Crise externa e inflação
... Dilma voltou a afirmar que a escalada da inflação tem duas causas: a crise global e
a seca.
Errar uma vez é coisa da vida. Mas insistir no erro é
incompreensível.
Não há como apontar a crise mundial como produtora da inflação nacional. Há
cinco anos, os preços nos países industrializados estão oscilando entre zero e
três por cento ao ano, como se pode conferir no gráfico abaixo.
O grande risco
temido pelos grandes bancos centrais não é a inflação, mas a deflação.
Temem a
deflação porque ela derruba a arrecadação, aumenta automaticamente o
endividamento e tende a criar ainda mais recessão porque empresas e famílias
procuram adiar as compras, uma vez que esperam preços mais baixos à frente.
Se há pressão externa sobre os preços internos é de baixa, e não de alta. As
cotações das commodities vêm mergulhando há três anos e as do petróleo, há um
ano.
Apenas para manter no ar o argumento escapista, a presidente Dilma alega
que a iminência da alta de juros nos Estados Unidos provocou a alta do dólar no
câmbio interno, fator que encareceu em reais os produtos importados.
Essa também é uma desculpa sem pé nem cabeça. A alta do dólar no câmbio
interno foi provocada pela suspensão dos leilões de swap cambial, operações que
correspondem à venda de dólares no mercado interno.
Essa suspensão ocorreu não
para enfrentar os efeitos da reversão das operações de despejo de dólares pelo
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), mas para realinhar
as cotações do câmbio aos preços externos.
E esse realinhamento teve de ser
colocado em marcha porque o câmbio ficou valorizado demais pela administração
anterior, que manteve a cotação do dólar excessivamente barata como instrumento
artificial de contenção dos preços.
Sobre a outra insistência, a de que a seca é o outro fator que produz
inflação, nem vale a pena ir mais fundo. No final do ano passado e início
deste, a atropelada dos preços do tomate e da cebola, por exemplo, foi
explicada como efeito da seca.
Depois choveu, os preços continuaram disparando
e a explicação é a de que subiram porque choveu. A Califórnia enfrenta há meses
uma estiagem feroz e, no entanto, ninguém nos Estados Unidos culpa a seca pela
alta dos preços.
A inflação do Brasil só tem uma explicação: as lambanças do primeiro governo
Dilma. O governo gastou demais como estratégia para ganhar as eleições, a
infraestrutura foi sucateada, a indústria foi desidratada, o investimento
despencou, o sistema elétrico foi desarticulado, o salário cresceu muito acima
do aumento da produtividade.
No Brasil ainda há quem engula lorotas articuladas por autoridades do
governo. Mas repetir esse discurso na Europa pega mal porque, além das mazelas
na condução das políticas, expõe a falta de honestidade do governo.
Apesar da argumentação capenga, a presidente Dilma pelo menos reconheceu que
as coisas têm de mudar: "O Brasil não pode conviver com uma inflação
alta", afirmou em Bruxelas. Menos mau. É esperar para ver.
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