Pelo futuro da Embrapa
Criada há 40 anos
com a missão de gerar tecnologias para modernizar a agricultura brasileira, a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve papel decisivo nas
imensas transformações pelas quais passou o setor.
As inovações tecnológicas produzidas por seus pesquisadores foram
fundamentais para aumentar e diversificar as exportações, reduzir o preço dos
alimentos e impulsionar o crescimento da indústria brasileira.
Os benefícios para os moradores das cidades foram enormes. Em 40 anos, a
safra de grãos no Brasil quadruplicou e o preço da cesta básica caiu pela
metade.
A agricultura brasileira produz, por ano, o suficiente para alimentar
mais de 1 bilhão de pessoas e gera excedentes que, exportados, ajudam a manter
o saldo comercial do País, mesmo em anos de baixo crescimento, como 2012.
O faturamento anual da indústria associada à agricultura ultrapassa R$
500 bilhões.
A Embrapa é também reconhecida pela gestão eficiente de seus recursos
humanos e financeiros. Seu balanço social, em 2011, mostrou lucro de R$ 17,8
bilhões. Ele foi apurado com base nos impactos de uma amostra de 114
tecnologias e 163 cultivares desenvolvidos pela empresa e transferidos para a
sociedade. Cada real aplicado na Embrapa pela sociedade retorna multiplicado
por 8,6.
Erros de gestão e direcionamento, no entanto, igualmente marcaram a
história da Embrapa, bem como algumas indicações desastradas em sua diretoria e
em gerências de suas unidades.
Desmandos e equívocos, como os ocorridos em algumas de suas unidades de
pesquisa, foram apontados pelo Estado. Mas os maiores problemas vieram de fora.
Ao longo dos anos, decisões governamentais limitaram sua agilidade na
contratação de pessoal e no uso de seus recursos e burocratizaram ao extremo a
gestão da pesquisa.
Hoje, o orçamento da Embrapa é insuficiente e seus projetos sofrem
falhas de continuidade. Como em qualquer instituição científica, seu processo
de geração e adaptação de tecnologias implica investimentos volumosos em
pesquisa aplicada e fundamental.
Para ser competitiva, no longo prazo, a Embrapa necessita de recursos
que lhe assegurem condições de enfrentar seus principais competidores
internacionais. Os países desenvolvidos investem cerca de 3% do PIB
agropecuário em pesquisa, ante 1,5% do Brasil.
A Embrapa precisa de um mecanismo para dinamizar sua relação com o setor
produtivo e com o mercado de inovação tecnológica. A solução não está na
abertura do capital, como propõem alguns políticos, mas, sim, e em parte, na
abertura de uma subsidiária.
Já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado projeto
de lei que cria a Embrapa Tecnologias S.A. (Embrapatec), subsidiária da
Embrapa. Essa iniciativa deverá ser um passo novo e estratégico para o futuro
da agricultura brasileira.
A Embrapatec, uma sociedade por ações de capital fechado, poderá
comercializar tecnologias, produtos e serviços gerados pela Embrapa, explorar
suas marcas e aplicar recursos em investimentos e custeio da pesquisa agrícola.
Terá a agilidade que o mercado exige e poderá obter os recursos de que a
pesquisa precisa.
A Embrapa é também uma federação de redes. Suas unidades refletem os
diversos elos da agricultura e pecuária em todos os sentidos: social, econômico
e político.
A empresa pretende ampliar sua atuação na África e na América Latina e
ainda não tem uma atuação estruturada nas mídias sociais. Isso tanto no aspecto
da interação e da articulação das suas próprias células quanto em sua relação
com seu mercado atual e os que pretende conquistar.
Sem uma visão de futuro da agricultura e da sociedade, não há como
definir os novos rumos da Embrapa.
Suas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação devem estar voltadas
para os grandes desafios nacionais, em sintonia com as demandas da
agropecuária, e buscar maior atuação em redes acadêmicas, econômicas e sociais.
Não basta admirar a Embrapa e elogiar suas realizações. É necessário
dar-lhe os meios para prosseguir seu trabalho, com sucesso, por mais 40 anos.
Fonte: O Estado de São Paulo, 24 de abril de
2013 - Editorial
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