Oh, será o “Dia da Marmota”, o filme?
Dez anos depois, estamos de volta àquele 2005, quando os companheiros, então,
procuraram tucanos, para falar das inconveniências do impeachment de Lula? No
ano seguinte, o petista venceu a reeleição. Em 2010, o PT venceu de novo. E, em
2014, outra vez, tendo sempre como uma de suas bandeiras a suposta herança
maldita dos… tucanos!
Reportagem da Folha desta
quinta informa que o ex-presidente petista encarregou amigos comuns, seus e de
FHC, de marcar uma conversa com o ex-presidente tucano para debater a crise e…
ora vejam!, conter o impeachment de Dilma. Logo, tudo indica, o Babalorixá de
Banânia vê mesmo no horizonte o impedimento da presidente. Sabem como é… Quem
tem PT tem medo.
Oficialmente, o Instituto Lula nega
essa movimentação e diz que o petista nem mesmo tem a intenção de conversar com
FHC. Informa, no entanto, a reportagem que, em off, nos bastidores, a abordagem
existe mesmo.
Ouvido pelo jornal, respondeu o tucano o seguinte: “O presidente
Lula tem meus telefones e não precisa de intermediários. Se desejar discutir
objetivamente temas como a reforma política, sabe que estou disposto a contribuir
democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de conhecimento público”.
Boa resposta. Aliás, o encontro poderia
se dar, deixem-me ver, no Itaquerão, com portões e microfones abertos e telão.
Aí a gente poderia saber, afinal, que diabos Lula gostaria de conversar com
FHC. Seria de todo conveniente, claro!, que os tucanos não caíssem nessa
cascata. A melhor relação que um partido de oposição pode manter com o PT é a
distância. O espaço institucional da convivência é o Congresso Nacional, certo?
Esse papo de encontro é um dos
desdobramentos da tese bocó da crise institucional que estaria em curso e que
poderia se tornar aguda com o eventual impeachment de Dilma. Diga-se de novo:
a) não há crise institucional nenhuma; há uma crise política, uma crise econômica e uma crise de confiança;
b) o eventual impeachment de Dilma seria seguido por um suspiro de alívio de praticamente dois terços da população; o outro terço compreenderia.
Nota antes que continue: não, eu não
acho que se deva impichar um presidente só porque a maioria quer. Há leis no
país. Ocorre que considero que leis que levam ao impedimento foram violadas.
Que tal deixar que o sistema jurídico e as regras da democracia se encarreguem
do assunto? Lula julga estar no Afeganistão? Acha que uma crise pode ser
debelada com o encontro de senhores da guerra e chefes de tribos, que
decidirão, então, os rumos da nação?
Basta ler a reportagem de Daniela Lima,
Marina Dias e Ricardo Balthazar para concluir, ademais, que os petistas estão é
tentando levar a sua própria confusão para dentro do PSDB, listando tucanos que
seriam e que não seriam “conversáveis”.
Dilma ganhou uma eleição há nove meses
com uma determinada pauta. E governa há sete. Se não pode cumprir o que
prometeu e se aderiu a todas as práticas que demonizou durante a campanha —
algumas delas corretas, diga-se —, ela que se vire. Afinal, é presidente da
República e tem responsabilidade política.
Houvesse realmente o risco de o país ir
à breca com a sua eventual saída, ok. Então que se conversasse. A política
também serve ao propósito de evitar o mal maior. Ocorre que o mal maior é a
presidente ficar, não sair, como sabem hoje amplos setores da sociedade.
O
episódio patético do superávit primário dá conta da encalacrada em que se meteu
o governo. A pergunta que requer uma resposta mais urgente não é o que vai
acontecer com o Brasil se Dilma sair, mas o que vai acontecer se ela ficar. Um
governo que reduz a previsão de superávit primário em 86,36% depois de cinco
meses está absolutamente perdido.
Sei que os petistas têm dificuldades
para entender como funciona a democracia. Mas eu lembro a eles. Nos regimes
democráticos, a oposição também é eleita pelo povo. Eleita, no caso, para
vigiar o governo e cobrar que se comporte segundo as regras.
Lula quer conversar? Ora, se Rodrigo
Janot lesse direito a Constituição, as pedaladas fiscais dadas por Dilma no
primeiro mandato já teriam motivado uma denúncia à Câmara, não é mesmo? Afinal,
elas contribuíram para a mistificação dos números. Em 2014, coube a Aécio lembrar
os rigores da crise. Dilma anunciava, como é mesmo?, uma nova etapa do
desenvolvimento brasileiro.
Eu estou querendo fazer terceiro turno?
Eu não! Quero apenas que essa gente responda por sua obra. Já disse e repito:
as pedalas fiscais também foram uma forma mais do que escancarada de crime
eleitoral. Que se cumpram as leis. Sem papo furado!
De resto, acho bom que Lula comece a se
preocupar mais consigo mesmo do que com Dilma. Ele não está em posição de
negociar nada. A depender do que venha por aí, ele vai ter de pedir arrego,
sim, mas é em seu próprio benefício.
Assim falou “RA”, “o blogueiro
falastrão”, segundo a gentil denominação com que Lula me brindou. E eu me
orgulho muito disso.
Por Reinaldo Azevedo
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