... Invasão a
hotel de luxo foi para 'dar Ibope'
"Excuse
me, please", disse o cacique Val Tupinambá, 35, ao pegar o telefone do
escritório da FUNAI, no centro antigo de Ilhéus
(BA), para fazer ligações a políticos.
Era
tarde da última quinta-feira e ele pedia passagens aéreas para viajar a
Brasília.
Quatro
dias antes, havia comandado a invasão de 70 tupinambás a um hotel de luxo na
vizinha Una, no sul da Bahia, com praia privativa e diárias acima de R$ 1.000.
Apesar
dos telefonemas, Val (ou Valdenilson Oliveira dos Santos) ficou sem passagens,
já que não prestou contas de uma viagem anterior.
Candidato
derrotado a vereador nas últimas duas eleições (primeiro pelo PC do B e depois
pelo PDT), ele vestia calça jeans e camiseta da grife Osklen, marca que mantém
uma loja no hotel invadido.
Ainda
no escritório da Funai, repetia que precisava checar os e-mails e, pelo
celular, pedia aos tupinambás que se preparassem com seus "adereços"
para a visita daFolha à tribo naquela noite.
Val
brinca: "Está tudo índio". Ele é professor de uma escola indígena e
dono de um restaurante de beira de estrada no qual uma moqueca de peixe sai por
R$ 15.
Diante
da reportagem, os telefonemas continuam. Num deles explica o motivo da invasão
ao hotel de luxo.
"Foi para dar uns Ibope, né, para ver se o ministro [da Justiça] nos recebia", disse. "Mas não foi aquela farra que ficou parecendo, viu?", completou.
Os
indígenas pedem pressa ao governo federal no processo de demarcação de uma
terra indígena na região. A invasão ocorreu justamente para chamar a atenção do
Planalto à demanda.
Na
região de Ilhéus vivem cerca de 8.000 tupinambás...
"Ainda
estamos contabilizando os prejuízos. Houve saques de bebidas alcoólicas,
roupas, duas pranchas de surfe e oito TVs, além de danos a estruturas físicas
do empreendimento", diz Arthur Bahia, sócio do hotel.
NELSON BARROS NETO
ENVIADO ESPECIAL da Folha de São Paulo
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