Um capítulo da história recente
Estamos vivendo um momento histórico. Voltamos àquelas
antigas reuniões do CEBRAP, quando um sociólogo e cientista político da USP
chamou para um cafezinho o líder sindical dos metalúrgicos do ABC com um plano inovador
para implantar o socialismo no Brasil.
"Esqueça a guerrilha", disse o sociólogo. "Se
quisermos implantar o socialismo no Brasil, precisamos fingir que nos opomos,
que somos contrários um ao outro. Quem não quiser votar em você, votará em mim,
e vice-versa. No fim das contas, pensando que estão votando numa oposição, eles
estarão sempre escolhendo o mesmo projeto".
Foi naquele dia que FHC e Lula se tornaram amigos para
sempre. No abraço trocado, no aperto de mãos selado, estavam os próximos 30
anos da política no Brasil. Eles sabiam que, ao sair dali, precisavam fundar o
PT e o PSDB, precisavam fazer nascer a esquerda da esquerda e a direita da
esquerda, para que os brasileiros, no fim das contas, enganados, permanecessem
sempre votando na esquerda. Foi o primeiro estelionato eleitoral de grandes
proporções da nova democracia brasileira por nascer.
Hoje vivemos um momento histórico porque os dois inimigos
fingidos precisaram novamente unir forças. O projeto de manter sempre a
esquerda no poder pela estratégia de uma luta de mentirinha, acobertada por um
acordo de cavalheiros, está falhando.
Há meses não se escuta uma palavra sequer dos petistas
contra FHC. Há meses também FHC se esforça desesperadamente para salvar o PT e
defender Dilma Rousseff do perigo do impeachment (defendê-la até contra a nova
guarda de seu próprio Partido).
Os fingidos inimigos precisaram interromper o disfarce
porque o seu projeto socialista de poder encontrou, novamente, um inimigo
comum. Mas desta vez não são os militares; desta vez é uma força maior e
inabalável: todo o povo brasileiro.
O abraço de FHC e Lula décadas atrás é o mesmo abraço de
hoje.
E é com este abraço que, entre idiotas úteis confusos e
crédulos naquela briga disfarçada, ambos se afogarão na fúria inevitável do
turbilhão popular.
Juntos. Como tudo começou.
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