Três mitos sobre o capitalismo no
discurso do papa
Veja - Leandro Narloch - O caçador de
mitos
O papa Francisco
deu um discurso claramente anticapitalista ontem na Bolívia. Defendeu mudanças
estruturais contra a “ditadura sutil” das forças do mercado. “Reconhecemos que
este sistema impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão
social ou na destruição da natureza?”, disse ele. Há na fala do papa pelo menos
três mitos frequentemente repetidos sobre o capitalismo. Estes aqui:
“O capitalismo destruiu a natureza”
A princípio parece
difícil de discordar do papa. Da Revolução Industrial do século 19 até a China
dos dias de hoje, o avanço das fábricas cria nuvens negras nas cidades. O que
pouco se diz é que só depois de um certo nível de prosperidade (criada pelo
capitalismo) surge a preocupação dos cidadãos com o meio ambiente.
Isso fica claro com
o seguinte dilema. Imagine o leitor que está à beira de morrer de fome e
consegue caçar um pato. Mas tem um problema: trata-se de um animal em extinção,
talvez o último sobrevivente daquela espécie rara de pato. Quem preza pela
própria vida até lamentaria o fim da espécie, mas comeria o infortunado pato
sem pensar demais. Já se o leitor está de barriga cheia, fica mais fácil poupar
o animal. Do mesmo modo, só países enriquecidos pelo
capitalismo podem se dar ao luxo de se importar com a natureza.
Os economistas
chamam esse fenômeno de “curva ambiental de Kuznets”. Quando um país atinge a
marca de 4 mil dólares de renda per capita, a ecologia entra na agenda pública.
Florestas, animais, ar e rios limpos ganham relevância. Mais uma vez é o
exemplo da China, que agora, mais rica, luta para despoluir as cidades. Países
comunistas (de verdade, não como a China hoje) nunca chegaram a esse nível de
renda – não à toa, avançaram sobre a natureza com muito mais força que os
capitalistas.
“O capitalismo nos tornou egoístas”
Bem, seria preciso
encontrar um modo de medir o egoísmo em diferentes épocas. Parece impossível –
ou seja, a opinião do papa é frágil. Também sem provas ou medições, poderíamos
supor o contrário. Assim como a prosperidade possibilitou a preocupação com a
natureza, facilitou a caridade e a preocupação com o próximo. Aqui também vale
um exemplo. Se o leitor tem três sacos de batata em casa, e vai precisar de
todos os três nos próximos meses, fica difícil doar um deles. Mas se o estoque
conta com vinte sacos de batata, destinar alguns aos pobres se torna barato. O
capitalismo de massa, ao possibilitar a abundância, barateou a caridade – e deu
força a outras lógicas, além da “lógica do lucro” do discurso do papa. Estão aí
os grandes bilionários do mundo, como Bill Gates, que doa mais da metade da sua
fortuna, para provar que é mais fácil ser caridoso quando rico. Como diz
Deirdre McCloskey, da Universidade de Chicago, “o capitalismo não corrompeu a
natureza humana – pelo contrário, ele a melhorou”.
“O capitalismo exclui os mais pobres”
Antes do
capitalismo industrial, quatro em cada dez pessoas morriam ou durante a
gestação ou até completar 15 anos. Crises de fome ceifavam 10% a 15% da
população pelo menos uma vez por século. Vestidos e casacos, de tão caros,
apareciam em testamento como herança. Quase todos os gordos eram ricos, mas só
os ricos tinham comida de sobra. Quem ingeria 900 calorias por dia
poderia se considerar sortudo – hoje temos que nos esforçar para ingerir menos
que 2400 calorias. A altura média dos homens passou de 1,68 metro (em
1700) para 1,77 hoje. Desculpa, caro papa Francisco, (...) não foi o
capitalismo que excluiu os pobres, e sim a falta de capitalismo.
*****
Obs. A Igreja condena
o comunismo como intrinsecamente mau. "O
comunismo é intrinsecamente mau, e não se pode admitir, em campo algum, a
colaboração recíproca, por parte de quem quer que pretenda salvar a Civilização
Cristã." (Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Divini Redemptoris, de
19 de março de 1937) O capitalismo é legítimo pois respeita o
direito de propriedade e a livre iniciativa, mas é condenável nos seus abusos.
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