de Jacinto Flecha
CAPIVAROL SEM AMBIENTALISTAS
Quem viveu
em cidades grandes na época do bonde deve lembrar-se de algumas propagandas
afixadas no interior desses desajeitados veículos, com versos facilmente
memorizáveis. Melhor dizendo, obrigatoriamente memorizáveis, pois lidas e relidas
diariamente.
Cito de memória esta, de uma loja que vendia bilhetes de loteria
em Belo Horizonte: Cansado de andar “de
tanga” / Um dia a gente se zanga / E sai, danado da vida / Mas logo “cava”
dinheiro / Comprando um bilhete inteiro / No Campeão da Avenida. Outra,
cujo âmbito de circulação não se limitava à capital mineira, enaltecia as
virtudes terapêuticas de um produto para males dos pulmões: Veja, ilustre passageiro / O belo tipo
faceiro / Que o senhor tem a seu lado / Mas, no entanto, acredite / Quase
morreu de bronquite / Salvou-o o Rhum Creosotado.
Esses
artifícios de propaganda chamavam a atenção de todos. Não sei se ajudavam a
vender, pois nunca me convenceram a comprar o artigo do Campeão da Avenida, nem
usar o Rhum Creosotado. Mas eram pelo menos divertidos.
Outro
artifício da propaganda eram os almanaques. Devem ter dado bom resultado nas
vendas, pois precisavam compensar o custo dos milhões de exemplares
distribuídos gratuitamente em todo o Brasil. Eram brochuras pequenas, contendo
muitas informações úteis e instrutivas.
Não a ponto de garantir um diploma
universitário, nem era essa a sua função. Há quem guarde ainda hoje, com
carinho, coleções preciosas desses almanaques, e se deliciam em mostrá-las aos
amigos.
Calma,
leitor! Já estamos perto do meu alvo de hoje. Mas antes de tratar dele, preciso
referir-me a um dos almanaques mais famosos – o do Capivarol. Não me lembro
especificamente de informações colhidas nas várias edições que manuseei, mas
certamente elas se incorporaram ao meu acervo cultural, enriquecendo-o
difusamente com essa “cultura de almanaque”.
O Capivarol deixou de ser
fabricado, provavelmente devido à proibição da caça. E assim os ambientalistas
radicais privaram a população de um produto presumivelmente terapêutico, e também
do seu famoso almanaque. Mas a minha bronca é estar impedido de consumir a
carne de capivara.
Chegamos, afinal.
E já estou percebendo o focinho torcido de algum ambientalista extraviado, que
chegou até aqui atraído pelo título desta crônica. Para cortar pela raiz
qualquer patrulhamento ideológico, deixo claro que há muito tempo não tenho o
prazer de caçar capivaras e comer sua carne, da qual tenho irreprimível
saudade.
Se não proliferassem atualmente ambientalistas insensatos, capazes de
proibir liminarmente a caça de animais predadores como javali, lobo e capivara,
eu faria a esses leitores extraviados o convite para uma caçada de capivaras,
durante a qual demonstraria também minhas habilidades com arco e flecha.
Concluída a caçada, teríamos um banquete com carne de capivara.
Não
consigo entender que ambientalistas radicais se empenhem na insensata proibição
da caça de animais predadores, sem estabelecer medidas práticas para evitar
efeitos indesejáveis como a superpopulação. Muitos desses efeitos já são
patentes no Brasil e em outros países. Menciono alguns deles, apenas como
exemplos:
• Lobos – Sempre
foram animais predadores, prejudiciais e perigosos, a ponto de os contos de
fada alertarem as crianças contra o “lobo mau”. Apesar de regularmente caçados,
nunca foram eliminados. Agora estão livres para os estragos que costumam fazer,
e não são poucos os prejuízos que vêm causando.
• Elefantes – A
caça desses graciosos e esbeltos bibelôs, cuja alimentação diária atinge 120
quilos, foi proibida para inibir os negociantes de marfim. Os bibelôs se
multiplicaram, e hoje sua módica dieta devasta grande parte das savanas
africanas.
• Javalis –
Parente próximo do porco, esta espécie selvagem é perigosa e agressiva,
inclusive para o homem. Proibida a caça, está livre para dizimar animais de
criação.
• Lebre europeia
– Sua multiplicação rápida inviabiliza o cultivo de hortaliças, maracujá,
laranja e café. É predador dos coelhos nativos.
• Maritacas –
Aves conhecidas como “ratos voadores”, causam danos a diversos cultivos, como
sorgo, girassol, frutas e grãos; e destroem a fiação elétrica.
• Raposas –
Sempre eram caçadas, para proteger os animais de criação, e a proibição da caça
está tornando impossível muitas dessas atividades.
• Capivaras –
Destroem a vegetação e disseminam doenças mortais, mas a lei ambiental
tornou-as intocáveis.
• Ambientalistas
– Predadores de grande porte e curta inteligência, muito protegidos pela mídia.
Refugiam-se em ONGs, malocas dos governos mundiais, e se alimentam com
voracidade nos incentivos fiscais. Manipulam teorias catastrofistas contra o
progresso, impedem pesquisas científicas, retardam e encarecem obras
necessárias.
A esta altura da
sanha ambientalista contra a caça, não faltam capivaras para fabricar Capivarol
e satisfazer minhas preferências gastronômicas. Mas antes será preciso promover
uma caçada sistemática a ambientalistas radicais e insensatos...
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