando escola das crianças:
“(Precavido), estou com
quatro empregos desde 2011. Vendi o carro e uso transporte público. Não janto
mais fora de casa. No supermercado, cortei todos os supérfluos. Apenas não
cortei os gastos com a educação de minhas filhas. E investigo a vida dos
políticos antes do voto". William, engenheiro, S. Paulo
As mulheres no ajuste
doméstico:
“Me sinto um Levy de
saias. Cortamos o excesso de luzes acesas, velas são lindas e funcionais,
jamais comemos fora nem mesmo o usual expresso da esquina, roupas usadas estão
ótimas. Cortar futilidades, investir em educação". Maria Rocha
Mau exemplo:
“Cortamos uma série de
gastos (até tevê por assinatura). Mas ver a quantidade de ministério, de
impostos pagos sem retorno e a corrupção... desanima qualquer um".
Adelaide Soares, S.Paulo
Quando o governo ajuda:
“Trabalho com
manutenção e vendas de extintores de combate a incêndio. Para arrecadar mais, o
governo (passou a exigir) atestado do corpo de bombeiros, que cobra das
empresas. Assim, as empresas precisam ter extintores carregados ou novos".
José Severino, Pernambuco
Quando o governo
atrapalha:
“Trabalho em empresa
pública. Gostaria de ouvir um ministro dando a notícia que os cargos
comissionados, que servem ao loteamento dos partidos, seriam extintos. Isso
diminuiria muito a despesa da empresa que eu trabalho e de muitas outras".
Ricardo, Brasília
Desânimo:
“Sou sócia de uma
distribuidora de bebidas. No começo do ano tinha dois motoristas e dois
ajudantes, mas tive que demiti-los. Hoje tenho uma funcionária no escritório e
uma nos serviços gerais. Mas vou encerrar as atividades em outubro. Estou
desencantada". Elizabeth Carvalho, Manaus
Pegando no pé:
“Aos trancos e
barrancos, tenho um loja de livros usados há 20 anos. Eu e meu filho estamos
economizando até no pão. Não posso conversar com meu filho porque ele diz que
sou culpada por ter votado no PT". Dulcinéia, Belo Horizonte
No batente:
“Tenho uma pequena
oficina de metal mecânica. Driblar a crise tem sido um desafio. Mas passamos a
vender no varejo on line, inclusive pequenas ferramentas. Desenvolvendo novos
produtos, continuo na luta. E como se diz na CBN, segunda-feira, todo mundo
trabalhando." Donisete Silva.
Resumo geral: as
pessoas sentem a crise na sua vida e nos seus negócios. E tentam reagir na base
do esforço pessoal, sem depender do governo. Melhor dizendo, apesar do governo.
Diante da pergunta —
que boa notícia espera de Brasília? — foi incontável o número de respostas
simples: que caiam fora, todos.
É geral a irritação com
os maus exemplos. Ouvintes e leitores sentem-se ofendidos com os três carros de
luxo apreendidos na casa de Collor. Acham o fim da picada os reajustes que
vereadores se concedem e as vantagens que se atribuem. Citam os 39 ministérios
como um grande absurdo. E ninguém acredita que o governo não tem onde cortar
gastos.
Lava-jato tem apoio
universal.
A reação dos políticos
e partidos envolvidos mostra que eles não têm noção do que se passa no país.
Nem sentem a crise, nem veem como o pessoal se mata para superá-la.
Carlos Alberto
Sardenberg é jornalista
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