quarta-feira, 24 de abril de 2013

Nossa agricultura alimenta 1 bilhão de pessoas



Pelo futuro da Embrapa

Criada há 40 anos com a missão de gerar tecnologias para modernizar a agricultura brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve papel decisivo nas imensas transformações pelas quais passou o setor.
As inovações tecnológicas produzidas por seus pesquisadores foram fundamentais para aumentar e diversificar as exportações, reduzir o preço dos alimentos e impulsionar o crescimento da indústria brasileira.
Os benefícios para os moradores das cidades foram enormes. Em 40 anos, a safra de grãos no Brasil quadruplicou e o preço da cesta básica caiu pela metade.
A agricultura brasileira produz, por ano, o suficiente para alimentar mais de 1 bilhão de pessoas e gera excedentes que, exportados, ajudam a manter o saldo comercial do País, mesmo em anos de baixo crescimento, como 2012.
O faturamento anual da indústria associada à agricultura ultrapassa R$ 500 bilhões.
A Embrapa é também reconhecida pela gestão eficiente de seus recursos humanos e financeiros. Seu balanço social, em 2011, mostrou lucro de R$ 17,8 bilhões. Ele foi apurado com base nos impactos de uma amostra de 114 tecnologias e 163 cultivares desenvolvidos pela empresa e transferidos para a sociedade. Cada real aplicado na Embrapa pela sociedade retorna multiplicado por 8,6.
Erros de gestão e direcionamento, no entanto, igualmente marcaram a história da Embrapa, bem como algumas indicações desastradas em sua diretoria e em gerências de suas unidades.
Desmandos e equívocos, como os ocorridos em algumas de suas unidades de pesquisa, foram apontados pelo Estado. Mas os maiores problemas vieram de fora.
Ao longo dos anos, decisões governamentais limitaram sua agilidade na contratação de pessoal e no uso de seus recursos e burocratizaram ao extremo a gestão da pesquisa.
Hoje, o orçamento da Embrapa é insuficiente e seus projetos sofrem falhas de continuidade. Como em qualquer instituição científica, seu processo de geração e adaptação de tecnologias implica investimentos volumosos em pesquisa aplicada e fundamental.
Para ser competitiva, no longo prazo, a Embrapa necessita de recursos que lhe assegurem condições de enfrentar seus principais competidores internacionais. Os países desenvolvidos investem cerca de 3% do PIB agropecuário em pesquisa, ante 1,5% do Brasil.
A Embrapa precisa de um mecanismo para dinamizar sua relação com o setor produtivo e com o mercado de inovação tecnológica. A solução não está na abertura do capital, como propõem alguns políticos, mas, sim, e em parte, na abertura de uma subsidiária.
Já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado projeto de lei que cria a Embrapa Tecnologias S.A. (Embrapatec), subsidiária da Embrapa. Essa iniciativa deverá ser um passo novo e estratégico para o futuro da agricultura brasileira.
A Embrapatec, uma sociedade por ações de capital fechado, poderá comercializar tecnologias, produtos e serviços gerados pela Embrapa, explorar suas marcas e aplicar recursos em investimentos e custeio da pesquisa agrícola. Terá a agilidade que o mercado exige e poderá obter os recursos de que a pesquisa precisa.
A Embrapa é também uma federação de redes. Suas unidades refletem os diversos elos da agricultura e pecuária em todos os sentidos: social, econômico e político.
A empresa pretende ampliar sua atuação na África e na América Latina e ainda não tem uma atuação estruturada nas mídias sociais. Isso tanto no aspecto da interação e da articulação das suas próprias células quanto em sua relação com seu mercado atual e os que pretende conquistar.
Sem uma visão de futuro da agricultura e da sociedade, não há como definir os novos rumos da Embrapa.
Suas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação devem estar voltadas para os grandes desafios nacionais, em sintonia com as demandas da agropecuária, e buscar maior atuação em redes acadêmicas, econômicas e sociais.
Não basta admirar a Embrapa e elogiar suas realizações. É necessário dar-lhe os meios para prosseguir seu trabalho, com sucesso, por mais 40 anos.
Fonte: O Estado de São Paulo, 24 de abril de 2013 - Editorial

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